Sem muito o que dizer, mas muito, muito, a lamentar: o Barulho d’água Música se engaja à campanha “Digo não ao fim do Viola Minha Viola”, que mobiliza artistas, jornalistas e blogueiros na tentativa de reverter a suposta decisão da TV Cultura, da Fundação Padre Anchieta (SP), de tirar do ar o programa que Inezita Barroso comandou por 35 anos. O mais curioso e irônico é que o anúncio do fim do Viola, Minha Viola, embora ainda não oficialmente confirmado, ganha status de notícia e forte indício de não ser apenas potoca por conta da demissão dos 52 funcionários que o produziam, há pouco mais de um mês depois de a emissora prestar homenagens das mais emocionantes e justas, em 8 de junho, à rainha da música caipira, com uma festa belíssima na Sala São Paulo, com direito à presença do presidente da emissora e uma gama de artistas como Ivan Lins, Renato Teixeira, Paulo Freire, Roberto Corrêa, Renato Borgheti, Neymar Dias, Pereira da Viola, Mococa e Paraíso, mais o CoralUsp e o Regional do Joãozinho. Naquela noite, três meses após a morte de Inezita, o que mais se comentava e se desejava, tanto entre a plateia, como nos bastidores, até mesmo em respeito à memória e à vontade dela, era quando o programa voltaria ao ar. E já se especulava que poderia assumi-lo tanto Lima Duarte, quanto Sérgio Reis, entre os nomes que corriam à boca pequena.
Eu, Marcelino Lima, cresci assistindo ao programa ao lado de meus pais, nos primórdios apresentado pela Inezita e pelo Moraes Sarmento, e considero inadmissível como fã e blogueiro que um patrimônio nacional como o Viola, Minha Viola acabe reduzido a um produto qualquer, que pudesse ser descartado como se fosse um mero enlatado ou série boboca — sobretudo quando esta postura, como sugerem os critérios ou falta deles conforme se pode ler lá e acolá, parece atender a uma… pauta política! O Viola, Minha Viola chegaria ao fim tragado pela “reestruturação” da emissora — eufemismo para o verdade sucateamento e chegada às instâncias de decisão de uma direção com visão retrógrada, comercial e nada técnica — no qual constaria até gente que teria defendido o mesmo regime que matou um dos seus mais incontestáveis baluartes, o jornalista Vladimir Herzog –, aliada às dificuldades impostas por uma tal “crise econômica” que assolaria o país. São Pedro, desta vez, pelo menos, não ganhou culpa!
Nico Prado, o ex-diretor do programa, publicou o seguinte comunicado, que tem força de um desabafo:
“Gente, deixo claro que minha demissão não representa um por cento da minha tristeza se comparada aos 52 colegas também demitidos e ao fim do Viola, Minha Viola. Centenas de artistas, músicos e uma imensa legião de fãs da música caipira também foram demitidos. Isso sim é irreparável!”
Há tempos também já se lamentava a mesma destruição na programação da Rádio Cultura — que passou a ter playlists mecanizadas e de gosto duvidoso. A comunidade artística se mobilizou contra isso, sem sucesso, e até agora não se ouviu nenhuma palavra, comentário, explicação, satisfação de autoridades como o próprio governador presidenciável do Estado Geraldo Alckmin (que reduziu as verbas para a emissora em pelo menos 20%, comenta-se) contra estes atentados ao patrimônio cultural não apenas de São Paulo, mas do Brasil.
Haja indignação, ou melhor, não haja! Nesta segunda-feira, 20, novamente na Sala São Paulo, haverá homenagem da Cultura a Rolando Boldrin pelos 10 anos no ar do Sr. Brasil na mesma emissora. Estaremos lá e, esperamos, que não seja esta a última vez que teremos o Boldrin gravando em um palco. Já estamos, no entanto, com um incomodo bichinho nos fustigando atrás da orelha, os nós dos dedos inchados de bater três vezes na madeira e temendo que apenas a vela que acendemos para São Gonçalo não seja suficiente!
Vamos botar a boca no trombone, gente!? Compartilhe o jogo da velha e a imagem abaixo! E se for ter barulho, chame-nos para engrossar o caldo!