Violeta Parra é homenageada em concorrido concerto no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo

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Sarah Abreu, Tita Parra, Carlinhos Antunes, Rui Barrosi e Beto Angerosa, alguns dos integrantes do concerto “Violeta Terna e Eterna”, no MCB (Foto: Elisa Espíndola)

O Museu da Casa Brasileira (MCB), sede de espetáculos e de exposições situada no bairro paulistano de Pinheiros, quase ficou pequeno para acomodar a plateia que na manhã de domingo, 17, acompanhou o concerto “Violeta Terna e Eterna”. Pessoas de todas as idades ocuparam as cadeiras disponíveis, sentaram-se no chão, postaram-se junto às muretas laterais ao salão, nos bancos e assentos do gramado do belo parque onde famílias inteiras também curtiam a gostosa manhã de sol. A visão do palco desta área nem era tão boa, já que, dependendo do ângulo e da posição, quem estava do lado de fora via a sua frente apenas um paredão humano.

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Sarah Abreu e Tita Parra cantam “Volvier a los 17”, um dos clássicos mais conhecidos de Violeta Parra (Foto: Marcelino Lima)

Para ouvir, entretanto, bastam os ouvidos. E assim, mesmo sem enxergar quem cantava e tocava lá dentro, como o público interno também fazia, muitos acompanhavam do começo ao fim as canções que Sarah Abreu, Carlinhos Antunes e Tita Parra, acompanhados pelos integrantes do Sexteto Mundano, apresentaram em homenagem à cantora, artista plástica e folclorista chilena Violeta Parra, com um passeio também por raridades de outros autores latino-americanos entre as quais  “Sonora Garoa”, do paulistano Passoca.

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Tita Parra cantou também músicas do seu disco “El Camino Del Médio”, entre os quais “Tierra”, e a inédita da avó “El Palomo” (Foto: Marcelino Lima)

Violeta morreu precocemente aos 49 anos, em 1967, e, portanto, não enfrentou a feroz ditadura de Augusto Pinochet que se instalou no país sul-americano em 11 de setembro de 1973. Se estivesse viva quando Salvador Allende foi derrubado, seria com certeza uma das mais árduas combatentes do violento regime imposto a ferro e a fogo pelo general, seus homens e seus órgãos repressores que contavam com apoio e organização do governo estadunidense. O ideal da integração latino-americana e a luta contra o imperialismo sempre estiveram presentes em toda a obra de Violeta Parra. Ela vivia pelos seus valores e crenças, e, por meio de suas canções, mostrava as coincidências dos processos históricos dos países da América Latina e, por conseguinte, as semelhanças dos seus processos de lutas populares, sempre estimulando o enfrentamento à dominação externa, louvando a vida e o trabalho, enaltecendo a luta dos camponeses pobres, povos indígenas e estudantes.

 

Entre tantos títulos que caberiam a Violeta Parra, o de mãe da canção comprometida e aliada dos oprimidos e explorados é um dos mais acertados. Suas músicas e pinturas formaram a base para o desenvolvimento do movimento estético-musical-político chamado de La Nueva Canción Chilena, do qual fizeram parte também , Rolando Alarcón, e Patricio Manns, além dos grupos Inti-Ilimani e Quilapayún. Os versos de Violeta Parra legaram composições magistrais em força, beleza e engajamento,como “Volver a los 17”,que mereceu antológica gravação de Milton Nascimento e Mercedes Sosa.  Em “La Carta”, que retrata arbitrária prisão de seu irmão Roberto, cantada em momentos de comoção revolucionária, nas barricadas e nas ocupações, Violeta denunciava que “Os famintos pedem pão; chumbo lhes dá a polícia”. 

 

As canções, contudo, não apenas são libelos contra toda a forma de injustiça social. O lirismo presente em “Gracias a la vida” (gravada por Elis Regina) embalou como um hino que transcedeu o continente o ânimo de gerações de revolucionários em momentos em que a vida era questionada nos seus limites mais básicos, assim como a letra comovedora de “Rin de Angelito”, por meio do qual a chilena descreveu a morte de um bebê pobre: “No seu bercinho de terra um sino vai te embalar, enquanto a chuva te limpará a carinha na manhã”.

 

Na apresentação do MCB, os músicos interpretaram “Volver a los 17”, “La Carta” e, ao final, “Gracias a la vida” entre outras joias de Violeta Parra. A neta Tita Parra apresentou aos ouvintes duas músicas que a avó cantava, ¿Adónde vas, jilguerillo?Violeta a aprendeu com a mãe, Clarisa Sandoval, e foi recolhida mais tarde por Alarcón, alusiva a um pequeno pássaro –, e “El Palomo”, cujos registros estavam em poder da gravadora multinacional que por 50 anos deteve os direitos sobre a obra de Violeta e não constam na discografia da avó. Tita cantou de sua autoria “La Tierra”, presente no álbum “El camino del medio”. O repertório, aberto com a instrumental “Ayacucho”, que Carlinhos Antunes recolheu no Peru, incluía ainda “Maria Rosa”, cantada na língua indígena parenpechua, do México, “Casamiento de Negros”, “Miguel y La estrela”, “Guillatún” e “Oracion del Remanso”, entre outras.

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Violeta Parra compôs canções que transmitiam a alegria dos povos chileno e latino americano pela vida e em seus versos também pregava a resistência a todas as formas de dominação

Sarah Abreu, Carlinhos Antunes e o Sexteto Mundano voltarão a se juntar no sábado, 23, para nova apresentação na Casa de Francisca, desta vez com o projeto “Violeta e Caymmi- Entre o Céu e o Mar”, a partir das 22h30. Já entre 6 e 7 de setembro eles e o grupo entrarão em estúdio para gravar o álbum do concerto “Violeta Terna e Eterna”, para o qual obtiveram apoio de amigos e admiradores, por meio de contribuições recolhidas pela plataforma de financiamento coletivo (crowfunding). De acordo com Carlinhos Ferreira, o disco estará pronto e será enviado aos colaboradores no máximo em dois meses. Para saber mais informações a respeito há o endereço virtual https://www.facebook.com/violetaternaeterna?fref=ts e sarah.abreu@gmail.com.

Cantores e músicos do concerto “Violeta Terna e Eterna”

Sarah Abreu/ Beto Angerosa, percussão/Carlinhos Antunes, cordas/Maria Beraldo Bastos, clarinete/Danilo Penteado, piano e acordeon/Rui Barrosi, contrabaixo 

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