O violeiro, filósofo e compositor Sidnei de Oliveira (São Francisco de Paula/RS) será a atração de mais um bate-papo musical do projeto Imagens do Brasil Profundo, série com curadoria do professor Jair Marcatti acolhida pela Biblioteca Mário de Andrade (BMA), situada em São Paulo, e que terá continuidade nesta quarta-feira, 4 de novembro, a partir das 20 horas, com entrada franca.
Sidnei Oliveira, atualmente residindo em São Paulo, gravou em 2010 o álbum instrumental Prólogo, trabalho que reúne 13 músicas das quais apenas a faixa de abertura, Lamparinas da Noite, de Adelmo Arcoverde (PE), não é de sua autoria. A maioria dos arranjos também tem a assinatura deste gaúcho que recentemente passou um período na Alemanha, onde protagonizou vários concertos e iniciou a tese de Doutorado na Universidade de Leipizig (que agora prossegue em São Paulo) e aproxima a filosofia de Arthur Schopenhauer da música de Richard Wagner, maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta alemão conhecido por suas óperas.
Antes de gravar Prólogo, Sidnei Oliveira ficou com o título do Prêmio Syngenta de Viola Instrumental, promovido em 2004, com a música Esplendor. Prólogo tem produção da esposa Lenara Abreu e participações de Papete (percussão e efeitos), Célio Sene (flauta transversal), Antônio Porto (baixo), João Pierro (viola), Rodrigo Sater (violão aço), Renato Borgetthi (gaita ponto), Daniel C. Martins e Rodrigo Leitte (violoncelo), Ricardo Zohyo (baixo fretless) e Cláudio Sant’ana (violão nylon). O autor toca viola de 10 cordas e violão nylon, dedicou Cariú a Almir Sater e Quase Mineiro a Bilora; todas as faixas são apresentadas no encarte por um breve texto como o seguinte, de Schopenhauer, para Esperança: “A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende, é um exercício de metafísica do inconsciente, no qual o espírito não sabe que faz filosofia”.
“Nem sempre encontramos um trabalho de composição tão inspirado e ao mesmo tempo tão original”, escreveu Paulo Bellinati, que como jurado do I Prêmio Syngenta de Viola conheceu Sidnei Oliveira, na apresentação de Prólogo. “Confirmo agora quão acertado foi seu primeiro lugar”, observou o violonista, frisando que “é raro ouvir a Viola Caipira encaixada em um conjunto instrumental de cordas e percussão em arranjos com tamanha suavidade e sofisticação”. Para Bellinati “Sidnei de Oliveira nos brinda com todas essas qualidades associadas a uma técnica transparente, que serve a música com fluidez e detalhamento brilhante”.
Sidnei Oliveira também é autor do ensaio Viola Caipira como estandarte – A representação de uma cultura a partir de sua essência, gentilmente cedido ao Barulho d’água Música por ele e pela Editora Escala (SP), que publicou o texto na Revista Ciência e Vida Filosofia, em sua edição 104, de março de 2015, publicado neste blogue como matéria especial. Leia mais sobre o violeiro convidado de Jair Marcatti e ouça músicas de Prólogo em http://www.violaoliveira.com
Olhar aprofundado e amplo
O projeto Imagens do Brasil Profundo tem curadoria do historiador e sociólogo Jair Marcatti, que o desenvolveu com o intuito de por em debate por meio de músicas, de filmes, de manifestações populares e de objetos o Brasil por dentro, aquele país que nas palavras de Ariano Suassuna, escondido em rincões considerados profundos, é muito vivo. Iniciado em 2014, na primeira temporada foram convidados violeiros para falar sobre as ligações de sua música com a cultura caipira. Em 2015, com a ampliação do programa, passaram a ser abordados outros aspectos das diversas culturas regionais do Brasil, agora desvendados em diferentes formatos: shows, bate-papos musicais, debates e palestras.
Ao invés de promover abordagens tradicionais, Marcatti prefere convidar músicos, documentaristas, diretores de cinema, ativistas culturais e pesquisadores da cultura popular que em comum nutrem um modo de olhar aprofundado e amplo sobre o Brasil e promovem trabalhos de pesquisa e resgate das nossas mais entranhadas tradições. Com cada um dos participantes, Marcatti aborda aspectos do universo cultural brasileiro, de nossas trajetórias, continuidades e rupturas; daquilo que sem nenhuma pretensão definidora poderíamos chamar de identidades brasileiras, no plural, com a vantagem dos exemplos serem pontuados no calor da prosa, ao vivo, pelo som dos instrumentos, muitos artesanais, e pela apresentação de outras formas de expressão cultural. As rodadas do Brasil Profundo são quinzenais.
Serviço
Imagens do Brasil Profundo recebe Sidnei Oliveira
Data: quarta-feira, 4 de novembro
Horário: 20 horas
Local: Auditório da Biblioteca Mário de Andrade
Rua da Consolação, 94, São Paulo, a 500 m da estação Anhangabaú da linha Vermelha do Metrô
Entrada franca