A unidade Pompeia do Sesc da cidade de São Paulo receberá no sábado, 6 de maio, Lulinha Alencar e Mestrinho para lançamento do álbum que ambos gravaram em homenagem a Dominguinhos. ToCantE reúne em dez faixas criações tanto do cantor e compositor pernambucano que morreu em 2013, como dos próprios Alencar e Mestrinho nas quais estes reverenciam outros mestres que os influenciaram: Chiquinho do Acordeon, Jackson do Pandeiro e Pixinguinha. Richard Galliano, renomado sanfoneiro francês, também subirá ao palco como convidado especial da apresentação, prevista para começar às 21 horas.
“Esse nosso trabalho não é apenas uma homenagem a um dos maiores sanfoneiros do mundo: é também um desejo, quase uma obrigação, de mantermos viva a arte de tocar sanfona!”, exclamou Lulinha Alencar. Nascido em Rafael Godeiro, cidade do sertão do Rio Grande do Norte, Alencar teve os primeiros contatos com a música ainda em casa, onde acompanhava o pai, o sanfoneiro Zé de Cezário, tocando triângulo e zabumba. Ao final de 1999, veio para São Paulo, inicialmente pensando em seguir carreira como pianista e sem imaginar que ganharia fama também como sanfoneiro. Autodidata em ambos os instrumentos, hoje destaca-se ao revisitar suas origens sertanejas e também impressiona ao tocar ritmos considerados mais urbanos.
Com Mônica Salmaso, Benjamim Taubkin e Teco Cardoso, Lulinha Alencar integrou a Orquestra Popular de Câmara e, atualmente, é um dos membros do grupo de choro Moderna Tradição. Além de Dominguinhos, coestrelou shows de Richard Galliano, Regis Gizavo e Martin Lubenov. A obra do potiguar é conhecida fora do Brasil e admirada em países nos quais promoveu concorridas turnês: Inglaterra, Espanha, Bélgica, Holanda, França, Alemanha, Itália, Suíça, Áustria, Marrocos e China, entre outros. Em 2013, lançou Cem Gonzaga, reverenciando o centenário de Luiz Gonzaga e interpretando composições instrumentais menos conhecidas do Velho Lua.
Mestrinho, por sua vez, não conteve a emoção ao falar do disco e dos legados de Dominguinhos: “É uma oportunidade de homenageá-lo e ao mesmo tempo agradecermos por ele ter feito tanto pela cultura do nosso país, com tantas canções lindas e seu jeito particular de tocar sanfona”. Neto de tocador de oito baixos e também filho de sanfoneiro, Mestrinho já se entendia com o instrumento aos seis e aos doze anos arrancava palmas em espetáculos que promovia na região da cidade natal, Itabaiana (SE). Cinco anos depois, ao lado da irmã Thaís (triângulo e voz) trocou a capital sergipana, Aracaju, por São Paulo, centro no qual criaram o Trio Juriti, ao lado de Scurinho (zabumba) Juntos, os manos e Scurinho ainda participaram de festivais e se destacaram pela composição da música autoral Mais um dia sem te ver.
O Juriti gravou os álbuns Forró irresistível e Cara a Cara, ambos com a participação dos emboladores Caju e produzidos por João Silva, compositor e um dos mais próximos parceiros de Luiz Gonzaga. Além de Dominguinhos, Hermeto Pascoal, Rosa Passos, Antônio Barros e Cecéu, Zélia Duncan, Geraldo Azevedo, entre outros, tocaram e cantaram acompanhados por Mestrinho; com Elba Ramalho a parceria durou três anos e rendeu participação em Vambora lá dançar, álbum que o projetou para turnês nacionais e pela Alemanha; com Gilberto Gil abrilhantou festivais de jazz na Europa, em Israel e no Uruguai. Em setembro de 2014 estreou em disco com Opinião.
Repertório do show do Sesc Pompeia
- Xote Pro Miudinho (Dominguinhos)
- Homenagem A Pixinguinha (Dominguinhos)
- Noites Sergipanas (Dominguinhos)
- O Meu Último São João (Lulinha Alencar)
- Só Deus Sabe (Mestrinho)
- Ilusão Nada Mais (Dominguinhos)
- Homenagem A Jackson do Pandeiro (Dominguinhos)
- Tocante (Lulinha Alencar)
- Cutucufole (Lulinha Alencar)
- Choro Sentido (Mestrinho)
- Um Abraço No Romeu (Dominguinhos)
- Ciao São Paulo Richard Galliano (Participação Richard Galliano)
O disco de Lulinha Alencar e Mestrinho pode ser encomendado mediante envio de mensagem ao correio eletrônico nucleocontemporaneo@gmail.com
Viola para Dominguinhos
O violeiro Rodrigo Zanc, nascido em Araraquara e residente na vizinha São Carlos, cidades do interior de São Paulo, também é protagonista de um projeto em homenagem ao sanfoneiro de Garanhuns. Em Viola para Dominguinhos, que estreou em fevereiro de 2016 acompanhado por Ricieri Nascimento (baixo), Bruno Bernini (bateria e zabumba), Gustavo Camilo (teclados), Thiago Carreri (violão e guitarras) e Thadeu Romano (acordeon), Zanc revive a sensibilidade de Dominguinhos por meio de um bem costurado repertório que ele pesquisou e ensaiou durante meses para poder interpretá-lo à altura do homenageado.
“O Dominguinhos é um dos mais generosos compositores que conheço”, observou Rodrigo Zanc. “Com toda a capacidade e talento que possuía, sabia que a arte estava acima dele e se colocou a serviço dela”, prosseguiu. “As pessoas como Dominguinhos passam, mas deixam um legado imprescritível. Cabe a nós, artistas que ficamos, levar esta mensagem adiante, com humildade e muito respeito”, completou, anunciando que estará saindo para novas rodadas de shows do projeto no meio do ano, com a primeira parada confirmada para o Sesc de Ribeirão Preto em 17 de junho, a partir das 16 horas, entre outras cidades com as quais já está negociando.
Dominguinhos era de batismo José Domingos de Moraes e com apenas seis anos de idade estava na ativa, tocando em feiras livres e às portas de hotéis, entre outros locais de concentração popular. Era os tempos do Trio Pinguins, que fundara com dois dos seus quinze irmãos, Moraes e Waldomiro. O guri tocava pandeiro e triângulo nesta formação cujo nome até poderia ser considerado exótico para quem vivia no agreste. Em 1950, conheceu o Rei do Baião, ídolo que estava hospedado em Garanhuns e, para o qual, a convite deste, os rapazes foram chamados a tocar. O Velho Lua, então, deu uma sanfona a Dominguinhos. A princípio como Nenén do Acordeon, começava a trajetória aliada ao instrumento do qual nunca se apartaria e por meio do qual inovou no sotaque, introduzindo um estilo diferenciado.
Em 1956, Nenén do Acordeon gravou junto com Gonzagão pela primeira vez, e, um ano depois, adotou, então, o nome artístico com o qual se consagrou — outra indicação do patrono mais famoso que, com certeza, já previa que o pupilo chegaria ao estrelato. Em 1964, Dominguinhos lançou o primeiro LP, na Cantagalo, de Pedro Sertanejo, um pioneiro do forró em São Paulo. Exímio sanfoneiro, como mestres teve, além de Luiz Gonzaga, Orlando Silveira e temperou sua versátil formação musical (registrada em mais de 40 discos autorais ou como participante) com influências de baião, bossa nova, choro, forró, xote, e jazz.
Esta variedade despertou admiração em parceiros e amigos como Chico Buarque, Gilberto Gil, Gonzaguinha, Nando Cordel, Anastácia, Fagner, Fausto Nilo e Abel Silva, entre outros ícones da nossa música. O fim deixou o país nos braços da saudade: após um longo coma decorrente de problemas relacionados a um câncer pulmonar, associado a arritmia cardíaca e a infecção respiratória, subiu no dorso de uma Asa Branca e partiu para reencontrar os mestres, em São Paulo, no dia 23 de julho de 2013.
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