O compositor, arranjador, pesquisador e professor universitário Ivan Vilela (Itajubá/MG) forneceu ao Barulho d’água Música arquivos de sua obra fonográfica que incluem álbuns hoje raros como Hortelã e Vereda Luminosa, Teatro do Descobrimento e Espiral do Tempo. Ivan Vilela é considerado um dos mais talentosos violeiros de todos os tempos no Brasil e não apenas em seu meio já que é muito respeitado entre os colegas músicos de todos os segmentos e ainda na Academia, ambiente no qual ajudou a despertar o interesse pelas pesquisas e produções cujo tema é a viola caipira e o universo rural a ela associado, incluindo costumes e o linguajar em variados períodos desde a colonização por Portugal. É autor de Cantando a própria história – Música caipira e enraizamento, livro da Editora da USP (Edusp).
Da obra em discos, Hortelã, por exemplo, no qual ele também canta, arranca até hoje aplausos. Gravado em 1985 quando formava duo de voz e violão com Pricila Stephan, em formato vinil, o disco está esgotado e quem o tem considera-se possuidor de um tesouro. É dedicado ao conterrâneo Dércio Marques (Uberaba/MG) e registra o lirismo que permeia a canção mineira, notadamente das bandas onde nasceu. As várias camadas do encarte se abrem como folhas de hortelã que trazem entre as informações técnicas que todos os arranjos instrumentais e vocais saíram do cinzel de Ivan Vilela, enriquecidos por faixas com participações de Gildes Bezerra e Fernando D’Andrea, ícones da peculiar música sul-mineira. Vereda Luminosa tem direção musical e arranjos para viola e flauta sobre músicas de compositores goianos diversos e integra a série Sons do Cerrado.
Teatro do Descobrimento e Espiral do Tempo marcam a passagem de Ivan Vilela pelo grupo Anima, do qual fez parte por sete anos, entre 1992 e 1999. O Anima se destaca por mesclar sonoridades medievais e renascentistas com ritmos folclóricos, perfil que permitiu a Ivan Vilela introduzir a viola no meio erudito e com ela fazer a ponte entre este estilo e o popular, atuando ainda como compositor e arranjador. Espiral do Tempo faturou duas vezes os prêmios Movimento e ainda arrebatou o da Associação Paulista dos Críticos de Arte, entre 1997 e 1998.
(O Anima reunia entre outros músicos além de Ivan Vilela a cantora Isa Taube e o violonista/violeiro Ricardo Matsuda. Isa Taube gravou em 2010 Flor da Lua, trabalho que conta com participação de Ivan Vilela tocando viola e violão em Valsa Para Viver um Grande Amor, Bem, Mana e Vida Maneira, composições dele com letras de parceiros como Ravi Kefi, Marcellus Bezerra e Gildes Bezerra. Flor da Lua é o segundo disco solo de Isa Taube e conta ainda com outros dois bambas da viola caipira que são Paulo Freire e João Paulo Amaral).
A primeira obra que associa Ivan Vilela ao universo caipira é Paisagens (1998), joia instrumental que tem a viola caipira como base e rendeu indicações para o Prêmio Sharp (1998/99), na categoria Revelação Instrumental. Neste disco fica notória a capacidade de compor e de tocar viola caipira de Ivan Vilela à medida que se ouve composições autorais como A Força do Boi e Armonial e releituras de clássicos como Saudades de Minha Terra (Goiá e Belmonte) e Asa Branca. Outro registro deste hino de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira liga Ivan Vilela também ao Coral Trovadores do Vale — que gravou uma coletânea em 1997, no Sesc Pompeia, em São Paulo, com vários violeiros.
(O Coral Trovadores do Vale foi fundado em 1970 pelo frei Francisco Van Der Poel, conhecido como Frei Chico, e por moradores do bairro Olaria da cidade de Araçuaí (MG), com a proposta de valorizar a rotina, os costumes e as riquezas da cultura popular do Vale do Jequitinhonha. É formado por lavadeiras, pedreiros, donas de casa, sapateiros e comerciários que entoam cantos de trabalho, de profissões como canoeiros, tropeiros, boiadeiros e machadeiros, músicas religiosas e danças de roda, acompanhadas por sanfona, rabeca, viola, instrumentos de percussão e sapateados de pés descalços).
Ivan Vilela também atuou como diretor e arranjador da Orquestra Filarmônica de Violas, de Campinas (SP), e sua marca está presente em dois álbuns gravados.
Há ainda um primoroso trabalho dedicado ao público infantil, Quatro Histórias de Rubem Alves, editadas em livros e musicadas por Ivan Vilela. Duas delas contêm canções e as outras duas, músicas instrumentais. Vários destaques da música popular e regional participaram deste trabalho, dentre eles Ceumar, Quarteto D’Arcos, Renato Braz, Suzana Salles, Toninho Carrasqueira, Fernando Deghi e Ricardo Matsuda. Os arranjos são de Renato Kefi. Suzana Salles também é parceira nos discos Caipira e Mais Caipira, com Lenine Santos completando o trio.

Benjamim Taubkin e Ivan Vilela estão juntos no projeto batizado de Encontro e tocam ao piano e à viola composições de ambos e releituras de Milton Nascimento (Fotos: Marcelino Lima/Arquivo Barulho d’água Música)
Do Corpo a Raiz reúne a trilha sonora do espetáculo de dança homônimo que “revisita e recria o sagrado e o profano presentes em práticas populares tradicionais”, de acordo com os integrantes da Companhia Vidança, que nele atua com direção de Paula Vital Reis. “A concepção coreográfica observa como as raízes caipiras se movimentam em corpos contemporâneos e urbanos” e Ivan Vilela se encarregou da linguagem sonora que permite esta manifestação por meio de ritmos como congado, moçambique, catira, guarânia, querumanas, folias, batuques, cantigas e sambas de roda.
Batuque, piano e viola
Atualmente, entre outros projetos, Ivan Vilela dedica-se aos concertos que promove desde 2015 com o pianista Benjamim Taubkin (SP) e que deverá resultar, em breve, em mais um álbum para sua abrangente discografia, a ser gravado com o título de Encontro.
Apresentado em 11 de janeiro no teatro Anchieta do Sesc Consolação em mais uma rodada do projeto Instrumental Sesc Brasil, Encontro oferece um harmonioso repertório com composições como Caipira, De Algum Modo e Mantendo a Fé, de Taubkin, e A Força do Boi, Sertão e Castelo dos Mouros, de Vilela. Os dois também revisitam a obra autoral de ou recolhida por Milton Nascimento e brindam a plateia com inusitados arranjos para A Lua Girou, Milagre dos Peixes e Cravo e Canela; nesta vão além dos limites que os instrumentos aparentemente poderiam oferecer e exploram as capacidades percussivas tanto o piano, quanto da viola, batucando-os).
Pianista e pesquisador que tem mesclado seu talento a diversas vertentes da música, gravando com grupos voltados às culturas populares brasileiras e às sonoridades chamadas étnicas, de várias localidades, Benjamin Taubkin considera a música de Ivan Vilela “natural por estar em contato profundo com as tradições brasileiras” e “tão bem acabada e construída, que acaba por penetrar em outro território – que é o trabalho elaborado, dos cuidados da música e do autor”. O piano e a viola, prossegue Taubkin, “têm muitos assuntos e uma plateia de harmônicos – que somados dão uma multidão, mas que também permitem transparência e o silêncio”.
O Barulho d’água Música tem também em sua coleção Violeiros do Brasil (1998), que traz além de Ivan Vilela entre outros Roberto Corrêa, Adelmo Arcoverde, Zé Coco do Riachão, Passoca, Almir Sater e Braz da Viola. A discografia de Ivan Vilela conta ainda com Trilhas (1994), registro musical de quatro grupos campineiros que contavam com a presença de José Eduardo Gramani e no qual participa com os grupos Anima e Trem de Corda. O Trem de Corda é um trio de câmara formado por violão/viola, violino e violoncelo, que tentando romper as fronteiras entre o erudito e o popular toca do choro à música barroca. Trilhas está esgotado é teve duas indicações para o Prêmio Sharp.
Discos de ou com participações de Ivan Vilela disponibilizados para o acervo do blogue
Hortelã (1985)
Coral Trovadores do Vale (1997)
Espiral do Tempo (1997)
Paisagens (1998)
Teatro do Descobrimento (1999)
Caipira (2004)
Vereda Luminosa (2006)
Dez Cordas (2007)
Do Corpo à Raiz (2009),com participação de Anderson Baptista
Mais Caipira (2010)
Orquestra Filarmônica de Violas (I e II)
Pulo do Gato Convida Ivan Vilela
Quatro Estórias
Os arquivos de música estão disponíveis para download ? Tentei obter uma resposta nas próprias matérias mas não consegui. Pergunto isso porque, apesar de grande amigo do Ivan Vilela há mais de 30 anos, partindo do mesmo inicio musical, até hoje ainda não consegui o CD Vereda Luminosa… Outra coisa: gravei um CD em 1997, e estou relançando-o novamente agora. Não é exatamente uma musica “regional”, mescla muitas influências e timbres sob uma ótica sul-mineira, e foi uma despedida da “música cantada”, a partir me dedicando quase que integralmente ao instrumental, que é o que estou começando a gravar agora, centrado na flauta ( apesar de meu nome real ser Ricardo Viola ( Ricardo Maggessi Viola ), a flauta é meu instrumento principal, além das cordas e teclas. Como poderia enviar este antigo Cd ( Companhia Mantiqueira ) para vocês ? Vocês se interessariam em conhecê-lo ? Conheci hoje o Barulho D”Água e achei muito interessante, já encontrando de cara citações sobre muitos amigos queridos, como Ceumar, Ravi Kefi, Zé Helder, Jucilene Buosi, Gildes Bezerra,etc…
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Olá Ricardo Viola, tudo bem?
Em primeiro lugar, obrigado pelo contato. O Barulho d’água Música recebeu do Ivan Vilela os linques apenas para baixá-los, em formato MP3. Não temos autorização para repassá-los, mas acredito que o Ivan, que é muito nosso amigo, não se negará a permitir que eu encaminhe para você o áudio do Vereda Luminosa. Vou consultá-lo e te peço apenas um tempo até a resposta, depois me comunico contigo. Fique a vontade para enviar material para barulhodeaguamusica@gmail.com e o CD físico para “Solar da Lageado/Barulho d’agua Música”: rua Jacob Roganti, 164, Vila Lageado/Jaguaré, São Paulo, SP, CEP 05338-030. Um abraço e parabéns pelo trabalho!
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