O Barulho d’água Música, mais uma vez, coloca-se de luto, desta vez com tristeza profunda e em solidariedade aos familiares, amigos e muitos admiradores de Inezita Barroso.
A rainha da música caipira completara 90 anos na quarta-feira, 4 de março. Ontem, Dia Internacional da Mulher, o lampião de gás, definitivamente, apagou-se. Inezita partiu após quadro de insuficiência respiratória aguda ocorrido no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde estava internada desde 19 de fevereiro.
Ignez Magdalena Aranha de Lima, nome de batismo de Inezita Barroso, era filha de família tradicional paulistana e passou a infância cercada por influências musicais diversas crescendo em fazendas, nas quais teve contato com o universo caipira em várias rodas de viola. Nascida no bairro da zona Oeste paulistana Barra Funda, também em um domingo, e de Carnaval, formou-se em Biblioteconomia pela Universidade de São Paulo, mas foi uma grande pesquisadora do gênero musical: por conta própria, percorreu o Brasil resgatando histórias e canções.
Além da cantora, instrumentista, arranjadora, folclorista, atriz, foi professora. Teve de vencer preconceitos correntes em sua mocidade como o de que mulher não tocava viola para em cerca de sessenta anos de carreira legar ao país mais de 80 discos, gravando sucessos como Lampião de gás (Zica Bergami) e Moda da Pinga (Ochelsis Laureano e Raul Torres). Depois de passagens pelas TVs Record, onde foi a primeira cantora contratada, e extinta Tupi, entre outras, chegou à Cultura e apresentou desde a década dos anos 1980 o Viola Minha Viola, inicialmente com Moraes Sarmento.
Inezita gravou o programa até o final de 2014, só deixando de lado o trabalho após ser hospitalizada devido a uma queda na casa da filha, em Campos do Jordão, no interior de São Paulo, incidente no qual teria fraturado o fêmur .
Violeiros como Paulo Freire e Pereira da Viola, ontem, 8 de março, hora antes de ela falecer, apareceram durante a exibição do Viola Minha Viola, parabenizando-a pelos 90 anos. Liderados pelas As Galvão e o Regional do Joãozinho, no encerramento do programa, um grupo de convidados e todo o auditório do teatro do Sesc Bom Retiro cantaram, em coro, Lampião de Gás.

Imagem de divulgação da época em que Angela, filme da Vera Cruz protagonizado por Inezita Barroso, esteve em cartaz (Foto: Acervo da Cinemateca Brasileira)
Inezita Barroso abraçara a carreira musical em 1953, dois anos antes de gravar o primeiro álbum e quando já era admirada no cinema por protagonizar filmes como Angela, O Craque, Carnaval em Lá Maior e Isto É São Paulo. O primeiro disco abriu de pronto as portas para o sucesso como cantora e interprete de clássicos tais quais Ronda, de Paulo Vanzolini, e Moda da Pinga.
Doutora Honoris Causa em Folclore Brasileiro pela Unicapital (SP), Inezita ganhou entre outros prêmios o Governador do Estado e o Saci, ambos de melhor atriz pela atuação em Mulher de Verdade (1955). Em 2010, recebeu o Troféu APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) em MPB. Estava indicada para assumir a cadeira 22 da Associação Paulista de Letras (APL) em substituição à folclorista, poetisa, cronista e contista Ruth Guimarães (Cachoeira Paulista, 13 de junho de 1920 – Cachoeira Paulista, 21 de maio de 2014).
O Barulho d’água Música ficará atento à agenda de homenagens que se deverá prestar a Inezita Barroso e informara aos amigos e seguidores quando ela for divulgada qual será a decisão da TV Cultura sobre o Viola Minha Viola.
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