A redação do Barulho d’água Música ouviu com gosto os dois álbuns solo do cantor e compositor João Triska (PR), Nos Braços dos Pinheirais e Iguassul, trabalhos que o habilitaram para duas finais consecutivas do Prêmio Profissionais da Música/PPM (categoria Artista-Raiz Regional). Considerado músico dos mais promissores dentro da atual safra brasileira, o jovem curitibano desenvolve trabalho solo desde 2011 no qual contempla gêneros, ritmos e elementos estéticos provenientes da região Sul do Brasil e da América do Sul. Com esta base se apresenta sempre com a viola caipira em mãos, promovendo o instrumento e tradições vinculadas às dez cordas por meio de uma linguagem inovadora, refinada e contemporânea.
Em sua página eletrônica, João Triska se define “integrador de pessoas, de estilos, de sonoridades, de universos musicais e culturais”. Formado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná, encontrou no curso fundamentos para adquirir a meticulosidade das pesquisas e pensamento crítico acerca do universo cultural e conceptual brasileiro, constituindo-se como expoente da forte vertente do compositor brasileiro.
Em 2015, lançou Nos Braços dos Pinheirais, álbum indicado como dos mais influentes pelo jornal do Estado do Paraná entre nove que marcaram a música do Estado naquele ano. O disco, que também compôs a lista de 100 melhores da música brasileira de 2015 de acordo com o blogue Embrulhador, de Ed Félix, realça o legado deixado por um dos maiores ícones da música paranaense — o mestre Nhô Belarmino, verdadeiro autor do clássico As Mocinhas da Cidade e famoso pela dupla Nhô Belarmino e Nhá Gabriela. O CD tem participações de Luiz Carlos Borges (renomado acordeonista rio-grandense-do-sul , que soma o seu talento ao de outros grandes artistas do continente sul-americano com o compromisso de fortalecer a musicalidade de toda essa região), Lydio Roberto, Dany López, Du Gomide, Guilherme Goulart, Romy Martínez, Natalia Bermúdez, Marcela Zanette, Carla Zago, entre outros.
Nos Braços dos Pinheirais colocou Triska pela primeira vez na final do PPM. É um disco que apresenta um cenário composto por naturezas e culturas extraordinárias, por belas paisagens e pela temperança do frio; converge diferentes gêneros, ritmos e elementos estéticos oriundos das terras habitadas pelos pinheirais, que se estende desde o Atlântico Sul até aos pés dos Andes.
Desde o inicio do século XX, o Paraná, acentua Triska, busca reconhecer e afirmar a sua identidade cultural. Por meio do Movimento Paranista, intelectuais e artistas da época apresentaram ícones e formas de representação de temas locais, da flora e da fauna, entre elas a figura do homem-pinheiro, obra de João Turin. Quase cem anos depois, a araucária, patrimônio cultural e simbólico da multiplicidade do povo paranaense, está ameaçada de extinção. E agora? A música de João Triska é um convite para o diálogo acerca da responsabilidade ambiental e sobretudo para as ações efetivas de preservação das matas de araucárias e de seu universo cultural e simbólico.
Iguassul
O inquieto e crítico João Triska ainda não chegou aos 30 anos. Legítimo filho do Sul do Brasil, é um desbravador do território sul-americano e faz jus à quem o qualifica como um dos promissores talentos dentro do universo da música popular brasileira. Explorando os variados gêneros, ritmos e elementos estéticos da América do Sul, conseguiu inaugurar sonoridade singular e inovadora, imbuída dos traços de sua personalidade, integrando à linguagem moderna e contemporânea o essencial de suas raízes.
Iguassul, o segundo trabalho de estúdio, vem nos convidar a romper as ilusórias fronteiras entre o Brasil e a América do Sul, desafio proposto em canções que fluem, livremente, entre o português e o espanhol, entre a milonga, o baião, o reagge, o rock e a lambada. Esta riqueza de timbres, cores e sotaques nos fazem percorrer o continente junto com o músico: ele compôs muitas das faixas em viagens pela América do Sul, como é o caso de A Semente (Mato Grosso) Ojo del Inca(Bolívia), Cerro Memby(Paraguay) e Guartelá (Paraná).
A forte vertente e criatividade do compositor brasileiro, a sagacidade e sobriedade de sua poesia e a valorização das raízes indígenas revelam-se em músicas como Iguassul e Peabiru e num dos hits do disco, Chima, que conseguiu traduzir o hábito cultural mais presente no Sul por meio do humor e no embalo de um bom reggae.
Outro destaque do trabalho são as parcerias entre João Triska e o premiado poeta mineiro Guilherme Gontijo, cujo estilo indecifrável faz o que há de mais belo e sofisticado soar simples e direto, como em Jataí e a Pedras, Panos, Liberdade — que, vale a pena ressaltar, encaixa-se perfeitamente com a situação e atual conjuntura política brasileira.
Os profissionais escolhidos, por sua vez, trouxeram consistência e bagagem para à missão Iguassul; seja no exímio cuidado e sutileza de timbres da produção musical de Luís Piazzetta, das guitarras “encarnadas” de Du Gomide, das notas precisas do baixo de Thiago Duarte ou da riqueza percussivamente latina de Léo Cardoso e Denis Mariano. A soma dos talentos individuais foi muito valiosa em todo processo de gravação, que buscou a construção coletiva dos arranjos das canções de modo a favorecer a liberdade criativa e a harmonia do conjunto.
No desfecho desta expedição musical pelo curso do rio Iguassul, em busca da lendária Terra sem mal, as duas presenças que brilham são do consagrado cantautor Paulinho Moska em A Linha Além, que tem trilhado este caminho de conexão com a América do Sul e cuja conexão com a musicalidade de Triska foi imediata e da bela e delicada voz da cantora Thamires Tannous, que interpreta a romântica canção Em Teu Ser.
Iguassul, depois de Nos Braços dos Pinheirais, portanto, é um passo além-mar, o lança em direção ao pop, ao “som universal”, e consolida João Triska entre os novos nomes da música popular brasileira, por defender um trabalho genuíno e capaz de apresentar a estética do Sul ao resto do mundo, expressando em canções a exótica beleza sul-americana.
Veja em https://www.joaotriska.com/agenda onde serão as próximas atrações de João Triska, incluindo a participação nas noites de 28 e 29 de abril, quando serão anunciados os vencedores do PPM 2017, em eventos programados para o Cota Iate Clube, situado em Brasília (DF).
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