Os cantores e compositores Passoca, Alzira Espíndola e Gereba se encontraram na noite de domingo, 14 de fevereiro, para protagonizarem acompanhados por Noel Bastos (percussão) e Peri Pane (violão e violoncelo) mais um show do projeto Lira Paulistana: 30 anos. E depois? que vem sendo promovido desde janeiro no teatro da unidade Ipiranga do Sesc da cidade de São Paulo. Mais do que recordarem canções que os consagraram quando integravam a Vanguarda Paulista, o trio homenageou vários expoentes da música regional e popular brasileira, um dos quais Geraldo Roca. Com voz embargada, Alzira Espíndola (que tem como nome artístico, atualmente, Alzira E.) conseguiu conter o choro, mas não represou a emoção ao interpretar, ao violão, Trem do Pantanal, que Roca compôs com o conterrâneo Paulo Simões e que se tornou um hino oficioso do Mato Grosso do Sul. Geraldo Roca foi encontrado morto em seu apartamento situado em Campo Grande (MS), na manhã do mais recente Natal.
Passoca foi o primeiro a ocupar o palco durante o espetáculo. O paulista de Santos residente em Ribeirão Pires, na região metropolitana de São Paulo, no fez valer seu conhecido bom humor para recordar que conheceu os amigos Alzira e Gereba no final da década dos anos 1970, quando ainda cursava Arquitetura e morava em uma república de universitários da rua Mourato Coelho, situada na Vila Madalena, bairro no qual o Lira Paulistana já pulsava, situado há algumas quadras, na rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros. Todos eram vizinhos próximos (Gereba morava na rua Girassol) e compunham um grupo do qual também faziam parte, por exemplo, Arrigo Barnabé, Tetê Espíndola e Almir Sater. Da reunião de alguns deles em uma garagem só pelo prazer de tocarem juntos surgiu a ideia de procurarem a direção do Lira Paulistana e lá se apresentarem. Nascia o Vozes e Violas, que foi atração do teatro em algumas rodadas do projeto Xô Coruja, que entrava pelas madrugadas reunindo Passoca e Carlão de Souza (do Flying Banana), Gereba e Capenga (do Bendengó, BA) e Alzira Espíndola, que compunha o Lírio Selvagem com a irmã Tetê, entre outros músicos, e Almir Sater, representando o Mato Grosso do Sul.
O que deu “liga” para atrair o público e aproximar os artistas, comentou Passoca, foram as características peculiares de cada trabalho, que, individualmente, era rico em elementos e influências regionais dos estados dos quais provinham, aliadas à atitude de pesquisar novas sonoridades as quais, respeitando tradições, dialogassem com tendências urbanas que eles captavam, propondo uma nova linguagem capaz de não apenas valorizar e resgatar a diversidade de ritmos do cancioneiro brasileiro, mas tanto formar e aproximar públicos — que até então poderiam ser considerados díspares oferecendo, antes de qualquer intenção vanguardista, música boa, sem rótulos ou identidades estéticas, mas vitaminada por poesias, arranjos inusitados, irreverência, contestação, entre outras qualidades e habilidades que a turma do Lira Paulistana tinha de sobra.
A Arquitetura teve um aluno brilhante, mas Passoca seguiu o caminho dos palcos e optou por empunhar violões, violas e microfone, ao invés de se sentar defronte a pranchetas e lidar com apetrechos para desenhar imóveis. Em sua apresentação, trouxe tributos a expoentes da música caipira cantando Tristezas do Jeca, de Angelino de Oliveira, e Moda da Pinga, de Ochelsis Laureano, eternizada por Inezita Barroso. Depois, fez a alegria do auditório cantando as coloquiais crônicas que brotaram de sua veia de poeta paulistano, tais quais Relógio da Paulista (dele e Guca Domênico) Sonora Garoa e Perto da Lagoa.
Alzira Espíndola privilegiou no repertório que levou ao Ipiranga sucessos dela em parceria com Itamar Assumpção, que ambos iniciaram na década dos anos 1980. Estava acompanhada por Peri Pane, músico da nova geração que bebe das águas da Vanguarda Paulista e com o qual começou o show cantando Sei dos Caminhos — que além dela e do Nego Dito Beleléu, traz como coautora, de acordo com algumas fontes de referências, a escritora Alice Ruiz. Os dois também cantaram Uma Canção, de Alzira E e arrudA, que Pane gravou no álbum Canções Velhas para Embrulhar Peixes 2. O disco, por sinal, será lançado neste sábado, 20, na unidade Belenzinho do Sesc, situada na rua Padre Adelino, 1000, a partir das 21 horas.
As três primeiras músicas que Gereba trouxe fazem parte de Cante Lá que eu Toco Cá, espetáculo que ele vem promovendo em turnê por vários estados brasileiros. Enquanto ele revelava toda a sua sensibilidade de instrumentista e dedilhava ao violão Assum Preto e Asa Branca, da discografia de Luiz Gonzaga, Carinhoso, de Pixinguinha, e Felicidade, de Lupícinio Rodrigues, a plateia respondia cantando os versos das consagradas canções. Em seguida, dedicou-se a lembrar parcerias que fez, por exemplo, com Patativa do Assaré (a belíssima Festa da Natureza, que Fagner gravou, foi a obra escolhida) e Capinam, que Gereba considera o maior compositor com o qual já produziu. Da cumplicidade de ambos os baianos as eleitas foram Valsa Derradeira, La Nave Va e Três por acaso, com a qual chamou de volta à cena Passoca, Alzira, Noel Bastos e Peri Pane.
Com o time completo, o trio relembrou músicas que embalaram os shows do projeto Vozes e Violas, entre as quais Plantinha Formosa (inspirada em uma planta que adornava uma lata de achocolatado e perfumava o jardim da casa onde eles ensaiavam, no final da década dos anos 1970) e Curió (do repertório do Flying Banana, logo após a homenagem a Geraldo Roca), que abria as cantorias durante o Xô Coruja. Faltava por gente para dançar: durante o bis, ao som de Maracangalha, de Dorival Caymmi, a proposta foi irresistível:quem não ficou em pé, puxando o par do lado para fora das poltronas, rendeu-se sentado mas como se caminhasse com a musa da canção rumo ao mar.
De acordo com informações disponíveis no blogue Criatura de Sebo, o Flying Banana foi um trio formado por Bê (voz), Passoca (voz e violão) e Carlão de Souza (viola e violão de 12 cordas), na cidade de São Paulo, em meados da década dos anos 1970. “O grupo seguiu a linha inaugurada por Zé Rodrix, Sá e Guarabyra, que se convencionou chamar de rock rural, tendo um sotaque paulista marcado pelas misturas com modas de viola e temas tradicionais como as caminhadas de romeiros a Pirapora do Bom Jesus, na Grande São Paulo, que aparece na faixa ‘Pirapora’“. “O Bê (Antonio Celso Duarte) compôs está música em 1973 em São José dos Campos, no tempo que cursávamos Arquitetura”, recorda Passoca. “Essa toada serviu de ‘inspiração’ para Renato Teixeira compor a sua famosa Romaria“, emendou. “Ele ouviu essa música quando o Flying Banana veio para São Paulo se apresentar no programa Mambembe, na TV Bandeirantes, que era produzido por Roberto de Oliveira, irmão de Renato.”
O Flying Banana era acompanhado, em participações especiais e na gravação do LP, por Rodolfo Grani Júnior (baixo), Dudu Portes (percussão) e M. Werneck (flauta). Lançou LP homônimo em 1977 e encerrou logo depois suas atividades.
O Bendengó reuniu Gereba, Patinhas, Capenga e João Santana e gravou em 1973 seu primeiro álbum, homônimo. Na linguagem dos índios cariri bendengó significa pedra ou objeto grande, descomunal, tanto que o vocábulo nomeia um aerólito encontrado em 1988 no sertão baiano. É também o rio afluente do Vaza-Barris e como é conhecida a serra de mais de 500 metros de altura entre os rios Vaza-Barris e Itapicuru, também na Bahia.
José Carlos Capinam nasceu em Esplanada (BA) é um dos mais profícuos compositores brasileiros, bastante conhecido por parcerias que quando não ganharam festivais, ao menos emplacaram um dos três primeiros degraus do pódio. Uma de suas obras vencedoras, por exemplo, é Ponteio, que arrebatou o Sabiá de Ouro do III Festival Nacional da Canção, interpretada por Edu Lobo, em 1967, no Teatro Paramount (SP). Um ano antes, Canção para Maria, dele e Paulinho da Viola, ficara em terceiro lugar, interpretada por Jair Rodrigues. Outras parcerias conhecidas de Capinam são Última Mentira (com Fagner); Moça Bonita (com Geraldo Azevedo); Papel Machê (com João Bosco) e Louvação (com Gilberto Gil).
Tetê e o Lírio Selvagem reuniu os irmãos Tetê, Alzira, Celito e Geraldo e embora tenha deixado apenas um álbum gravado, que saiu em 1979, consagrou-se como a banda mais popular do Mato Grosso do Sul por ser a primeira de fora do eixo Rio-São Paulo a gravar rock em uma gravadora de ponta. Os Espíndola, inicialmente, batizam o quarteto como LuzAzul, mas por imposições empresariais, modificaram o nome. Shows que protagonizaram lotaram casas em São Paulo e em Campo Grande e tiveram participação de Almir Sater.
Você foi fiel no seu comentário sobre nossa apresentação,só uma correçãozinha:Passoca mora em Ribeirão Pires perto de Rio Grande da Serra.Ta bão?abraços -Passoca
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Pois bem, senhor Passoca, foi apenas uma desatençãozinha: pensei Ribeirão Pires, tasquei Rio Grande da Serra, coisa de quem agora mora em São Paulo, mas de vez em quando informa que ainda mora em Carapicuíba! O sinhô me perdoe! Vou já corrigir. E muito grato pelo comentário e pelo contato!
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Pois bem, senhor Passoca, foi apenas uma desatençãozinha: pensei Ribeirão Pires, tasquei Rio Grande da Serra! O sinhô me perdoe! Vou já corrigir. E muito grato pelo comentário e pelo contato!
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