784 – Músico da Boa Terra, Sergio Di Ramos lança álbum de jazz tupiniquim e defende a música como elemento de reflexão e devoção

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Sérgio Di Ramos, cantor e compositor baiano nascido em Itabuna e atualmente radicado em Ilhéus está comemorando o sucesso de Tupynamjazz, álbum que lançou ao final de 2014, com participações de Chico Lobo, Quinteto Violado e Bárbara Leite e já se encontra esgotado na maioria das lojas virtuais para as quais foi distribuído. O álbum de 15 canções que precisa ser encomendado por vários dos sites do gênero pela falta dele no estoque é o quinto da carreira que Sérgio Di Ramos iniciou já maduro, em 2008, embora tenha inclinação para a música desde criança: aos 9 anos já ensaiava composições com influências inclusive do rock progressivo do Pink Floyd, aos 12 ganhou o primeiro violão, um presente da mãe, e com 17 baixou no Rio de Janeiro levando na mala fitas cassetes nas quais gravara o que classificava de “garatujas musicais”, conforme contou à jornalista Raquel Rocha, durante entrevista ao programa Bem Viver, da TV Itabuna, em novembro de 2014.  A ideia era apresentá-las aos produtores culturais lotados na Cidade Maravilhosa, mas o plano não vingou.

Sem sucesso nesta primeira tentativa feita em 1976, Sergio Di Ramos buscou se afirmar por meio das artes plásticas, atividade que ainda exerce, mas agora não apenas paralelamente à música, mas ligando ambas por meio da luthearia: nos tampos dos violões que constrói, utilizando-se de cabaças, desenha a esferográfica figuras femininas monocromáticas criando peças artísticas “fora do convencional tanto do ponto de vista do suporte, quanto do próprio material utilizado”.  Antes desta fase, os primeiros passos como artesão o levaram a percorrer o país e esta opção trouxe mudanças de objetivos. Assim, ele passou a compor e tocar “apenas para consumo próprio”, embora sempre tomando o cuidado de registrar suas obras musicais nos respectivos órgãos públicos que administram direitos autorais e outras questões relativas ao ofício.

Em 2008, em um evento ambientalista (outra de suas paixões é a militância neste setor) promovido em São Paulo, Sérgio Di Ramos reencontrou o pessoal do Quinteto Violado, que conhecera ainda no Rio de Janeiro. Toinho Alves, então líder do grupo pernambucano, foi quem o convenceu a pegar a estrada como músico, dando enfim asas ao cantor e ao compositor que habitam o hoje também professor universitário que leciona em Ilhéus.

“Retomei as composições com muita vontade de acertar não tanto como profissional, mas para produzir música como elemento lúdico, de inspiração e de reflexão”, observou na referida entrevista a Raquel Rocha, aquela altura da vida já preocupado com questões que mobilizam os debates em torno do meio-ambiente e de outras demandas ecológicas. “Ser ambientalista está em minha essência, sempre fui preocupado com a preservação, com o verde, com a água, com o mar, com a limpeza, com  temas que, dizem, representariam o ser humano como animal racional”.

Entre outras opiniões deste campo de observações e de vivências, Sergio Di Ramos acredita que “o consumo nos enlouquece e nos deixa sempre fora de moda”, sensação que, crítica, derivaria de males como a “obsolescência programada” que determina um tempo de vida útil curto à vários produtos e bens de consumo de uso diário e praticamente nos obriga a descartá-los às vezes menos de um ano depois de adquiri-los.  Esta consciência também norteia seu labor como músico que em sua própria definição ainda está “emergente”, mas que contabiliza participações em concorridos festivais e programas de televisão em cidades da Bahia, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e do Distrito Federal, nos quais avançou às fases finais com composições como Rosário de Licuri e Águas de Quixeramobim, ambas do Tupynamjazz (termo que define como “jazz catira” ou “jazz tupiniquim”) e que foi convidado para abertura de shows para João Bosco e Toquinho.

“Precisamos voltar a ouvir música como elemento de contemplação, de meditação, e de reflexão, pois ela não é apenas para movimentar o corpo”, afirmou. “Esta é uma forma de arte sublime para vivermos momentos de devoção, sozinhos ou com a natureza; estamos nos esquecendo do prazer de ficar sentado ouvindo, vendo o jeito do intérprete, o gesto nos lábios do cantor, o dedilhar das cordas do violão e,  agindo assim,  apagando o ser.”

 

Roberto Rabat Chame, outro jornalista da Boa Terra, também tece elogios às obras de Sérgio Di Ramos, pois “tratam de temas áridos com leveza e sutileza incomuns”, conforme texto que publicou no blogue R2CPress/A letra fria da verdade por ocasião do lançamento do álbum Simples do conterrâneo, em 2011. Rabat Chame observa que Sérgio Di Ramos passeia com desenvoltura por estilos distintos que vão do samba ao blues, do frevo à balada, da bossa nova ao rock promovendo “música pop conceitual à altura dos grandes nomes da MPB”. Ainda conforme o crítico, trata-se de “artista maduro que em suas letras satiriza, inventa, emociona, tanto toca o coração, quanto provoca reflexão”, enfocando o “Brasil e sua gente, riquezas e espoliações, méritos do povo e seus espúrios dirigentes” como temática recorrente. “Tudo feito com graça, ironia fina e espanto”.

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2 comentários sobre “784 – Músico da Boa Terra, Sergio Di Ramos lança álbum de jazz tupiniquim e defende a música como elemento de reflexão e devoção

  1. Sérgio, encontrei por acaso sua entrevista, mas não acredito no acaso, e sim no real, temos historia de vida um poco parecida, mas a sua, deu-me novo animo para continuar a minha, obrigado, espero que esse comentário chegue ate vc, acredito que chegará, um abraço fraterno.

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