Luiz Otávio, cirurgião dentista falecido em 1977, nasceu em um dos berços do samba carioca, a Vila Isabel, mas foi responsável por dar impulso à trova, divulgando-a no rádio, em revistas e em jornais pelo país. Começou a escrever bem jovem e a enviar versos a periódicos famosos de sua época como Correio da Manhã, Vida Doméstica, Fon Fon, O Malho, Jornal das Moças e O Cruzeiro. O resultado foi o lançamento do livro Meus Irmãos, os Trovadores, em 1956, coletânea de 2000 trovas de diversos autores de Língua Portuguesa. Com a colaboração de J. G. de Araújo Jorge, em 1960, Luiz Otávio lançou a primeira edição dos Jogos Florais de Nova Friburgo (RJ), considerada, ainda hoje, a principal forma de divulgação da trova no Brasil.
A partir desta iniciativa multiplicaram-se os trovadores e com eles a necessidade de congregá-los. Então, em 1966 foi fundada a União Brasileira de Trovadores.A comemoração do Dia do Trovador envolve todas as seções da UBT e suas delegacias, espalhadas por centenas de municípios brasileiros. Nestas unidades almoços festivos e reuniões são promovidos simultaneamente às Chuvas de Trovas, que consistem em centenas de trovas impressas atiradas pelas janelas por trovadores para quem passam pelas ruas. Além disso, há palestras em cada seção ou delegacia para que se comemore da melhor forma a passagem do dia dedicado aos trovadores do Brasil.
A trova chegou por meio dos portugueses ao Brasil, trazida e difundida por José de Anchieta, Gregório de Matos, Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Olavo Bilac, Vicente de Carvalho. Modernistas como Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade também praticaram este gênero literário hoje exclusivo da Língua Portuguesa. No Brasil, a trova originada da quadra popular portuguesa encontrou campo fértil, porém, passou a ser estudada e difundida, de fato, somente depois de 1950. Apresenta uma quadra, ou seja, deve ter quatro versos – o que equivale a uma linha, no universo da poesia. Cada verso, por sua vez, deve ter sete sílabas poéticas, ou seja, ser setissilábico; a sílaba poética é contada por seu som. O verso da quadra deve ter sentido completo e independente e há três gêneros básicos de trovas: 1) Trovas líricas, que abordam sentimentos, amor, saudade; 2) Trovas satíricas, que fazem rir, engraçadas, bem-humoradas; e 3)Trovas filosóficas, que contêm ensinamentos e pensamentos.
O escritor Jorge Amado (Itabuna/BA) considera que “não pode haver criação literária mais popular e que mais fale diretamente ao coração do povo do que a trova” Para o autor de Capitães de Areia “por meio dela o povo toma contato com a poesia e por isto mesmo a trova e o trovador são imortais”.
58) Saudade – voz da Distância
que se ouve, na solidão,
a contar coisas da infância
ou sonhos que lá se vão…
59) Nem sempre nós conseguimos
traduzir nossas dores…
– Quantas trovas ficam mortas
nas almas dos trovadores!
65) Uma trova pequenina,
tão modesta, tão sem glória,
bem pouca gente imagina
ter também a sua história…
81) Não digo, não, “minha” trova,
quando faço um verso novo:
não é minha, nem é nova,
quando cai na alma do povo…