882 – DVD gravado em Ribeirão Preto (SP) revela a excelência do repertório da Orquestra Paulistana de Viola Caipira

O Barulho d’água Música recebeu um exemplar de Viola in Concert Ao vivo, DVD gravado em 2009 pela Orquestra Paulistana de Viola Caipira (OPVC) no Teatro Pedro II, situado em Ribeirão Preto (SP), produzido pela Associação São Gonçalo de Estudos Caipiras e com direção musical e arranjos de Rui Torneze. Mais do que um mergulho no universo caipira, resgatando e reinterpretando no presente álbum clássicos tais quais Cabocla (Tonico e Tinoco), Natureza (Dino Franco), Saudades de Matão (Jorge Gallati, Raul Torres e Atenógenes Silva), e Índia (J. Assuncíon Flores/M. Ortiz Guerrero, consagrada por Cascatinha e Inhana em versão de José Fortuna), a OPVC apresenta um trabalho que demonstra o esmero em buscar permanente aprimoramento técnico desde quando foi fundada, mergulhando em outras culturas nacionais e estrangeiras com o intuito de divulgar peças de vários ritmos e épocas e permitir (conforme uma palavra dita por Torneze em certa altura da gravação) “plasmar” pelo emprego da viola outras sonoridades, algumas até antes de serem alcançadas supostamente bem mais complexas e distantes dos recursos possíveis de se extrair do pontear das dez cordas do pinho.

Este compromisso tem gerado a construção de um repertório vigoroso, eclético e versátil que une a rica diversidade dos ritmos do cancioneiro caipiras consagrados por seus mais consagrados patriarcas, intérpretes e autores* (toadas, pagodes, moda campeira, valsas, querumanas, guarânias, folias, xotes, recortados) à músicas de impecável qualidade da Nova Era (New Age), do fado, do rock, do choro, da MPB, da música étnica e da ibérico-andina, entre outras vertentes. A lista inclui desde o Hino Nacional (Joaquim Osório Duque Estrada/Francisco Manuel da Silva) à Jesus Alegria dos Homens (Johann Sebastian Bach), o que ressalta dimensões humanas como civilismo e a devoção, este atributo presente ainda em Ave Maria (Bach/Gounod) e Jornada para São Gonçalo (Serrinha/Canhotinho). E tudo tocado por pelo menos cinco bem entrosados naipes, seja de forma instrumental ou cantando, sempre de modo irretocável e envolvente; assistindo ao vídeo e prestando atenção ao trabalho dos violeiros ficamos com a impressão de que seus dedos seriam endógenos e moldados pelas músicas, tamanho é o domínio do e a intimidade com o instrumento que abraçam ao colo: homens, mulheres, adultos, jovens ou crianças ainda na flor da idade (outra característica da OPVC é o encontro de gerações, traço que também constitui o perfil de outras formações do gênero) conseguem alterná-los, às vezes na mesma composição, entre cadências mais pausadas e o virtuosismo e assim alcançar todas as notas que a presente melodia exigir, variando do agudo ao grave com notável fluência e flexibilidade, interpretando e trazendo aos ouvidos do público a alma, o simbolismo e demais elementos, inclusive míticos, que cada música sugira possuir.

Desta forma, protagonizam um concerto memorável nos quais algumas de suas violas (sem perder o sotaque caboclo e renegar as tradições nacionais às quais estão mais fortemente e sentimentalmente vinculadas) soam harmoniosamente dentro do conjunto ao passo que “imitam” à perfeição entre outros cordofones cavaquinhos, guitarras, harpas, bandolins e charango, executando sublimemente composições harmonicamente  mais simples às mais complexas que nos elevam, transportam-nos a lugares (e tempos) que tanto pode ser ao pé de um fogão de lenha ou de uma cabana das Montanhas Rochosas ou Escócia. Entre um e outro momento de idílio ainda encontra-se melodicamente as semelhanças que existem entre obras de Bach, de Vivaldi, de Tião Carreiro, de Lorena Mc Kennitt, de Astor Piazzolla e do The Eagles. A gama de arrepios, senhoras e senhores, atiça reminiscências, pode variar de acordo com as vivências particulares da plateia, mas com certeza ninguém volta para casa ou desliga o reprodutror do DVD sem ter se emocionado ao menos um tiquinho.

É preciso muito ensaio, apuro técnico, dedicação, vontade, identificação, conhecimentos e habilidade para alcançar tais efeitos e guindar a música de viola, para além do veículo de expressão do homem do campo ao topo de um contexto artístico mais amplo e suprarrural, que ao mesmo tempo caiba em um coreto ou em um teatro majestoso e nos redima como seres não apenas de um, mas pertencentes a todos os rincões.  O didático Rui Torneze (uma enciclopédia de conhecimentos sobre autores e obras) e seus “alunos” têm e lapidam predicados que fecham esta equação somados a outra virtude que também contribui para fazer a diferença e construir esta identidade cosmogônica para a OPVC: regem e tocam com simplicidade e ternura, demonstrando amor à arte que escolheram disseminar; sentem o que fazem, fazem o que sentem e assim dão concretude às palavras de um dos violeiros do grupo, José Aparecido Lima, para o qual “assim como há alimentos para o corpo, a música é um linimento para o espirito”. 

arte torneze

A Orquestra Paulistana de Viola Caipira existe de desde 29/10/1997 e seguindo esta linha de pesquisa e de produção aplicada aos ensaios e aos concertos vem cruzando fronteiras não apenas geográficas e encantando plateias ao interpretar com este perfil peculiar a viola caipira em toda a sua simplicidade majestosa. Está sediada na rua Jorge Augusto, 606, Vila Matilde, um populoso bairro da zona Leste da Capital do estado de São Paulo, e tem como padrinhos Inezita Barroso e Pena Branca. Já tocou com inúmeros luminares da música caipira e regional; convidada pelo projeto internacional Violas sem Fronteiras chegou a países como Portugal, instalando-se em  Coimbra e apresentando-se no Santuário de Fátima. Em 6 de maio visitou o teatro do Sesi do jardim Piratininga, distrito de Osasco (SP) e Rui Torneze dedicou o concerto ao Dia das Mães. Na ocasião, as violas foram acompanhadas por instrumentos de percussão e até por uma enxada, tocada de forma a lembrar o retinir de sinos por Vera Carratu, esposa do vocalista Décio Carratu. José Carlos Moretti, neto de Tinoco, estava presente e tinha em mãos uma réplica da viola verde e amarela do avô. O garoto Rodrigo Pavan, um dos filhos de Torneze, o spalla Lucas, e a mãe do regente, Heidy , também abrilhantaram o espetáculo.

No dia 17 de junho, a Orquestra tocará a partir das 20 horas com 54 músicos no teatro do Sesi da avenida Paulista, sem cobrança de entradas.

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