
Foto aérea do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) mostra à direita da imagem como o lugarejo ficou após o rompimento da barragem (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
As centenas de mortes e a monstruosa destruição causadas pela onda de lama e rejeitos químicos que vazaram no dia 5 de novembro da barragem do Fundão, em Mariana, e que a partir do antigo distrito desta cidade mineira, Bento Rodrigues, impôs ao país seu maior “desastre” ambiental, mais de um mês depois seguem rendendo protestos e justas indignações coletivas, embora, até o momento, não tenha havido a devida condenação e responsabilização da Vale e suas associadas estrangeiras que, por detrás da mineradora Samarco, ainda exploram este forma de atividade — sabe-se agora, tão potencialmente arriscada e letal para quem vive no seu entorno e/ou mesmo há quilômetros de distância, em outro estado, inclusive.

Cirinho Rio Doce, artista natural de Colatina (ES)
Um destes gritos de indignação chegou ao Barulho d’água Música por intermédio do cantor e compositor Cirinho Rio Doce, artista natural de Colatina (ES) e que traz em seu nome artístico homenagem justamente ao rio que banha sua terra natal e mais afetado pela devastação. Cirinho Rio Doce compôs música e poema, apresentados por meio de um vídeo intitulados O lamento do Rio Doce e o desastre de Mariana que poderá ser visto clicando o ponteiro do mouse neste linque em azul ou caso o mesmo expire visitando-o pelo endereço virtual https://www.youtube.com/watch?v=0YyE_5yoQUg .

Cachorro que estava preso na lama em Paracatu de Baixo, no interior de Minas Gerais, resgatado por bombeiro: a cidade também foi afetada por uma enxurrada de lama após o rompimento da barragem da Samarco (Foto: Douglas Magno/AFP)
Cirinho Rio Doce,que começou a carreira cantando em festivais por várias regiões do Brasil, e pelo Vale do Rio Doce, antes mesmo do rompimento da barragem do Fundão já acusava o descaso de órgãos públicos, empresas e entidades que vinham pondo na marca da cal as belezas e utilidades à vida que o rio oferecia ao longo do seu trajeto, por terras mineiras e capixabas. Em agosto lançara o quinto álbum da discografia, Cirinho Rio Doce, que trouxe entre as faixas canções como Fala Moço e Trem de Minas — esta retratando o próprio olhar sobre o trajeto do trem de Governador Valadares (MG) a Vitória, capital do Espírito Santo.
O percurso da composição faz parte da vida e das memórias afetivas do colatinense desde sua adolescência e de acordo com Cirinho também toca os demais mineiros e capixabas que conhecem e se utilizam do transporte sobre os trilhos da ferrovia que une os dois lugares da região Sudeste. “São famosas as opções culinárias e os doces vendidos por ambulantes por onde a locomotiva passa”, apontou, por exemplo. “Andar nesse trem é passear pela história dos dois estados, ver seus casarões abandonados e outros preservados”, complementou, ponderando que as mudanças ocorridas na paisagem ao longo do caminho do trem “são uma página que deveria ser apagada da história”. E explicou por que pensa desta forma: ”A parte ruim do longo trajeto é ver muitas casas abandonadas, o que mostra a força do êxodo rural. Não gosto de passar próximo à divisa dos dois estados, porque o rio Doce foi desviado. Parece que morreu uma parte de mim, já que eu conhecia o traçado original”.

A lente do fotógrafo Christophe Simon, da AFP, registrou uma das áreas mais atingidas pela lama em Bento Rodrigues
O Rio Doce, portanto, já fora vítima de agressões desde bem antes do colapso provocado pela lama da Vale e que até mesmo o mar e muitas praias já contaminou, provocando efeitos que deverão perdurar por décadas. Conclui-se pelas palavras de Cirinho que o Rio Doce vinha sendo utilizado como fonte de riqueza e de exploração, nem sempre sustentável ou planejada, mesmo se ou quando pudessem ser úteis às comunidades.
Nem tudo, entretanto, soa como denúncia ou mesmo poderia ser apontado como mero panfletarismo (esta, claro, não é a opinião que o blogue faz ao analisar a postura do capixaba, posto que o considera, como a maioria dos artistas costuma ser, porta-voz sensível e comprometido com a preservação de suas tradições e lugares) neste grito de Cirinho. Com o primeiro vídeo, ele também enviou à redação cópia de outro, apresentando a música Menina Luiza — um belo poema repleto de esperança no qual preconiza que “a vida é como o Rio Doce, cheio de mistérios” e por mais que “não andamos devagar para sentir o cheiro das flores/ para ver o filho crescer/ sentir o cheiro da chuva/ ver as ondas do mar” (…) “tem as estrelas que clareiam a escuridão” e “como durante a vida tudo passa (“assim como as sementes que vão germinar/como a criança que acabou de nascer”) nem tudo é tristeza, desilusão”, deveríamos procurar ser felizes, pois na “viagem do tempo que não sei onde vai dar (…) pela estrada da vida é preciso procurar ser feliz, “sonhos não podem faltar, pois o sonho é um novo dia”.

Foto aérea mostra o Rio Doce inundado com lama após o rompimento de barragens da mineradora Samarco, cujos donos são a Vale e a australiana BHP, em uma área onde o rio se une ao mar na costa do Espírito Santo (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
O Barulho d’água Música, abraçado a esta esperança, também assim deseja! E vai alimentar o sonho da recuperação mais breve possível do Rio Doce e das populações ribeirinhas, flora e fauna do entorno tanto pela própria força da (sua) natureza, quanto pela ação da justiça brasileira e até mesmo de cortes internacionais para que tanta dor e lamento registrados nas imagens que poderão ver visitadas pelo linque abaixo não permaneçam impunes!
Imagens de fotógrafos de várias partes do mundo mostram como ficou Bento Rodrigues e os impactos do vazamento da lama após o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana. No destaque, ao lado do título, registro de Mario Tama (Getty Images/AFP) de protesto defronte à sede da Vale
2 comentários sobre “762 – Cirinho Rio Doce, que em agosto lançara quinto disco da carreira, compõe canção e poema em homenagem ao Rio Doce”