Itaú Cultural abriga universo de Elomar Figueira Mello com atrações múltiplas e entrada franca até 23 de agosto

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O Itaú Cultural transformou-se em uma casa de fazenda para abrigar o universo do músico Elomar Figueira Mello (Vitória da Conquista/BA) entre  18 de julho e 23 de agosto, período da 25ª edição do programa Ocupação, dedicado ao menestrel sertanez que está entre os melhores compositores de todos os tempos. O espaço, situado em endereço nobre e privilegiado, na avenida Paulista, será durante este mês morada para registros, objetos e memórias pelas quais se pretende revelar de onde surgem as referências que, além da música, habitam romances, poesias e peças de teatro compostas pelo violeiro. Não haverá cobrança de ingresso para curtir as atrações.

Elomar veio a São Paulo para, simultaneamente à abertura da Ocupação que protagoniza, promover os concertos Da carantonha mili légua caminhá, no Auditório do Ibirapuera, nas noites de sábado, 18, e domingo, 19. Nesta segunda data, devido à excepcional procura por ingressos, os organizadores abriram uma apresentação extra, que começou às 21 horas e ainda assim não deixou cadeira vazia na plateia. O Barulho d’água Música estava presente e viu Elomar muito bem humorado cantar sucessos de sua carreira e conversar descontraidamente com a plateia sobre as particularidades de suas composições e de fatos corriqueiros — entre os quais seu pavor por viagens aéreas. Em dado momento, enquanto relatava esta paúra, levou o público às gargalhadas ao afirmar: “não sei como um ateu pode entrar em um avião!”.

O espaço expositivo montado pelo Itaú Cultural faz menção ao local em que vive Elomar – a Casa dos Carneiros, fazenda que fica em Vitória da Conquista (BA). Elementos como a aridez do solo, cercas, bodes, grandes janelas da fazenda e narrativas presentes na música de Elomar convidam a adentrar um espaço de contemplação e se deixar levar pelos encantamentos do sertão profundo. Em relação aos shows, além de contar com o filho João Omar e do multi-instrumentista Heraldo do Monte (Recife/PE) ao seu lado, Elomar recebeu, ainda, o violonista Chico Saraiva e a aluna do Auditório Ibirapuera Gabriela para acompanhá-lo, juntamente com Omar, na apresentação de uma das suas inéditas árias. Com o trio no palco, a plateia ouviu entre outros sucessos a peça Tão Tarde e nem Sinal, uma das faixas das Árias Sertânicas, Campo Branco (Na Quadrada das Águas Perdidas) e Clariô (Na Quadrada das Águas Perdidas e Auto da Catingueira). João Omar, que ao lado de Heraldo do Monte tocou Estrela Maga dos Ciganos, é uma das atrações da Ocupação Elomar e em 13 de agosto estará de volta à Capital para lançar seu mais novo álbum, Ao Sertano.

Música e linguagem

Arquiteto por formação e músico por destino, Elomar ainda criança se fascinou. “As primeiríssimas peças que compus eu tinha 9, 10 anos – no violão, sem texto. A música Deus mandou para mim muito cedo. Com 7, 8 anos já chegou o despertar, o grande encantamento”, disse o compositor. Elomar conta que o texto, a poética, chegou um pouco mais tarde.

Ainda garoto, percebeu a existência de duas linguagens: a culta, que estava nos livros e no falar do pessoal das cidades; e a dos roçalianos, que ele só conhecia oralmente. E assim desde o primeiro trabalho explora uma expressão própria da língua portuguesa – grafia e termos – que reproduz a fala do sertanejo e foi batizada pelo criador de “dialeto sertanez”. “Todo texto meu que se refere a discurso de vaqueiro, de retirante, de camponês ou de habitante do sertão versa em sertanez”, conta. Pelos registros da oralidade dos próprios habitantes do sertão transita o português castiço. “A fala do vaqueiro é linda”, conta. “Quando eu era pequeno ouvia o dizer que este modo de falar seria feio, que eu precisaria aprender a falar culto. Pois bem, decidi ainda menino: quando crescesse aprenderia este jeito mais formal de se comunicar, mas continuaria a me expressar conforme o povo de minha terra, ao modo deles e graças a Deus consegui, com o mérito de construir minha obra utilizando fundamentalmente o dialeto”.

Carreira

O estudo de música sempre fluiu paralelamente ao curso de arquitetura, aluno da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 1959. Elomar frequentava entre as aulas os Seminários Livres de Música dos regentes e professores Ernst Widmer e H. J. Koellreutter. Na década dos nos 1960, de volta a Vitória da Conquista, casou-se e teve três filhos. Depois, lançou um compacto simples, em 1968, com as composições Violeiro e Canções da Catingueira. Em 1972 publicou o primeiro álbum, Das Barrancas do Rio Gavião, em que agrega elementos e influências do romanceiro medieval ibérico e do cancioneiro popular nordestino. São desse período os trabalhos Parcelada Malunga e Fantasia Leiga para um Rio Seco, entre outros. Em 1981 estreou em São Paulo o prestigiado espetáculo ConSertão, com participação de Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Heraldo do Monte.

Em 1984, ano do show Cantoria – com Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai –, passou a trabalhar sua obra erudita e a adentrar o universo das óperas, dos concertos, das antífonas e da escrita orquestral. Com o filho e parceiro João Omar, desde então transita com desenvoltura pelos espaços da tradução cultural desses elementos de origem europeia. O álbum Árias Sertânicas, de 1992, registra fragmentos deste trabalho operístico, e se soma a álbuns pelos emblemáticos selos Kuarup e Marcus Pereira. Elomar também criou a própria gravadora, a Rio do Gavião, responsável por quatro de seus 16 discos.

Manto Cantado

Educadores e visitantes embarcam em uma viagem para o sertão imaginário das canções de Elomar na produção coletiva de um manto de cavaleiro. Durante a mostra, aos sábados e domingos, o grupo produzirá – a partir do mote de canções – imagem e/ou texto com os materiais e técnicas de bordado e desenho em tecido e feltro. O manto do cavaleiro, ao final, será oferecido ao homenageado.

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•26 de julho, domingo, 11, 13 e 16 horas

SE ESSA RUA FOSSE NOSSA – NAS ABAS DO MEU CORDEL

A intervenção Nas Abas do Meu Cordel, criada pela Companhia da Matilde, com artistas cantando cantigas e contando histórias rimadas no espaço público. Quem quiser pode participar por meio de trava-línguas e adivinhas relacionados à literatura de cordel. Às 12 horas, uma série de brincadeiras de rua será comandada pela Casa do Brincar.

Das 11h às 17h, o Cantinho da Leitura disponibilizará seu acervo e acesso ao sítio infantil do instituto O Mundo de Bartô [bartoitaucultural.org]. Ocorrerá também a Feirinha de Troca de livros, CDs e DVDs infantojuvenis na rua  Leôncio de Carvalho, ao lado do Itaú Cultural.

• 30 de julho, quinta-feira, 20 horas

QUINTAS MUSICAIS – A MEU DEUS UM CANTO NOVO

A cantora e historiadora baiana Jurema Paes conversará na Sala Itaú Cultural, que acolhe 249 pessoas, sobre a carreira, referências e ressonâncias da obra de Elomar em suas produções e no cenário musical brasileiro, com mediação é da poeta Micheliny Verunschk. A distribuição de ingressos começa 30 minutos antes do início do espetáculo.

• 13 de agosto, quinta-feira, 20 horas

QUINTAS MUSICAIS – AO SERTANO

O maestro e músico João Omar lançará Ao Sertano, álbum  no qual interpreta antífonas compostas pelo pai. As peças solo para violão representam parte da obra erudita sobre a qual Elomar se dedica há mais de 20 anos e é, praticamente, inédita. Antífonas são músicas litúrgicas que intermeiam a récita de salmos. Na leitura de Elomar, ganham traços mestiços de cantorias, flamencos e outras influências. Apresentação na Sala Itaú Cultural mediante entrada com ingresso cuja distribuição começará  30 minutos antes do início do espetáculo.

• 14 de agosto, sexta-feira, 20 horas

TOCA BRASIL – JUREMA

Jurema Paes é uma cantora baiana que tem em Elomar o primeiro referencial musical e de quem já gravou, em roupagem nova, duas canções em seu primeiro disco. Na Sala Itaú Cultural, com distribuição de ingressos 30 minutos antes do início do espetáculo.

• 15 de agosto, sábado, 20 horas

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TOCA BRASIL – FLÁVIO PAIVA E BANDA DONA ZEFINHA

Invocado é adjetivo que leva a dois caminhos — o que se invocou em uma prece ou o que se invocou por cisma. Nesse caso, o escritor cearense Flávio Paiva recorre ao segundo sentido para apresentar um olhar sobre a música brasileira provocante e atemporal. O show é homônimo ao livro-CD lançado em 2014, com ilustrações musicais de autores cearenses em gravações acústicas da Banda Dona Zefinha. Distribuição de ingressos 30 minutos antes do início do espetáculo.

• 16 de agosto, domingo, 18 horas

TOCA BRASIL – A ROZA (MARIETA CAZARRÉ E JULIANO CAZARRÉ, 2013, 11 MIN)

O curta em 3D A Roza é uma animação que conta uma história de amor e desgraça, nas vésperas de um casamento, como tantas da tradição oral sertaneja. Elomar é o narrador do filme e João Omar autor da trilha sonora. O enredo é a adaptação do conto No Manantial, do regionalista gaúcho Simões Lopes Neto. Distribuição de ingressos 30 minutos antes do início do espetáculo.

O  Itaú Cultural fica na avenida Paulista 149,  ao lado da Estação Brigadeiro do Metrô, telefone  11 2168 1777 fax 11 2168 1775. Mais informações pelo telefone 2168-1876, de terça a sexta, das 9 horas às 20 horas, ou no balcão de atendimento ao público.

 

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