O Clube Capixaba do Vinil, o Grupo Tarahumaras e a Casa da América Latina no Espírito Santo reuniram-se para promover uma homenagem ao cantor, compositor, homem de teatro e professor chileno, Victor Jara. Artista cuja obra transcende as fronteiras do Chile, Victor Jara, além de toda essa atividade cultural e educacional, ficou conhecido pela corajosa militância de primeira ordem contra o momento de “tenebroso esplendor” que viveu o país natal – e boa parte da América do Sul sob as pesadas, cruéis e sangrentas mãos do regime de terror comandado pelo execrável general Augusto Pinochet. Jara caiu preso em dia 11 de setembro de 1973, dia do golpe e do pacote de agressões militares que derrubaram e assassinaram Salvador Allende, presidente eleito pelo povo.
Menos de cinco dias depois, Victor Jara, depois de cruelmente torturado, foi também assassinado juntamente com milhares de outros compatriotas daquela geração que sonhara e lutara para ter o país que queriam, vontade que haviam expressado em democrático processo eleitoral. Há relatos, inclusive, que antes de Jara ser morto, seus dedos teriam sido amputados por um general em represália ao fato de ele, com seu violão, sempre entoar canções em defesa da autonomia dos povos (veja abaixo o relato, atribuído a Manoel Cabazas).
O intuito da manifestação político-cultural em tributo a Victor Jara é contribuir para a compreensão de que a agenda de efemérides históricas sul-americanas pode (e deve) ser comum aos nossos países. A programação que transcorrerá defronte ao Cine Metrópolis, no bairro Goiabeiras, em Vitória, com o apoio da Secretaria de Cultura da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) e de importantes entidades representativas de trabalhadores capixabas, terá entre outros eventos e atividades filmes, debates e o show Victor Jara, Presente!, com o Grupo América 4, marcado para começar às 20h30.
Programação no Cine Metrópolis, situado na Avenida Fernando Ferrari, 514
16 horas – Nostalgia da luz, de Patrício Guzmán ∫◊ 18h00 – No, de Pablo Larraín ∫◊ 19h30: Abertura no palco defronte ao Cine Metrópolis, com discotecagem do Clube Capixaba do Vinil ∫◊ 19h45: Bate-papo com Wilson Coêlho, Eurico Scaramussa e Alexandre Curtis ∫◊ 20h30 – Show Victor Jara, Presente!, com o Grupo América 4.
Realização: Clube Capixaba do Vinil, Grupo Tarahumaras e Casa da América Latina (ES)
Sexta-feira, 11 de setembro
Apoio Cultural: Secretaria de Cultura da Ufes
Patrocínio: Sindicato dos Bancários, Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal, Sindiupes, Sindicato dos Estivadores, Sinpro, Sinttel, Programa Soy Loco por ti
Contatos:
Clube Capixaba do Vinil (Gilson Soares) – 99835.2230/98837.0251 – gilsonsoaresccv@gmail.com
Grupo Tarahumaras (Wilson Coêlho – 99816.7616 – 3082.8509 wilsoncoelho@gmail.com
Casa da América Latina – ES (Fernanda Tardin – 99933.9196 – nandatardin@yahoo.com.br
Clique no linque abaixo e tenha acesso a três obras em formato MP3 de Victor Jara disponibilizados pelo blog Criatura de Sebo
http://criaturadesebo.blogspot.com.br/search/label/Victor%20Jara
“Os detidos que não comiam nem bebiam há três dias vomitavam sobre os cadáveres dos seus camaradas estendidos por terra… A certa altura, Victor desceu para perto da porta por onde entravam os presos e de lá se dirigiu ao comandante. Este olhou-o e fez o gesto de quem toca guitarra. Victor sorriu tristemente, dizendo que sim com a cabeça. O militar sorriu por sua vez, contente com a sua descoberta. Chamou quatro soldados para imobilizarem Victor e ordenou que se colocasse uma mesa no centro da ‘cena’, para que todos assistissem ao espetáculo que se iria desenrolar à sua frente. Levaram Victor e mandaram-no pôr as mãos em cima da mesa. Nas mãos de um oficial, um machado surgiu (dias depois, este oficial declarava à imprensa: “Tenho duas belas crianças e um lar feliz”). De uma pancada seca, cortou os dedos da mão esquerda; depois, nova pancada e foi a vez dos dedos da mão direita. Ouviram-se os dedos a caírem sobre o tampo de madeira; vibravam ainda. O corpo de Victor tombou inesperadamente. Ouviu-se o urro colectivo de 6000 detidos. Esses 12 000 olhos viram o mesmo oficial lançar-se sobre o corpo do artista gritando: “Canta agora, para a puta da tua mãe!”, e continuava a agredi-lo com pancadas.
Nenhum dos detidos se poderá esquecer da face desse oficial, de machado na mão, os cabelos em desordem… Victor recebia os pontapés enquanto o sangue jorrava das suas mãos e a cara se tornava roxa.«De repente, Victor tentou penosamente levantar-se e, como um sonâmbulo, dirigiu-se para a bancada, os seus passos pouco firmes, os joelhos trémulos e ouviu-se a sua voz gritar: “Vamos fazer a vontade ao comandante!” Momentos depois conseguiu endireitar-se e, levantando as suas mãos encharcadas de sangue, numa voz de angústia, começou a cantar o hino da Unidade Popular, que toda a gente tomou em coro.«Enquanto, pouco a pouco, 6000 vozes se levantavam, Victor, com as suas mãos mutiladas, marcava o compasso. Viu-se um estranho sorriso sobre o seu rosto…
Era demais para os militares; dispararam uma rajada e Victor dobrou-se para a frente, como que fazendo uma reverência perante os seus camaradas. Outras rajadas partiram das metralhadoras, mas estas dirigidas para aqueles que tinham cantado com Victor. Houve uma verdadeira ceifa de corpos, caindo crivados de balas. Os gritos dos feridos eram aterrorizadores. Mas Victor não os ouviu. Estava morto.”
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