O Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc de São Paulo promoverá entre 18 e 21 de julho o curso Consolações da Viola: Filosofia Matuta e Música Caipira, ministrado por Jair Marcatti e Sidnei de Oliveira. Abertas ao público em geral, as aulas começarão às 19h30, com previsão para terminarem às 21h30 e para participar é necessária a inscrição prévia por meio do portal do CPF (http://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/#/agenda) ou em uma das unidades do Sesc em todo o estado de São Paulo. O valor da matrícula varia entre R$ 15,00 e R$ 50,00.
O que a moda de viola e Nietzsche têm em comum e quais os paralelos entre um acorde de viola caipira e o pensamento de Schopenhauer, além da relação entre Gilles Deleuze e as duplas caipiras estão entre as chaves de desenvolvimento e compreensão das propostas abarcadas pelo tema escolhido por Marcatti e Oliveira. Ambos também demonstrarão em suas abordagens o que o modo popular de compor pode dizer ao erudito partindo do pressuposto que a música, no Brasil, cumpre funções que transcendem o entretenimento e a diversão. Neste país que é musical por excelência, observam, a música propicia um campo privilegiado de reflexões sociológicas, antropológicas e filosóficas.
Os coordenadores de Consolações da Viola: Filosofia Matuta e Música Caipira afirmam ainda ser possível pensar a história do Brasil e questões relevantes do pensamento social usando a música, letras e sonoridades como ricos espaços de produção conceitual. E a música caipira, em especial, possui aspectos de pensamento e de reflexão sofisticados, os quais abrem vasto campo de pesquisa e faz brotarem conceitos, conhecimentos e sabedorias. As letras deste gênero enfocam a trajetória e o universo do homem do campo, a simplicidade e a riqueza da natureza, as formas de relacionamento com o mundo por parábolas, causos e narrativas: da aparente simplicidade do cantador, revela-se, assim, uma grandeza musical e existencial complexa. O curso seguirá esta linha de entendimento para proceder a análises não apenas técnicas, mas principalmente filosóficas. Podemos, então, concluir: a música caipira estabelece princípios de uma verdadeira “filosofia matuta”, na qual a sabedoria, por vezes, tem mais validação que o conhecimento.
O título Consolações da Viola: Filosofia Matuta e Música Caipira guarda estreita relação com a obra do filósofo francês Alain de Botton, autor do livro As Consolações da Filosofia. Botton preconiza que a Filosofia, para além do ambiente acadêmico, se aplicada no cotidiano e levada ao grande público, caberá como um perfeito manual com ensinamentos e dicas que poderá nos ajudar a resolver conflitos e dificuldades, das mais comezinhas às mais complexas, enfrentadas pela sociedade e seus indivíduos.
“A Filosofia, de acordo com Botton, deve ter uma utilidade prática e não apenas abstrata, pois é revestida de uma força que nos capacita a enfrentar as agruras do dia-a-dia”, observou Jair Marcatti, professor de Sociologia em importantes escolas paulistanas e curador do projeto Imagens do Brasil Profundo. “De letras da música caipira, assim como do samba, é possível extrair pílulas filosóficas na forma de ‘moral da história’, aforismos, frases e pensamentos que nos ajudam a lidar com a vida à medida em que exploram e humanizam temas como solidão, saudade, passagem do tempo, relações amorosas ou entre pais e filhos e homem e mundo animal, transformações sociais e econômicas e êxodo rural, entre tantas outras.”
“Temos como principal objetivo neste curso analisar algumas letras de músicas do universo caipira e, com isso, mostrar aos participantes os aspectos tanto musicais quanto filosóficos”, completou Sidnei Oliveira, filósofo, compositor e violeiro com profundos conhecimentos da matéria e formação superior com grau de Doutorado pela Universidade de Campinas (Unicamp) e especializações na Alemanha. “Buscaremos extrair das letras a filosofia do homem do campo, a importância da natureza, as reflexões sobre o cotidiano para o caipira, reconhecendo a grandeza na simplicidade”, prosseguiu o autor do álbum Prólogo e ganhador de importantes prêmios — entre os quais o da primeira edição do Syngenta de Música de Viola, em 2004, “A música caipira é uma parte importante da nossa cultura popular, regional e brasileira e o violeiro (personagem que se auto define todo o tempo) e a viola têm muito a nos mostrar e a nos ensinar, meio que alumiando a maneira de ver e vivenciar o mundo.”
O CPF fica na rua Doutor Plínio Barreto, 285, 4º Andar, no bairro Bela Vista, a 700 metros da estação Trianon Masp da linha 2/ Verde do Metrô e a dois quilômetros da estação Anhangabaú da linha 3/Vermelha do Metrô e do terminal de ônibus Bandeira. Para mais informações há o número de telefone 11 3254-5600.
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