746 – Inaugurada no Morro da Serrinha, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a nova sede do Centro Cultural Casa do Jongo

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A nova sede do Centro Cultural Casa do Jongo possui dois pavimentos construídos no Morro da Serrinha, em Madureira, e oferece atividades diversas relacionadas à manifestação que entrou no país com negros bantos e também ocorre em São Paulo, Sul da Bahia e várias cidades fluminenses (Foto acima e no destaque, ao lado do título: Beth Santos/Prefeitura do RJ/Fotos Públicas)

Os mantenedores, frequentadores e beneficiários da Organização não-Governamental (OnG) Grupo Cultural Jongo da Serrinha, estabelecida no Morro do Serrinha, em Madureira, bairro carioca, está festejando a conquista da nova sede do Centro Cultural Casa do Jongo, aberta desde o domingo, 29. A Casa do Jongo, que é um ritmo precursor do samba, agora dispõe de dois andares que passaram por desapropriação antes de serem totalmente reformado pela Prefeitura do Rio de Janeiro. O novo espaço ocupa cerca de 2.000 metros quadrados. Oferecerá além de ambiente para rezas e terreiro para Jongo e Capoeira auditório, com projetor, para 30 pessoas; estúdios; salas e oficinas para danças, cursos profissionalizantes, de artes e de exposições permanentes; lojas; refeitório e escritórios administrativos. O projeto do térreo seguiu proposta paisagística com pedras portuguesas compondo mosaicos em referência a desenhos africanos.

O Centro Cultural Casa do Jongo nasceu há 50 anos de árduas luta dos gestores da ONG e dos moradores da comunidade para preservar esta manifestação africana. O imóvel anterior estava inadequado por várias limitações que dificultavam as atividades e as parcerias. A entidade, hoje, atende a cerca de 70 crianças em projetos sociais que oferecem aulas de danças populares, como o próprio Jongo, percussão, cavaquinho e música em geral. “Além dos cursos que já mantemos vamos ter uma sala de cinema e estúdio para produção audiovisual”, afirmou uma das cinco coordenadoras do Jongo da Serrinha, Suellen Tavares, ex-aluna, depois monitora. Outra novidade é uma boutique comunitária, onde os moradores da Serrinha poderão vender artesanato e artigos afros que produzem.

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Jongueiros que ajudaram a fundar o Centro Cultural, há 50 anos, e a preservarem a dança no Brasil estão entronizados na atual sede (Foto: Beth Santos)

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Cerca de 70 crianças são atendidas no Centro Cultural Casa do Jongo

Toda a decoração da Casa do Jongo recebeu patrocínio da Petrobrás. “O objetivo do projeto era criar uma espaço no qual a atmosfera familiar reúne, abraça e inspira a todos que frequentarem a Casa”, explicou o diretor de arte do espaço, Rui Cortez.  “Inspirada nas antigas residências do subúrbio, a sensação é mesmo de estar na casa da avó, com filtros de barro, móveis populares e toalhas estampadas de chita”, completou Cortez.  Segundo Suellen, há o objetivo de transformar o novo centro cultural em escola. “A ideia é oferecer um segundo turno para os alunos, uma escola de formação cultural, o que é bom para as crianças e para os pais que precisam trabalhar o dia todo”. Outra meta será a autogestão. “Vamos formar os moradores da Serrinha para que eles mesmos possam usar e comandar casa. Eles devem decidir o que ter aqui e definir as aulas e os projetos que melhor atendam a comunidade”, destacou Suellen.

Magia sagrada

O Jongo, também conhecido como Caxambu e Corimá, é modalidade de música para dança afro-brasileira, essencialmente rural, promovida ao som de tambores, tal como o Caxambu, e que influiu poderosamente na formação do samba carioca, em especial, e da cultura popular brasileira como um todo. Segundo os jongueiros, o Jongo é o “avô” do samba; a palavra, “Jongo”, deriva do termo quimbundo jihungu. Inserindo-se no âmbito das chamadas danças de umbigada (sendo, portanto, aparentado com o Semba ou Masemba, de Angola), o Jongo chegou ao Brasil introduzido por negros bantos, sequestrados para serem vendidos como escravos nos antigos reinos de Ndongo e do Kongo, região compreendida hoje por boa parte do território da República de Angola.

Composto por música e por dança características, animadas por poetas que se desafiam por meio da improvisação entoando cantigas ou pontos enigmáticos, o Jongo tem, provavelmente, como uma de suas origens (pelo menos no que diz respeito à estrutura dos pontos cantados) o tradicional jogo de adivinhação angolano denominado jinongonongo. Como expressão de uma religião mantém um traço essencial de sua linguagem: a presença de símbolos que possuem função supostamente mágica ou sagrada, provocando, segundo se acredita, fenômenos fantásticos. Desse modo, o fogo serve para afinar os instrumentos e também para iluminar as almas dos antepassados; os tambores são consagrados e considerados como ancestrais da própria comunidade; a dança em círculos com um casal ao centro remete à fertilidade; há, ainda, as ricas metáforas utilizadas pelos jongueiros para compor seus “pontos” e cujo sentido permanece inacessível para os não jongueiros.

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Composto por música e por dança animadas por poetas que se desafiam por meio da improvisação, entoando cantigas ou pontos enigmáticos, o Jongo tem, provavelmente, como uma de suas origens (pelo menos no que diz respeito à estrutura dos pontos cantados) o tradicional jogo de adivinhação angolano denominado jinongonongo

Entre as diversas comunidades que mantêm (ou, até recentemente, mantiveram Jongo) podem-se citar, como exemplo, as localizadas na periferia das cidades de Valença, Vassouras, Paraíba do Sul e Barra do Piraí (todas fluminenses), além de Guaratinguetá e Lagoinha, com reflexos na região dos rios Tietê, Pirapora do Bom Jesus onde ainda é muito forte também o samba de bumbo e as umbigadas, e Piracicaba onde ocorre uma manifestação muito semelhante ao jongo conhecida pelo nome de batuque (todas em São Paulo) e até em certas localidades no sul da Bahia.

Na cidade do Rio de Janeiro, a região compreendida pelos bairros de Madureira e Oswaldo Cruz, já nos anos imediatamente posteriores à abolição da escravatura, centralizou durante muito tempo a prática desta manifestação na zona rural da antiga Corte Imperial, atraindo grande número de migrantes ex-escravos, oriundos das fazendas de café do Vale do Paraíba. Entre os precursores da implantação do Jongo nesta área se destacaram a ex-escrava Maria Teresa dos Santos, muitos de seus parentes ou aparentados, além de diversos vizinhos da comunidade, entre os quais Mano Elói (Eloy Anthero Dias), Sebastião Mulequinho e Tia Eulália, todos eles intimamente ligados à fundação da Escola de Samba Império Serrano, sediada no Morro da Serrinha.

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