O Barulho d’Água Música recebeu hoje mais uma rica contribuição para o acervo do blog: o novo álbum da cantora, compositora e poetisa Consuelo de Paula.
O “Tempo e o Branco” é o sexto trabalho autoral de Consuelo, artista completa que vem recebendo as mais elogiosas palavras e definições da crítica desde que surgiu no cenário musical brasileiro. Desta vez, motivada — ou, na verdade, provocada pela jornalista Fátima Cabral, para utilizar uma palavra a qual ela mesma recorreu –, Consuelo teceu 13 canções que mergulham no universo poético de Cecília Meirelles, 12 das quais em parceria com o inesquecível Rubens Nogueira, responsável por onze das melodias. Gravadas no estúdio do amigo Mario Gil (Dançapé), todas têm os delicados acompanhamentos do acordeom de Toninho Ferraguti e das cordas da viola caipira e do violão de Neymar Dias.
Que ninguém morra de tanto ouvi-lo, e que nem ela morra de tanto cantar, já que Consuelo é imprescindível, tem o dom de nos brindar com antídotos num mundo que, se já não caminha entre desertos, parece cada vez mais ensimesmado, pouco gentil, avesso à poesia ou ao ato de parar tudo no instante em que deparamos com um ramo de acácia e seguimos em correria sem apreciá-lo. Mas se tudo hoje em dia parece fugaz, a paixão ainda existe e que nos nutre de vontade de passar dias e dias sem interromper a audição, ah, isto dá! E para apoiar a divulgação de “O Tempo e o Branco”, Consuelo de Paula também caprichou no sítio virtual no qual apresenta o novo álbum. Os fãs poderão acessá-lo em http://www.consuelodepaula.com.br/otempoeobranco/#! e, ao navegar, encontrarão, por exemplo, detalhes do encarte contendo as letras de cada uma das canções, vídeos e a ficha técnica da obra e fotos de Alessandra Fratus.
Como o disco ainda não está nas lojas, tarefa que em breve será assumida pela Tratore, o internauta também poderá encomendar neste passeio on-line seu exemplar, além dos demais discos da mineira de Pratápolis. A lojinha virtual inclui o DVD “Negra” e o livro “A Poesia dos Descuidos”, que ela escreveu em 2011 com Lúcia Arrais Morales.
Abaixo, na integra, segue o texto de apresentação de “O Tempo e o Branco”, produzido pelas jornalistas Eliane Verbena e Deborah Zanette.
O Tempo E O Branco: uma dança rara no colo da poesia.
Em novo CD Consuelo de Paula visita o universo poético de Cecília Meireles.
Como quem cria um pássaro inquieto, Consuelo sabe que as canções têm destino de mundo, têm sina de rio, de vento, de coisas que não param, que saem de casa para abraçar outras fronteiras e gerar novas sinfonias.
Com seu novo trabalho, O Tempo E O Branco, Consuelo de Paula conclui mais uma fase de sua obra autoral. Este é seu sexto registro fonográfico, mas pode ser considerado outro momento de uma única obra, uma obra que conversa entre si e com o mundo. Aqui a poesia se revela ainda mais generosa e ousada, inaugura outros ares, propõe um novo baile.
Provocada pelo universo poético de Cecília Meireles – que aqui entra como inspiração livre – Consuelo constrói canções que mais uma vez surpreendem o ouvinte pela leveza quase insondável de seu lirismo; coloca sua sensibilidade própria, livre, a serviço da arte, o que acaba por lhe exigir rigoroso apuro interno para descobrir as palavras certas no momento de articular sentimentos, ritmos, tons, o claro e o escuro, a ave e o vento, a pedra e o rio, o espaço e o tempo. Cecília e Consuelo, duas experiências distintas, e em cada uma delas se detecta a mesma obsessão: a de escavar o verso e, com ele, incitar o vício sadio e necessário da emoção.
O CD O Tempo E O Branco traz treze letras, duas melodias de Consuelo e onze melodias de Rubens Nogueira (1959-2012) e encerra a rica parceria entre esses dois artistas, parceria essa que marca a música contemporânea brasileira. O equilíbrio perfeito desse CD chega com a escolha dos instrumentos: acordeom e viola. Versos cheios de asas encontram pouso nas teclas pretas e brancas do acordeom; melodias que parecem rios encontram terra no som da viola; a voz precisa, plena e inexplicável de Consuelo passeia pelos arranjos com as belas harmonias assinadas por Toninho Ferragutti e Neymar Dias. O resultado é uma obra impecável. Os ritmos parecem soar de um baile iniciado no centro do Brasil rumo às fronteiras, passando por terras, serras, cordilheiras, rios, atravessando mares, fazendo árvores e tecendo um bordado que é único, iniciado em Samba, Seresta e Baião, seguido por Tambor e Flor, Dança das Rosas, Casa e Negra.
Em O Tempo E O Branco seu estilo e sua forma de expressão são mais uma vez reveladores da sua exigência e despojamento humanos: deixarei poesia pra antonio e maria/ testamento de artista escrito com sonhos/ deixarei passagens pra becos e lagos […] e vou morrer de cantar/ morrer de cantar! Esse é o legado de alguém que se dedica com orgulho e paixão à sua sina de artista, mesmo quando esta se apresenta com a aspereza de uma fruta agreste/ [como uma] palavra amarga, pois Consuelo não faz da arte mera profissão, ao contrário, a traz estampada no rosto, nas marcas do corpo, na excepcional consciência de si. E é como uma prisioneira da arte que ela traduz vivências, lembranças, acontecimentos, sensações, e transforma a banalidade da vida em extraordinária experiência: um barco eu fiz/ um barco em flor/ no meio da imensidão/ […] há tanto mar desconhecido em meu coração/ essa canção é só pra gente sempre se encontrar. O Tempo E O Branco: um CD para se ouvir um milhão de vezes e ainda descobrir novos mistérios a cada audição. O Tempo E O Branco: o poema-canção como um antídoto num mundo que caminha entre desertos.
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