A primeira de três apresentação está marcada para 1º de abril, quando dividirá o palco do Centro Cultural Casarão, situado no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, com o violeiro João Arruda
O público que prestigia e admira a cantora, compositora e poetisa Consuelo de Paula (Pratápolis/MG) terá no próximo mês três oportunidades para vê-la tocar e (en) cantar. As apresentações em Campinas (SP), Rio de Janeiro e São Paulo promoverão espetáculos diferentes, um dos quais marcará, em 1º de abril, a estreia de Arvoredo – Os primeiros gestos da obra na Beira da Folha, projeto que Consuelo de Paula dividirá com o parceiro de estrada, violeiro, compositor e multi-instrumentista João Arruda. Ela e o anfitrião puxarão a cantoria a partir das 20 horas e prometem embalar amigos e admiradores da plateia do Centro Cultural Casarão de Barão Geraldo com o resultado do processo criativo que ambos estão vivenciando, construído pelo diálogo entre diferentes linguagens – imagem, texto, e melodia – em um movimento por meio do qual fotografias e vídeos despertaram poemas, que despertaram melodias, que despertaram canções.
Os músicos acreditam que, amparado em projeções de imagens e vídeos, o show criará na atmosfera do Centro Cultural Casarão um rodamoinho visual e sonoro capaz de trazer à flor da pele variados sentimentos, numa intensa conexão entre as forças da natureza e a imensidão da alma humana. “Mostraremos os caminhos serrilhados pelos quais temos trilhado através das beiradas das folhas, dos veios e das seivas”, escreveu Consuelo de Paula no texto que divulgou à imprensa. “Dos sinais deixados nas estradas, dos mapas desenhados pelos rios e como aves e peixes, ora margeamos e seguimos rio abaixo, ora vamos contra a correnteza pra desaguarmos em outros mares”, prosseguiu a autora de A Poesia dos Descuidos, livro que escreveu com ilustrações de Lúcia Arrais Morales. “Protagonizaremos um concerto com a energia inicial da criação, do entre, da ideia, da inspiração: os primeiros passos dentro do ARVOREDO, o canto que anuncia”.
Consuelo de Paula acentuou que o compartilhamento criativo com João Arruda revelou e fez extremos se tocarem: “A técnica exata da máquina fotográfica, ao traduzir centelhas do acaso” gerou o ponto de partida “para o exercício de sensibilidades musicais insuspeitas”. Imagens fotográficas produzidas em percursos entre montanhas, estradas, florestas, rios e mares constituíram o convite irresistível e inspiraram a poetisa. Depois acolhidos por João Arruda, os poemas transbordaram-se em melodias e desaguaram canções. Um dos instantâneos [que instigaram Consuelo de Paula] capturou, sorridente, Alik Wunder, esposa de João Arruda. Deste olhar que levou o músico a disparar o obturador se revelou o retrato traduzido pelos músicos nos versos da bela Canção para Alik, uma das canções de Arvoredo– Os primeiros gestos da obra na Beira da Folha.
O Centro Cultural Casarão fica na rua Maria Ribeiro Sampaio Reginato, s/nº, com acesso pela Estrada da Rhodia, no sentido Campinas-Paulínia. A entrada estará sujeita à lotação de 130 lugares, com entrega de ingresso a partir das 19 horas; contribuições espontâneas poderão ser deixadas no chapéu. Para mais informações há o telefone (19) 3287-6800
Leia, a seguir, um pouco mais do que Consuelo de Paula escreveu sobre o projeto Arvoredo – Os primeiros gestos da obra na Beira da Folha
“As fotos acolhem e produzem estranhezas, contam sobre o que existe e também dizem do que é incapturável, conferem um ar de mistério. O poema canção desperta outras sensações, nos faz revisitar as imagens, esses pedaços de mundo, para enxergar o que ali não foi capturado, mas que se torna agora presente pelas imagens do pensamento. Para a imagem fotográfica a presença ativa e o toque de um dedo respeitoso são suficientes para criar sonhos, para se fazer conhecer a fala do olhar. Nas mãos dos músicos, palavras e sons acrescentam situações que nunca chegaremos a ver, na medida em que produzem poderosas e igualmente enigmáticas imagens, como a que nos faz enxergar o tempo ‘no oco dos primeiros dias’. Quem, senão alguém ‘parido do umbigo do rio’ pode navegar a vida ‘como peixe-embarcação?’ Nessas situações, a realidade é que surge pontilhada por imagens dissociadas da nossa própria experiência – ‘galho despenteado’ -, e nos coloca em uma relação ampliada com o mundo: ‘saudade é arvoredo dentro de mim’”.
Nesse projeto sonoro e visual, enquanto a fotografia evoca uma natureza ameaçada, o poema e a música vêm em sua proteção: ‘meu amor verdejou o mundo’. Nessas obras sensíveis, os poemas-canções despertam um olhar índio que vagueia e nos espreita por entre folhagens. É um convite à sensibilidade cabocla que, ao fundir-se à paisagem, clama por um verdejar de vida no mundo e nas relações entre homens e mulheres.
Beira de Folha revela, pois, um caminho entre sentimentos e existências humanas e naturais, um projeto que reafirma, para os artistas e o público, a necessidade perene da relação vital entre arte e vida.
Importa reconhecer que os artistas aqui reunidos exploram e intensificam recursos culturais a partir de seus lugares e meios artísticos: na interpretação desses dois grandes cantores e instrumentistas a imagem, a letra e a melodia enfeixam e colocam em movimento os sentimentos do mundo numa intensa conexão entre as forças da natureza e a imensidão da alma humana.”

Canção para Alik
Consuelo de Paula e João Arruda
meu amor verdejou o mundo / flor aparecida entre as algas e as folhas / nascida da fronde / do bosque / cobriu o tronco de verde / refletiu a mata em seu chapéu de princesa / e apenas por um segundo / saiu de dentro do verde e olhou pra mim com seus olhos castanhos
Poema da árvore (2)
Consuelo de Paula, sobre a foto de Alik
meu corpo agora é um tronco comprido / úmido, vívido e fértil / abrigo de algas, líquens e seres invisíveis / ele é o próprio caminho / o barro e a madeira / entre seus sulcos passam rios, ventos e memórias / a plenitude das rugas / a beleza generosa da epiderme / nele posso ver nossos momentos / posso sentir os movimentos do mundo / meu corpo agora é uma estrada bordada de verde / coberta de teias e rendas molhadas / uma árvore, um chão / um caule apontado pro infinito / uma força construída com luta diária / um longo ser vivo assustadoramente bonito / e no alto do tronco / o mistério da vida
O Tempo e o Branco
Em 1º de fevereiro de 2015, Consuelo de Paula lotou o Auditório Oscar Niemeyer do Ibirapuera, em São Paulo. Quem a prestigiou ainda conta com olhos faiscantes: após uma tarde chuvosa, a noite se afirmou subitamente estrelada e serena e foi se tornando cada vez mais agradável à medida em que a cantora desfiou, uma a uma e como se rezasse, as contas de um rosário as inéditas canções de O Tempo e o Branco, nome do mais recente álbum de sua discografia. Antes de lapidar a joia, burilada com participações de Neymar Dias (viola) e Toninho Ferragutti (acordeom), Consuelo de Paula mergulhara na obra poética de Cecília Meirelles (RJ), extraindo desta viagem literária 13 letras; músicas, para duas delas, a própria mineira compôs: as demais confiou ao parceiro e mestre Rubens Nogueira, falecido em 2012 após ser submetido a uma cirurgia no coração, homenageado postumamente no Ibirapuera.
Neymar Dias e Toninho Ferragutti, com compromisso em outro local, cederam, naquela noite, os respectivos lugares para os não menos brilhantes João Paulo Amaral e Guilherme Ribeiro. E será novamente em companhia destes músicos que Consuelo de Paula reviverá e provocará as emoções da noite de estreia de O Tempo e o Branco, agora estrelando-o como atração do projeto Quintas no BNDES, iniciativa do Espaço Cultural do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) programada para 13 de abril, a partir das 19 horas, com entrada franca.
O Espaço Cultural do BNDES fica na avenida República do Chile, 100, Centro, Rio de Janeiro. Para mais informações há os números de telefone (21) 2171-7001.
Consuelo de Paula concedeu entrevista ao jornal O Estado de São Paulo e falou que
“Para compor a sonoridade do O Tempo e o Branco, decidi ir atrás de uma simplicidade maior do que havia sido apresentada nos trabalhos anteriores. Além de combinar na imagem com as teclas brancas e pretas, o acordeom tem uma sonoridade que resume bem o disco. Parece que há uma orquestra dentro do instrumento, tamanhas são a possibilidades que ele oferece. Além disso, foi um instrumento que pôde dar um contraste com o lirismo da poesia. Somado à viola, o acordeom trouxe ao trabalho uma sonoridade interiorana que combinou com as letras que tratam de amor, cotidiano e um tempo tranquilo. Enquanto as letras alcançam um lirismo poético, os instrumentos nos levam para a terra, para o chão e dialogam com as nossas fronteiras.
Percebi que havia uma cor branca guiando esse trabalho. Tive a ideia do título [O Tempo e o Branco] quando me deparei com um ipê branco e o chão em sua volta tomado por folhas brancas. Foi um momento de extrema generosidade da natureza, uma imagem que faz referência a várias simbologias”.
Amor e luta
A terceira oportunidade para quem quiser conhecer o talento de Consuelo de Paula ou ficar mais uma vez arrepiado por toda a magia e sensibilidade que ela evoca nos palcos transcorrerá no Teatro da Rotina (rua Augusta, 912, São Paulo) onde estreará Os Movimentos do Amor e da Luta, espetáculo programado para começar às 21 horas de 29 de abril. O ingresso já pode ser comprado antecipadamente por meio do endereço virtual www.teatrodarotina.org
eram muitas jangadas descendo o rio
com seu machado de lâmina fria
e como quem canta um desafio de rimas, amanheceram
e como quem prepara uma companhia de reis, partiram
e simplesmente, com suas bandeiras, atravessaram a vida
derrubaram muros, acenderam velas, de norte a sul
e como quem baila num rodopio do mundo, anoiteceram
e como quem dispara uma flor de cada vez, amaram
acenderam velas pra seus companheiros
jogaram flores pra quem deles se esqueceu
choraram por seus inimigos
e com os amigos, festejaram a noite
entre silêncios, tambores, sanfonas e maracás
índios, negros e brancos inventavam uma nova contra-dança
uma música com cheiro de longa caminhada
com o suor do trabalho e do prazer, da dor e da alegria
fizeram vigília noite afora
e quando clareou o outro dia
no despertar da alvorada
o país inteiro
se descobriu passageiro
da mesma jangada

Uma resposta para “923 – Consuelo de Paula estreia projetos em Sampa e leva o Tempo e o Branco ao Rio”