
Tavinho Moura afina o violão antes de cantar a canção “Paixão e Fé”: compromisso permanente de buscar sempre o melhor para compartilhar com os fãs (Fotos: Marcelino Lima)
Tavinho Moura já estava em ação há pelo menos 25 minutos quando antes de começar com Fernando Brant a cantar “Paixão e Fé”, afinou o violão. Corria novembro de 2013 e ambos dividiam apresentação na Biblioteca Municipal Alceu Amoroso Lima, situada no bairro Pinheiros, em São Paulo. Pois é! Tavinho canta e toca faz tempo está canção do qual é autor (consagrada também na voz de Milton Nascimento) que nos deixa a impressão que ao inscrevê-la para o repertório seria simples assim: bastaria na hora pegar o violão e vapt, vupt, a música soaria organicamente, como o ato de respirar!
Mas, não, não é fácil. Ou pode até ser, mas não é deste jeito que se apresenta uma obra-prima; se o autor destas linhas escrevesse um tratado do tipo “Cem músicas que você precisa ver em ação antes de morrer”, esta joia estaria indicada. Aqui em Sampa, mesmo que a tocasse de improviso, sem temperar o instrumento, duvido que não acertaria no ângulo. O mineiro de Juiz de Fora sabe, entretanto, que aqueles diante de si, sentados em suas poltronas, merecem esmero e o máximo de respeito; afinal, são parte dos fãs que o ajudaram a atingir a merecida fama e expressão no cenário nacional que até poderia ser maior um pouquinho…
É, ô, louco, meu: ao ver Tavinho afinando as cordas com tanta paciência e carinho lembrei-me no ato que esta pobre nação segue aplaudindo e acabara de dar prêmios categorizados para garotos e dublês de cantoras; meninos vaidosos que, se não são topetudos, adoram de vez em sempre aparecer diante dos holofotes com um topete novo, exagerando nos cosméticos com a sossega despreocupação de… apenas abrir a boca e fazer micagens, já que o playback já está no ponto! Paixão não move todo mundo, fazer o quê? E ao contrário do que pode-se esperar de Tavinho: ter fé de que de onde menos se espera venha algo bom, é dose!

Fernando Brant, autor dá clássica “Travessia”, recebeu os fãs com carinho e dedicou a todos bons minutos da boa prosa dos mineiros
Já Brant, autor de “Travessia”entre tantas preciosidades do nosso cancioneiro, também soltou a voz no palco da Biblioteca Alceu Amoroso Lima para declamar seus poemas, contar as próprias histórias e do Clube da Esquina, acompanhar Tavinho Moura e falar sobre o segundo livro de crônicas dele, “Casa Aberta”. Estava lançando a publicação à época. Depois da cantoria, sentou-se à mesa reservada a ele na sala de autógrafos e teve a disposição não apenas de “chamegar” exemplares comprados pelos fãs, mas ainda de prosear o quanto quis com todos os que formaram a fila; antes, outro privilégio que tive: um encontro a sós, no toalete, uma prosa de menos de sessenta segundos nos quais eu não sabia se respirava ou ouvia; gargalhadas.
Já na fila, apesar dos “apertos” da produção. comigo a atenção e a simpatia rimaram com generosidade. Em meu exemplar, Fernando Brant deixou-me a dedicatória “A vida é o melhor vinho, a vida é a melhor cachaça”, refrão da música que ele e Tavinho cantaram minutos antes de encerrarem a memorável apresentação.
Já com a Andreia Regina Beillo, que me acompanhava, se um dia puderem, perguntem para ela como foi ter dois minutos só dela ao lado do Brant!
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