963 – Chico Lobo recebe Pedro Mestre em Beagá para celebração de dez anos do álbum Encontro de Violas

Os dez anos do projeto que une dois músicos dos mais gabaritados em seus países e aproxima Minas Gerais do Alentejo serão comemorados na quarta-feira, 21, em Belo Horizonte, quando a partir das 20h30 vão se reencontrar, desta vez no palco do Sesc Palladium, o brasileiro Chico Lobo e o português Pedro Mestre. Em 2007, ambos gravaram Encontro de Violas, álbum com canções que remetem a tradições de Brasil e de Portugal ao som das violas caipira, de Lobo, e campaniça, de Mestre. O anfitrião, que recentemente excursionou em além-mar por Évora, Castro Verde, Serpa e Charneca de Caparica, receberá o ilustre visitante acompanhado por Marcos Aur (baixo acústico) e Carlinhos Ferreira (percussão) — o que será a primeira novidade nas apresentações que o duo protagoniza já que, até então, Chico Lobo e Pedro Mestre revezavam-se ao microfone, sozinhos, pelas casas e teatros pelos quais passaram neste período, sempre alcançando lotações máximas e aplausos efusivos.

“Nesta década formamos um público, pessoas que gostam e valorizam o encontro de violas”, comemora, orgulhoso, Chico Lobo, recordando que à época da gravação Pedro Mestre, então com 23 anos, percorria os primeiros passos na carreira reconhecida no ano passado com o Prêmio Carlos Paredes, em Portugal. Além da evolução do parceiro, Chico Lobo destaca que de lá para cá o amigo ainda colaborou para o cante alentejano ser elevado a patrimônio cultural da Unesco.

Para a apresentação em Beága Chico Lobo antecipou: Carlinhos Ferreira “montou um set muito interessante, com instrumentos ibéricos” e  será mostrada a canção inédita Jardim dos Sentidos, mais a junção de Frutos da Terra e Lírio Roxo. “Também devo provocar o Pedro com a inclusão de dois temas brasileiros”, disse Lobo, adiantando outra mudança no formato da cantoria. “Estou pensando em Cálix Bento [Tavinho Moura], pela sua importância, e o outro ainda não defini.”

A dobradinha Chico Lobo e Pedro Mestre também deu “liga” em formato audiovisual: aqui, no Brasil, saiu o DVD De Minas ao Alentejo, e do outro lado do Atlântico, Do Alentejo a Minas, trabalho que inclui um documentário sobre a viola caipira e seu correspondente que encanta nas planícies do Alentejo. As locações transcorreram em várias cidades de Minas Gerais e de Portugal entre 2010 e 2012, com participação do Grupo Coral Feminino As Papoilas (Portugal), e realização conjunta da Cineviola Filmes, Viola Brasil e Viola Campaniça. O vídeo permite entender pontos que ambos os instrumentos (a viola caipira e a campaniça) têm em comum, já que são portadoras de culturas e histórias cotidianas, revelados por meio de entrevistas, paisagens e trechos musicais, além de um show com a dupla gravado ao vivo no Teatro de Arena da Caixa Econômica do Rio de Janeiro, durante o projeto Cone(cs)sons, em março de 2012.

 

Chico Lobo e Pedro Mestre produzem juntos desde 2006, quando ambos se conheceram em Serpa, durante o III Encontro de Culturas 2006. Chico Lobo representava o Brasil e Mestre o convidou a subir ao palco para uma participação especial. No ano seguinte, Pedro Mestre recebeu convite para atravessar o mar e acompanhar Chico Lobo durante o encerramento do projeto Viola Popular – patrocinado por uma empresa do ramo de perfumes e cosméticos.  O show transcorreu no Teatro Alterosa, em Belo Horizonte. Juntos, ambos também protagonizaram cantorias por cidades do interior de Minas. São João Del Rei – eleita capital brasileira da cultura de 2007 — teve a honra de abrir a pequena turnê de Pedro Mestre ao lado de Chico Lobo. Eles passaram também por Santana dos Montes e Pouso Alegre. Cada apresentação consolidou uma oportunidade histórica que marcou o encontro emocionante da viola caipira brasileira de Chico Lobo, com a viola campaniça portuguesa de Pedro Mestre.

Ainda em 2007, Chico Lobo regressou a Serpa para o IV Encontro de Culturas. E em retribuição ao artista mineiro, Pedro Mestre o apresentou à entusiasmada plateia portuguesa. Juntos, depois, ambos cantaram em Évora, Almada, Castro Verde, Sete, Almodóvar, Feijó, todas na região do Alentejo, além de Portimão, no Algarves.

Aproveitando a estadia de mais de 35 dias em terras lusitanas, Chico Lobo e Pedro Mestre resolveram gravar o disco que agora celebra dez anos, em coprodução entre a Associação de Canto Alentejano os Cardadores (ACA) e a Viola Brasil Produções.

“Esse disco é o resultado desta intensa relação entre duas culturas populares cimentadas na amizade dos dois artistas”, escreveu à época o jornalista lusitano João Matias. “Foi idealizado em Sete, a aldeia de vasta planície do conselho de Castro Verde onde vive Pedro Mestre e que acolheu Chico Lobo no seu cotidiano de trabalho, celebração, preocupações e festas”, prosseguiu Matias. “Lado a lado com os homens e mulheres que cultivam a terra e escavam as minas, com as crianças que estudam e brincam, com os velhos que contam histórias antigas, os dois músicos trabalharam no seu disco”.

Encontro de Violas é um registro inédito do (re) encontro entre as culturas portuguesas e brasileiras pelas cordas das violas. O álbum mostrou como é possível aos homens entenderem-se e de que modo a cultura serve para o desenvolvimento dos povos. O álbum não é a soma da viola caipira de Chico Lobo com a  viola campaniça de Pedro Mestre, é a união entre dois povos.

Foto: Marcelino Lima/Barulho d’água Música

Pedro Mestre, natural da Aldeia do Sete (Castro Verde), tem a  vida dedicada à música tradicional alentejana. Desenvolve projetos enquanto tocador/luthier de viola e fundador/ensaiador de grupos corais alentejanos. Integra os projetos musicais Encontro de Violas- Viola Campaniça e Viola Caipira – Pedro Mestre e Chico LoboLes Voix Du 7 SóisOrquestra do Festival Sete Sóis Sete LuasGrupo Viola Campaniça; grupo de cante tradicional 4uatro ao Sul. Dedica-se também à recolha etnográfica. É presidente da Associação de Conte Alentejano Os Cardadores desde 2004.

 

 

Viola Campaniça – Descendente da viola barroca, a viola popular portuguesa chegou até nós com cinco cordas duplas. No Baixo Alentejo tomou o nome característico de viola Campaniça. A origem do nome vem da radicação na zona do “Campo Branco”, geograficamente situada na região dos conselhos de Aljustrel, Ourique, Castro Verde, Almodôvar e parte do conselho de Odemira, Na primeira metade da década dos anos 1980, verificou-se que os tocadores deste instrumento já estavam todos em idade avançada, entre os quais é de se destacar: Manuel Bento (Funcheira) e Francisco António (Ourique-Gare). Ao acompanhar o cantar ao desafio, as modas Campaniças ou os passos simples de uma breve dança, o seu dedilhar é hoje uma sonoridade familiar.

 

 

Foto: Rui Mendes

Chico Lobo  é um dos mais ativos violeiros, há mais de 30 anos desempenha papel de “ponte” entre o som do interior de MG, do Brasil e o som contemporâneo. Seu carisma o levou a inúmeros palcos do Brasil e do mundo, onde sempre brinda o público com shows ricos em causos,canções e solos de viola. Lançou mais de 20 obras (entre CDs e DVDs). Idealizou e apresenta os programas O Canto da Viola, na Rádio Inconfidência, e Viola Brasil, na  TV Horizonte há 14 anos. Fundou na cidade natal, São João Del Rei, o Instituto Chico Lobo” que atende escolas da zona rural com aulas de viola. Percorrer o mapa mundi da carreira deste artista ajuda a tornar a aldeia global mais caipira.

 

Viola caipira – Conhecida também por viola de 10 cordas, viola sertaneja ou viola brasileira – descende da viola de arame portuguesa, que chegou ao Brasil pela mão dos primeiros jesuítas e colonizadores. No início da colonização ocorreu uma mistura entre a cultura europeia e a indígena. A viola, trazida pelos portugueses, começou a ser  reinventada, ou seja, passou a ser construída com materiais regionais como tripas de animais para as cordas, por exemplo. É utilizada tradicionalmente em diversas manifestações da cultura popular como folias, catiras, batuques, fandangos, cururus, congados e inúmeras mais.

Na região de Minas Gerais, durante o período do ouro, a viola difundiu-se ao seguir as pedras da Estrada  Real. Presa entre montanhas, na beira de rios, ganhou características únicas, afinações, folguedos e cantigas. Atualmente assume-se como porta-voz de uma cultura interiorana, divulgada por meio de inúmeros jovens desejosos de conhecerem o instrumento e de trazerem de volta o vasto conteúdo tradicional e caipira nela inserido.

Serviço:

10 anos do ‘Encontro de Violas’ – Chico Lobo e Pedro Mestre (Brasil/Portugal)
Hora: 20h30
Local: Sesc Palladium -Grande Teatro  (rua Rio de Janeiro, 1046, Centro)
Ingressos: R$20 (inteira), R$10 (meia) e R$8 (comerciário)
Classificação: livre
*Os trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo terão 60% de desconto, limitado a 200 lugares. 

 

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