635 – Recomendação do Barulho d’água: Comum de Dois, de Toninho Ferraguti e Marco Pereira, da Borandá

marco  toninho

O violão e o acordeon, dois instrumentos dos mais populares do Brasil, ao longo da história musical foram marcantes na formação de gêneros e de estilos, e ainda hoje continuam presentes de Norte a Sul do país. Marco Pereira e Toninho Ferragutti, dois dos principais representantes desses instrumentos, uniram se e provaram que, em dueto, o pinho e o fole permitem uma rica experiência artística. O resultado do encontro pode ser curtido em Comum de Dois, álbum com nove faixas lançado com o selo da gravadora Borandá. 

O projeto Comum de Dois teve início em janeiro de 2013, quando os músicos foram convidados para participar da 31ª Oficina de Música de Curitiba. O curador do evento, Sérgio Albach, sugeriu que a dupla realizasse um concerto. A proposta acabou recolocando no palco amigos que há anos não tocavam juntos. No começo dos anos 1990, em São Paulo, Pereira e Ferragutti chegaram a formar um trio com Swami Júnior no contrabaixo, porém o grupo se desfez logo depois que o violonista se mudou para o Rio de Janeiro.

A escolha em parceria do repertório valoriza temas autorais. “Eu adaptei as músicas dele para meu instrumento e vice-versa”, contou Ferragutti. As únicas exceções são Caymmi x Nazareth (com releituras de Dorival Caymmi e d Ernesto Nazareth) e Mulher Rendeira (Zé do Norte), que já possuíam arranjos previamente escritos por Marco Pereira. O violonista assina três músicas – Amigo Léo, Flor das águas e Bate-coxa –, enquanto o acordeonista outras quatro: Flamenta, Victoria, Nova e Sanfonema. “Temos uma identidade musical parecida”, observou Pereira. “O Toninho foi muito feliz na hora de batizar o disco”, prosseguiu. “Cada um traz uma bagagem própria, mas na hora em que tocamos juntos tiramos da mala aquilo que é comum dos dois.”

38_comum de doisApós o espetáculo de estreia, no Teatro da Reitoria da Universidade Federal do Paraná, os músicos ficaram empolgados e deram continuidade ao trabalho promovendo concertos no Interior e na Capital paulistas. A receptividade das plateias surpreendeu os artistas por dois motivos. “Em primeiro lugar, porque apenas duas músicas do repertório são mais conhecidas do grande público”, explicou Ferraguti. “Depois porque, embora façamos música popular, utilizamos muitos fundamentos da linguagem erudita.”

A pequena turnê serviu como preparativo para a gravação do disco, produzido a partir de recursos do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo (ProAc). “Se a execução de Marco integra a mão direita de Baden Powell à improvisação nervosa do bebop, Toninho parece somar as tradições sulistas e nordestinas do acordeão ao cool jazz de Miles Davis”, escreveu o violonista e crítico Sidney Molina (Folha de S.Paulo), após concerto do duo na Sala do Conservatório, em São Paulo.

O violão e o acordeon são instrumentos completos – além de melódicos e harmônicos, possibilitam desenhos rítmicos bem variados. “O acordeão tem aquele resfolego marcante do fole, enquanto o violão traz uma força percussiva no jeito de tocar”, definiu Pereira. Ao mesmo tempo, possuem características distintas que exigem dos músicos um cuidado especial para que o dueto seja bem sucedido. A intensidade sonora da sanfona, por exemplo, é muito maior que a do violão, mesmo quando este vem amplificado. Portanto, a busca pela dinâmica correta é tão importante quanto a fluência do andamento.

igor e neymar

São esses desafios que deixam o diálogo musical ainda mais interessante. “Gosto muito do desenho rítmico que um prepara para o outro”, emendou o acordeonista. É um dueto que permite a construção de uma harmonia densa com muitos contornos melódicos. “Unimos a linguagem da música erudita europeia, a improvisação do jazz e a articulação rítmico-melódica da música popular brasileira”, esclareceu o violonista.

Na definição do maestro Gil Jardim, “Pereira e Ferragutti são magos que colocam o violão, o acordeão e a alma a serviço das ideias musicais, das cores e matizes sem fronteiras, seja na música grafada ou no calor da música improvisada”.

O blogue já tem Comum de Dois em seu acervo e também recomenda dos autores Festa na Roça e Afinidade. O primeiro, de Ferraguti com Neymar Dias (viola caipira) é uma homenagem dos músicos à cultura caipira, também do selo Borandá, de 2014 . As músicas, singelas e tão importantes na vida de tanta gente, são executadas em duo, com pequenos arranjos que acrescentam dinâmicas e sonoridades diferenciadas, sem perder a força da simplicidade melódica. Um álbum para se emocionar e trazer recordações que foi finalista do Grammy Latino, em 2014. No disco você ouvira, por exemplo, Boiadeiro Errante (Teddy Vieira); De Papo pro Ar (O. Mariano/J. de Carvalho); Amargurado (Dino Franco e Tião Carreiro); Rio de Lágrimas  (Tião Carreiro/Piraci/Lourival dos Santos),  Menino da Porteira (Teddy Vieira/Luizinho), e Olímpico (Toninho Ferraguti) 

Afinidade, álbum de 2005, agradou em cheio público e crítica. Reúne o violão de Marco Pereira e a harmônica de Gabriel Grossi em 10 faixas com primorosos arranjos para sucessos como Mulher Rendeira (Zé do Norte), As Rosas não falam (Cartola), Modinha (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), Nos Horizontes do Mundo (Paulinho da Viola) e Sambadalu e Ponto de Luz, ambas de Pereira. Já não está disponível no catálogo da Biscoito Fino, mas o blogue encontrou o álbum à venda em várias lojas virtuais, em algumas com o produto ainda lacrado, que entregam encomendas para todo o país.

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