O recitador Paulo Netho e o cantor e compositor Dráusio Silva vão se reencontrar no sábado, 16 de abril, a partir das 21h30, no Espaço Versátil Multi Eventos, situado em Osasco, para celebrarem 30 anos da realização do primeiro Poemashow, parceria que promoviam na cidade declamando e cantando sucessos da MPB e do rock em meados da década de 1980, embrião da carreira que ambos passaram a desenvolver como poeta, essencialmente, no caso de Paulo Netho, e músico, no caso de Dráusio, um dos integrantes da banda Subtotal. A apresentação terá a participação do também cantor e compositor Salatiel Silva, que ao lado de Paulo Netho forma a Cara de Pavio Produções Artísticas e desenvolve os projetos Balaio de Doi2, Drops Urbano, e Ciranda de Cantigas.
Paulo Netho, que se tornou profícuo escritor, autor de 14 livros e com mais um já a caminho, a maioria para o público infantojuvenil, rememora que naquele período o país vivia momentos conturbados. “Estávamos saindo do regime de exceção pra retomarmos a democracia, mas boa parte da população ainda estava contaminada pelo pensamento militarista”, observou. “A abertura política exigia a desmilitarização do pensamento, tínhamos muitos medos e sonhos, queríamos um país livre, queríamos mais festa como cantava o Dráusio”.
O blogue também entra na máquina do tempo e recorda que naquele porvir da Nova República jovens bradavam “mais motel, menos quartel”, e fazia sucesso o livro de Roberto Freire (o sociólogo, não o político de Pernambuco, hoje reacionário). De novo com a bola nos pés, Paulo Netho conta que em meio a esse estado de coisas, nascia o Poemashow. “Eu e o Dráusio queríamos ser uma espécie de Toquinho e Vinícius daqueles anos verdes da retomada democrática, era sonho de adolescentes; a nossa ideia era levar poesia e música aos palcos, apenas isto”.
Três décadas separam aquele instante do atual, e, na ótica do poeta, “o país mudou, melhorou e piorou, piorou e melhorou, mas a lama é a mesma: corrupção, escândalos políticos de todas as partes, desemprego, gente sem esperança, enfim, uma pasmaceira total”. A maturidade eclodiu, mas não apelegou os adolescentes daqueles anos 1980. “Seguimos acreditando no poder da cultura, apostando, como bem escreveu Sartre ‘que a cultura não salva nada nem ninguém, mas é um produto do homem e ele se reconhece nela(…) A gente até que se cura de alguma neurose, mas jamais de si mesmo’”.
Antes de arrematar e deixar o convite para amigos e seguidores colarem no Versátil, Paulo Netho ainda comentou. “O negócio da nossa existência é com a gente mesmo, não tem remédio. Mas nossa receita é cantar e recitar, recitar e cantar, não necessariamente nesta ordem”.
Conta que não fecha
A Banda Subtotal, formada naqueles dias, flertava com o rock nacional que se encontrava em total ebulição, mas buscou desde as primeiras gravações uma identidade própria, descolando-se do contexto vigente e do que ditavas as emissoras. As composições e a sonoridade da banda depuraram influências mais corriqueiras e se refugiram em elementos distantes no tempo como a Tropicália e a Bossa Nova, passando a ser identificadas mais com o movimento dito “underground” paulistano que entre outros tinham como templos o teatro do Lira Paulistana, no bairro de Pinheiros. Sendo assim, artistas e grupos como Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Rumo, Le Dantas e Cordeiro entre outros, foram referências marcantes para a poesia, a musicalidade e o comportamento dos integrantes da banda de Oz, que também bebe em fontes como Edvaldo Santana e Paulo Leminski.
Com este perfil, o Subtotal gravou M.úsica P.ropositalmente B.izarra na unidade Belenzinho do Sesc paulistano em agosto de 2012, com a participação do Lobo Solitário de São Miguel Paulista. O álbum traduz a intenção dos rapazes em fazer um som descompromissado com estéticas ou estilos de almanaque, sem abrir mão de protagonizarem música brasileira genuína que passeia entre o rock e o baião, vai do funk ao reggae, tanto nas composições quanto nas reinterpretações de músicas conhecidas. “Em nossa música a conta é sempre aberta, não cabe um total geral, daí o nome, Subtotal”, explicou Dráusio, que enfatiza no álbum as músicas dele e de Paulo Netho Essa Menina e Nova ironia, que além de Londrina, entre outras da dupla, serão apresentadas no Versátil.
A banda Subtotal reúne hoje Dráusio Silva (vocais/guitarra/acordeom), Douglas Silva (guitarra/vocais), Marco Soledade (Pepito), Ju rah Di Anin (percussão), Rey Bass (contrabaixo/vocais) e André Piovan (bateria).
Porrada e afeto
O Grupo Balaio de Doi2, que une Paulo Netho e Salatiel Silva, entretém tanto adultos reticentes quanto crianças festivas. Trabalhando juntos há mais de 15 anos, os dois mostram no palco sintonia fina enquanto colocam o público para cantar e recitar. No repertório destacam-se cantigas de rodas, parlendas, acalantos e trava-línguas além de poesias e canções próprias. Conta, ainda, com a participação ao violão de Ricardo Kabelo.
Já o Drops Urbano tem um destino certo: o coração do espectador. A reação ou efeitos colaterais que causam são instantâneos. O coletivo vai do rock ao forró, incursiona pelo baião, passa pelo blues e oferecendo releituras de baladas de Sérgio Sampaio, Arnaldo Antunes, Arnaldo Baptista. O público aceita o convite de pronto e embarca na nau da poesia e da música que conversa com a vida cotidiana. Os irmãos Walter Bini (violão) e Vinícius Bini completam o time.
Kabelo e Vinícius Bini também formam com Paulo Netho e Salatiel, mais Gustavo Pompiani, o Ciranda de Cantigas, cuja missão é levar às crianças a chama viva das cantigas de roda, perpetuando a tradição do nosso país.
Em carreira solo, o que mais Paulo Netho curte é recitar e escrever para crianças, adolescentes e também adultos que ainda guardem dentro de si alguma fantasia. O recitador vai a escolas, bibliotecas, livrarias, empresas, unidades do Sesc e ONGs ou onde for preciso para levar ao público um dedinho de prosa costurada pelas boas sensações que a poesia enseja no outro. E nestes encontros, diz que se sente como se fosse um mediador de ventos enquanto desperta na plateia estados de infância.
O Versátil Multi Eventos fica na Rua Deputado Emílio Carlos, 744, na Vila Campesina, em Osasco, cidade da Grande São Paulo a 18 quilômetros da Capital, no sentido Oeste, lindeira às rodovias Castello Branco e Raposo Tavares. Para mais informações e reserva de ingressos há o número de telefone 3682-0675.