944 – Medo: Belchior morreu. O que será de nós?*

A morte de Belchior ocorrida ontem, 29 de abril, em Santa Cruz do Sul (RS) , pegou-nos todos de surpresa! Escrevemos todos porque nos últimos dez anos não havia uma só pessoa a qual ouvimos, ama música popular brasileira e o conhecera que não rezava, não torcia, não via a hora de o compositor e cantor dos mais poéticos, criativos e contestadores do país voltar a dar o ar da graça, retornado aos palcos dos quais misteriosamente e polemicamente desapareceu. Semana passada se fora Jerry Adriani, no ano passado Naná Vasconcelos, Papete; há alguns anos entre tantos outros Dércio Marques, Jair Rodrigues, Renato Russo, Cássia Eller, Cazuza — gente que quando morre deixa um buraco enorme, sobretudo para os mais jovens, que perdem importantes referências de caráter e talento. Sobre a passagem do cearense Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes a mídia se encarregará de encher páginas e mais páginas, apresentar programas especiais, entre outras abordagens. Nós, do Barulho d’água Música, consternados, vamos registrá-la (e homenageá-lo) com uma pequena crônica que dialoga com alguns dos maiores sucessos do autor de Apenas um rapaz latino americano, Coração Selvagem, Paralelas e Divina Comédia Humana! A benção, Belchior! 

Pois é, meu caro rapaz latino americano: você profetizou que talvez morreria jovem e antes do combinado encontrou a curva do seu caminho! Você foi divino, maravilhoso; brasileiramente lindo, esforçou-se muito para nos ensinar todos a rejuvenescer, deixando de lado o vil metal. Mas como a morte não sai do nosso caminho, mais um sinal está fechado para nós que, apesar de ainda sermos como nossos pais, ainda somos sonhadores e insistimos em cantar enquanto houver espaço, corpo. Estamos com a carne e os corações cortados a palo seco — quer sejamos pretos, velhos, estudantes, pessoas cinzas –, mais angustiados do que o sujeito do escritório que quanto mais multiplica, mais diminui o seu amor! Se agora vai ser ainda mais duro suportar a alucinação do dia a dia, que ao menos a terra lhe seja leve! E que o Cara do Corcovado abra os braços para te receber, com seu blusão de couro e a camisa toda manchada com o batom dos nossos saudosos abraços! Ficaremos por aqui com nossos medos, seja em Fortaleza, em Goiânia, Goiás, no Piauí, com um monte de fantasmas  — que, parece, resolveram deixar os porões –, quase já perdidos, sem uma mísera placa torta que nos aponte de que lado ainda nasce o sol…

Marcelino Lima e Andréia Beillo

* Clique no linque e acesse a atualização 846 do Barulho d’água Música, de 6 de abril de 2016, sobre os 40 anos de um dos álbuns mais famosos de Belchior, Alucinação.

https://barulhodeagua.com/2016/04/06/846-alucinacao-album-que-fez-de-belchior-mais-do-que-apenas-um-rapaz-latino-americano-completa-40-anos/

Um comentário sobre “944 – Medo: Belchior morreu. O que será de nós?*

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.