Concerto para Pixinguinha, show que já há três anos lota teatros e casas de espetáculos prestando tributo a um dos mais admirados compositores e arranjadores brasileiros, ganhou versão em álbum que pode ser classificada com dois adjetivos pinçados da letra de Rosa, valsa cuja composição em todo o planeta é um dos mais conhecidos sucessos do mestre homenageado: deslumbrante e bela. O disco marca a estreia do selo Conexão Musical, dos produtores culturais Fran Carlo e Peterson Mello, e reúne 13 faixas, entre as quais Seu Lourenço no Vinho — uma das quatro instrumentais do valioso repertório elaborado para os palcos quando a morte de Pixinguinha atingiu 40 anos. Seu Lourenço..., parceria com Benedito Lacerda e Irmãos Vitale, é a terceira trilha do cedê e se parasse por ai já estaria muito, muito bom: a banda atiça quem a ouve tocando de forma provocante em ritmo que faz o quadril requebrar, espontaneamente, sem saber se dança chorinho, maxixe, jazz ou tudo deliciosamente junto e misturado. A obra inteira, entretanto, arrebata do começo ao fim ao ser impecavelmente interpretada por ninguém menos que Vânia Bastos em afinada harmonia com o quarteto de Marcos Paiva — contrabaixista responsável pela direção musical e os arranjos executados por um timaço que Paiva comanda e reúne Cesar Roversi (saxofone tenor e soprano, clarinete e flauta), Jônatas Sansão (bateria), e Nelton Essi (vibrafone).
Vânia Bastos canta como nunca em Concerto para Pixinguinha, de acordo com um dos críticos que já comentaram sobre o álbum a ser lançado em noite de gala no sábado, 13 de agosto, para a qual está reservado o teatro paulistano J. Safra, a partir das 21h30. O colega jornalista, claro, de um jeito ou de outro, acaba tendo razão. Mas acreditamos que ele quis afirmar o contrário: estrela despontada há mais de 30 anos no âmbito da constelação Vanguarda Paulista, Vânia Bastos desde então já interpretou Tom Jobim, Caetano Veloso e o Clube da Esquina entre outros memoráveis trabalhos e segue cantando como sempre, empregando a voz de timbre cristalino, segura e que modula com rara sensibilidade aqui ou acolá para interpretar, além da citada valsa Rosa, jóias do cancioneiro de Alfredo da Rocha Vianna Filho (1897 – 1973). São músicas que guardam lugar na memória afetiva e de qualquer gosto musical brasileiro há gerações tais como Carinhoso e Lamentos (que simbolizam o perfil mais dolente e amoroso de Pixinguinha) mescladas a Gavião Calçudo e Urubu Malandro — estas representativas do humor e da picardia que na certa compuseram a personalidade do carioca. Ele, ainda garoto, já pisava em cabarés do boêmio bairro carioca da Lapa e neste ambiente absorveu muitas de suas influências.
O álbum é, assim, um retrato fiel da genialidade de Pixinguinha. Os dois produtores culturais são exigentes e até perfeccionistas, não fazem concessão e nem se guiam pelas manias do mercado (aguardem as novidades de ambos que estão a caminho!). Fran Carlo e Peterson escolheram a dedo e ao confiaram no taco de dois artistas amadurecidos acertaram milimetricamente no alvo: Vânia Bastos e Marcos Paiva corresponderam à confiança e apenas procuraram imprimir ao trabalho o máximo de fidelidade ao autor. Ao jornal o Estado de S. Paulo, Vânia Bastos declarou que para interpretá-lo seguiu o que, acredita, Pixinguinha teria pensado. “Ele não fez nada em vão, então, se colocou certas notas ali, é para fazer isso, não é para ficar inventando muito”, afirmou. “Acho legal ter esse respeito aos compositores, em geral. No mais, é se deliciar mesmo”, emendou. “O Pixinguinha, musicalmente, é uma imensidão sonora que ganhei de presente.”
Marcos Paiva também falou ao veículo paulistano sobre a experiência e responsa de ter contato tão íntimo com o universo do “ícone” Pixinguinha. Para “não perder a mão” ao decidir conceber a formação mais jazzística que embala as faixas, o contrabaixista destacou que preservou nos arranjos a sofisticação tanto melódica, quanto harmônica do maestro chorão, mantendo-se atento, ainda, ao estilo vocal de Vânia Bastos. Para se ter uma ideia do quanto a receita deu certo, basta citar que a releitura de Carinhoso em menos de uma semana depois de ser disponibilizada, em 15 de julho, tornou-se uma das cem músicas mais baixadas de uma das maiores plataformas digitais com acesso globalizado.
O disco Concerto para Pixinguinha, que tem parceria com a Atração Fonográfica, logo é candidato certo a figurar em várias listas dos melhores do ano. Já a festa de lançamento enseja um espetáculo que merece ter o nome brilhando em painel luminoso na fachada central do J. Safra, com direito àquela típica e concorrida movimentação de fãs e admiradores às portas de entrada da casa que se acotovelam em estreias de grandes produções artísticas. É para atrair gente de todas as partes, que chegará de carro, a pé, de trem. Fica, então, uma dica àqueles que ocuparem os lugares mais próximos do palco: mantenham olhos atentos buscando enxergar para além dos músicos e da cantora quando os protagonistas estiverem em cena; pensem na possibilidade de um enfatiotado e distinto cavalheiro dar o ar da graça, ser visto entre eles ou a um canto, sentado confortavelmente em uma cadeira de balanço, com um saxofone ao colo, afinal, a alma dele está inteira em cada música do repertório.
SERVIÇO
Vânia Bastos e Marcos Paiva – Concerto para Pixinguinha
Local: Teatro J Safra – São Paulo (SP)
Endereço: Rua Josef Kryss, 318 – Barra Funda
Horário: 21h30
Preço do ingresso: R$ 30,00 a R$ 100,00
Vendas online: http://www.compreingressos.com/teatros/497-Teatro-J+-Safra
Very tthoughtful blog
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