Danilo Moura e Victor Mendes, músicos que formam o Trio José, vão homenagear o cantor e compositor Sérgio Sampaio nesta quinta-feira, 21 de abril. Para quem não vai enforcar o feriadão dedicado a Tiradentes indo à praia a dica é curtir este tributo a um dos gênios da música popular brasileira que há uma semana teria completado 69 anos, mas cuja vida foi tão intensa quanto curta. A cantoria está prevista para começar às 22 horas na casa situada à Rua Clélia, 285, Pompeia, zona Oeste de Sampa. A entrada custará 20 mangos.
Para muitos dos que cultuam Sérgio Sampaio ele é o mais famoso artista que brotou em Cachoeiro do Itapemirim (ES), terra também de Roberto Carlos e Carlos Imperial. Em sua trajetória como cantor, Sérgio Moraes Sampaio ficou muito conhecido pelo sucesso Eu quero botar meu bloco na rua, com a qual participou do 4º Festival Internacional da Canção (1972) e foi escolhida para integrar o compacto do Festival, ajudando o disco a vender mais de 500 mil cópias e que se celebrizou como marcha de Carnaval de 1973. A música que seria uma resposta a quem o acusava de ter afinado contra a ditadura militar rendeu a Sérgio Sampaio o Troféu Imprensa da categoria Revelação de 1973, entregue pela Rede Globo. E virou bordão de protesto até hoje em voga para quem, em situação adversa, parte para o enfrentamento e vai para as cabeças tentar virar o jogo.
A carreira de Sérgio Sampaio teve influências do pai, Raul Gonçalves Sampaio, autor da música Cala a boca, Zebedeu, e do primo, Raul Sampaio Coco, que compôs o hino municipal Meu Pequeno Cachoeiro, gravado ainda pelo rei do iê-ie-iê. Ele sempre recusou rótulos em vida, mas está entronizado de forma pétrea na galeria dos classificados pela mídia e pelos críticos como “malditos”, galera que reúne entre outros, ainda, o seu amigo Torquato Neto. Por falar em poesia, o capixaba adorava esta forma de expressão (“um livro de poesia na gaveta não adianta nada, lugar de poesia é na calçada!”) e já em 1964 desembarcava no Rio de Janeiro ao encontro dela e das dores e delícias da poética vida boêmia. Contava 17 anos quando deu de cara com o Cristo Redentor, procurando trampo como radialista. Até conseguiu um lugar na Rádio Relógio, mas ficou apenas quatro meses.
Sem sucesso nesta primeira tentativa, ele retornou à Cachoeiro do Itapemirim até que, em 1967, fez as malas de vez e reencontrou-se com o fervo carioca. Dizem que sedento por música e bebida, teria se sujeitado a morar em pensões baratas e até mesmo na rua. Teria passado fome “sempre sedento para mostrar suas músicas, pois precisava de uma orelha e nunca fez doce para tocar”, de acordo com outro primo, João Moraes. A guinada favorável veio ao arriscar a sorte e tentar mostrar suas composições nos estúdios da Rádio CBS, onde então trabalhava um produtor conhecido por Raul Seixas. O terceiro Raul da vida de Sampaio, então, farejou que naquele “menino” havia luz e semente para a renovação da música brasileira e apostou na gravação de um compacto pela gravadora. O disco além de abrir as portas para o cabeludo capixaba ainda é o embrião da longa e frutífera parceria entre ele e o Maluco Beleza.
Sérgio Sampaio também teve envolvimento com várias mulheres e se casou com duas, começando por Maria Verônica Martins, em 1974. A lua-de-mel o afastou dos estúdios até 1975, ano em que gravou Tem que Acontecer (reeditado em CD em 2002), com participações de Altamiro Carrilho e Abel Ferreira. O álbum sucessor de Eu quero botar meu bloco na rua o fez retomar shows e atrairia depois a atenção de companheiros como Zizi Possi e Erasmo Carlos, músicos que se dedicaram a releituras de suas obras, assim como Elba Ramalho, Luiz Melodia e o conjunto Roupa Nova.
Neste momento da carreira o “filho de um pai teimoso”, que descobriu “maravilhado” ser “mentiroso, feio, desidratado e infiel, bolinha de papel” e que nunca seria “réu dormindo”, já se comportava como “um velho bandido” que matava rato para comer, dançava rock para viver e fazia samba para vender sorrindo, intransigente em relação à preferência das gravadoras. Estas posturas e vícios da vida boêmia o deixaram para escanteio até 1981, quando ressurgiu já casado com a Ângela Breitschaft, com quem teve o filho João Sampaio e arquiteta cuja família patrocinaria, em 1982, o compacto independente Sinceramente.
Avesso à mídia e aos confetes, logo, também, terminou o segundo casamento, e, separado, regressou à casa do pai, antes de nova mudança para o Rio de Janeiro. Já na década dos anos 1990, residindo na Bahia, começaram as regravações por vários artistas de alguns dos seus sucessos. Em 1993 declarou que virara abstêmio e anunciou projetos que não chegou a tirar do papel, mas renderam Cruel, que apresenta Sérgio Sampaio cantando ao violão e arranjos de acompanhamento, trazendo músicos como Bocato, entre outros. O álbum saiu em 2006 pelo selo paulista Baratos Afins, com esforço pessoal de Zeca Baleiro, após receber de Ângela Breitschaft uma fita contendo músicas inéditas, e arranjos de acompanhamento, trazendo músicos como Bocato, entre outros.

Caricatura de Sérgio Sampaio, por Jorge Inácio
Para enriquecer a biografia de Sampaio destaca-se, ainda, em 1998, que o compositor Sérgio Natureza produziu o álbum tributo Balaio do Sampaio, dois anos após homônimo show póstumo promovido no Rio de Janeiro com cantores como Alceu Valença, Jards Macalé, poetas e músicos como Chico Caruso e Euclides Amaral. Em 2000, Rodrigo Moreira publicou biografia pela editora Muiraquitã. João Sampaio regravou outras canções do pai com dois artistas capixabas, Inara Novaes e Tiago Gomes, em 2011, entre as quais Menino João, que Sérgio Sampaio escrevera para homenagear o guri.
“Sampaio foi um nome marginalizado que se equipara a Tim Maia e Raul Seixas”, afirma, hoje, o pernambucano Lenine. “A paisagem urbana em geral, e a carioca em particular, na poética de Sérgio Sampaio, possui a fúria modernista”, aponta Jorge Luiz do Nascimento, autor de um estudo da obra do homenageado pelo Trio José, grupo que tem se dedicado a disseminar a obra de Juca da Angélica e gravou com este intuito o álbum Puisia em 2014 com canções cujas letras remetem à obra do poeta mineiro, apresentando em primeira mão no programa Sr.Brasil, de Rolando Boldrin.
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