* Com o blogue Brasil de Dentro
O Barulho d’água Música traz por meio desta nova atualização matéria especial sobre os Madredeus, grupo português de grande projeção mundial que se tornou amado por composições que combinam influências da música tradicional portuguesa com a música erudita e com a música popular contemporânea, desde os primórdios erroneamente tratado como uma formação dedicada ao Fado, sobretudo pela imprensa fora de Portugal — ainda que seus membros nunca tenham se apresentado com este perfil e declarem que carregam “uma aproximação ao espírito musical do fado”. Em 32 anos, os Madredeus lançaram 16 álbuns e estiveram em turnê em mais de 50 países – incluindo a Coreia do Norte e um festival de música na Noruega, dentro do Círculo Polar Ártico.
Surgimento
Os fundadores do grupo foram Pedro Ayres Magalhães (guitarra clássica); Rodrigo Leão (teclados); Francisco Ribeiro (violoncelo), falecido em setembro de 2010; Gabriel Gomes (acordeon) e Teresa Salgueiro (voz). Magalhães e Leão tiveram a ideia em 1985, Ribeiro e Gomes chegaram no ano seguinte. Em busca de uma vocalista, optaram por Teresa Salgueiro, a qual encontrava-se como atração numa casa noturna de Lisboa, entoando fados durante encontro informal de amigos. Teresa, então, recebeu convite para uma audição e assim se constituiu o grupo, ainda sem o nome definido.
Àquela altura, a proposta era a realização de uma oficina criativa, à qual os músicos levariam ideias e comporiam em conjunto temas e arranjos. Em 1987, o local de trabalho do grupo, o Teatro Ibérico (antiga igreja do Convento das Xabregas, num bairro de Lisboa chamado Madredeus) serviu de estúdio de gravação para mais de 15 temas reunidos à época em um vinil duplo, mais tarde convertido para CD, ao qual batizaram Os Dias da Madredeus. Decidiram, então e enfim, o nome do grupo, cujo caráter inovador logo o levou ao estrelato como um fenômeno praticamente instantâneo de popularidade em Portugal.
O ano do segundo disco, Existir, ficou marcado pelo sucesso de uma das faixas dele, O Pastor, abrindo caminhos para a conquista de público e plateias fora de Portugal. Os Madredeus protagonizaram concertos na Bélgica, palco da Europália — exposição que no ano de 1991 foi dedicada à cultura portuguesa. Outro fato que contribuiu para que os Madredeus se tornassem conhecidos internacionalmente foi a utilização da música O Pastor em filme publicitário na Grécia, à revelia deles. Seguiu-se um disco gravado ao vivo em Lisboa no qual o grupo interpreta canções dos dois primeiros discos e inclui novos temas, um dos quais (Mudar de Vida) com a participação dos guitarristas Carlos Paredes e Luísa Amaro.
Em 1994, O Espírito da Paz consolida o reconhecimento do grupo para além de Portugal: o terceiro disco da trajetória atinge o topo das tabelas da Espanha e leva os Madredeus a uma longa excursão que passa, inclusive, pelo Brasil e alguns países do Extremo Oriente. Durante as sessões de gravação de O Espírito da Paz, na Inglaterra, foi produzido outro disco, que seria editado em 1995. E o cineasta Wim Wenders, impressionado com a música do grupo, convidou-o para assinar a trilha sonora do filme Lisbon Story (no Brasil, O Céu de Lisboa; em Portugal, Viagem a Lisboa), que os músicos também estrelaram, aumentando a projeção internacional do quinteto.
Segunda fase
Em 1995, incorporam-se aos Madredeus Carlos Maria Trindade (substituindo o tecladista Rodrigo Leão) e o guitarrista José Peixoto. Em 1996, saem Francisco Ribeiro e Gabriel Gomes e, em 1997, antes do ingresso de Fernando Júdice (baixo acústico), grava-se O Paraíso. Três anos à frente, o grupo vira atração do concerto de abertura da Expo’98, em Lisboa, ocasião na qual tocaram ao lado do tenor espanhol José Carreras, parceria inusitada que renderia outros encontros futuros.
O ano de 2000 marcou o lançamento do álbum Antologia, com canções de toda a discografia do grupo até então e mais duas inéditas: Oxalá e As Brumas do Futuro, tema do filme de estreia como diretora da atriz portuguesa Maria de Medeiros, Capitães de Abril, sobre a Revolução dos Cravos. Em 2001, Movimento torna-se o segundo álbum de estúdio com a nova formação, e depois deste, alguns álbuns experimentais provocaram acaloradas discussões entre fãs e críticos: Electrónico, uma compilação de versões eletrônicas das canções do Madredeus feitas por alguns dos músicos eletrônicos de mais prestígio da Europa, e Euforia, álbum duplo ao vivo com participação da Vlaams Symfonisch Radio-orkest, Orquestra Sinfônica da Rádio Flamenga, da Bélgica.
Em 2004, os Madredeus voltaram ao estúdio, pois já guardavam canções suficientes para dois álbuns: Um Amor Infinito sai dedicado aos fãs de todo o mundo, concomitantemente com Faluas do Tejo, um tributo à Lisboa.
Ano sabático e projetos paralelos
Em 2007 os Madredeus resolveram parar, temporariamente, para curtirem momentos sabáticos. Os integrantes, entretanto, desenvolveram projetos paralelos: Teresa Salgueiro lançou dois álbuns, ambos produzidos pelo colega Pedro Ayres Magalhães, e a dupla José Peixoto e Fernando Júdice criou o grupo Sal unindo-se à voz de Ana Sofia Varela e a percussão de Vicky.
(Os integrantes do Madredeus sempre tiveram liberdade para conduzir projetos paralelos ao grupo: Carlos Maria Trindade, Pedro Ayres Magalhães, José Peixoto e Fernando Júdice atuam frequentemente como produtores musicais. Trindade e Peixoto administravam sólidas carreiras como solistas e José Peixoto e Fernando Júdice projetos conjuntos como o álbum Carinhoso, no qual ambos revisitam o repertório de Pixinguinha com o supracitado grupo Sal.)
Antes do ano sabático terminar, em 28 de novembro,Teresa Salgueiro, Fernando Júdice e José Peixoto deixam os fãs surpresos ao anunciarem que saiam dos Madredeus. Magalhães chegou a declarar à época que o futuro da banda tornara-se incerto e que, na opinião dele, dificilmente seguiria adiante sem a presença da emblemática voz de Teresa.
Após a saída do trio, em 2008 Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria Trindade decidiram não substituírem Teresa, Júdice e Peixoto. Eles lançam Metafonia após celebrarem parceria com A Banda Cósmica, formada pelas cantoras Rita Damásio e Mariana Abrunheiro, Ana Isabel Dias (harpa), Ruca Rebordão (percussão), Sérgio Zurawski (guitarra elétrica), Gustavo Roriz (baixo e contrabaixo), Babi Bergamini (bateria) e Jorge Varrecoso como violinista convidado; este último participou apenas da temporada de lançamento do grupo no Teatro Ibérico, sendo substituído pelo violinista António Barbosa, o qual passou a fazer parte efetiva do grupo. 2009 é o ano de A Nova Aurora e 2010 dos Castelos na Areia, que marca o fim do ciclo dos Madredeus com a Banda Cósmica.

A nova cantora do Madredeus, Beatriz Nunes, participou da gravação de Essência e “ganhou” 14 músicas (escritas por Magalhães e Trindade) para o álbum Capricho Sentimental)
Beatriz Nunes
Com o fim da união à Banda Cósmica, dois anos depois, por ocasião da comemoração de 25 anos dos Madredeus, em 2012, Magalhães e Trindade já haviam encontrado substituta à altura da primeira vocalista: uma jovem cuja voz, devido à semelhança de timbres com a antecessora, pode até ser confundida pelos desinformados com a de Teresa Salgueiro. Trata-se, no entanto, de Beatriz Nunes, cantora de formação acadêmica, licenciada em Belas Artes, Canto Clássico pelo Conservatório de Lisboa e Canto de Jazz pela Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), que fãs e seguidores tiveram oportunidade de conhecer durante a turnê de Essência, entre 2012 e 2013, divulgando o álbum de comemoração do Jubileu de Prata, disco levado a vários países com releitura de todo o repertório editado até aquela temporada.
Os remanescentes e os novos Madredeus gostaram tanto da nova integrante que em 2015 resolveram lançar Capricho Sentimental, com 14 canções (compostas por Magalhães e Trindade) especialmente para Beatriz cantar, previamente escolhidas e aprovadas pela musa, reputada por ambos como de “alta sensibilidade”. As faixas de Capricho Sentimental ganharam acompanhamento de um novo grupo de instrumentos, constituído por harpa e violoncelo, que se somaram aos habituais, guitarra e sintetizadores.
“Com este novo repertório pretendemos criar uma atmosfera muito variada de melodias cantadas em português, acompanhadas de motivos instrumentais sugestivos e assim preencher o silêncio das salas com a invocação dos sentimentos amorosos da saudade e questões existenciais contemporâneas”, afirmou Magalhães por ocasião da gravação nos Estúdios Saafran, no Montijo, em abril de 2015, por António Pinheiro da Silva e Luciano Barros. Capricho Sentimental foi misturado e masterizado por António Pinheiro da Silva e Pedro Ayres Magalhães no estúdio particular de António Pinheiro da Silva entre junho e agosto de 2015.
Madredeus e os países lusófonos
No Brasil, o grupo ficou conhecido pelo grande sucesso de suas apresentações em casas de espetáculo por todo o país – sempre com lotação esgotada, em que pese a quase ausência das músicas dos Madredeus nas emissoras de rádios – e também por suas apresentações ao ar livre com destaque para os concertos no Pelourinho (Salvador, Bahia/1995); na Praia de Icaraí (Niterói, Rio de Janeiro/1997); Parque do Ibirapuera (São Paulo) e Praia de Copacabana (Rio de Janeiro/2000), ambas por ocasião das comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil.
As canções do grupo também já foram tema de diversas produções televisivas tupiniquins, tais como a minissérie da Rede Globo de Televisão Os Maias (com as canções Matinal, Haja o que Houver, As Ilhas dos Açores e a canção que se tornou o tema de abertura da referida produção televisiva, a emblemática O Pastor). Em outros países lusófonos, o grupo também já se apresentou em Angola, Cabo Verde e Macau.
Membros do Grupo (até 2012)
Teresa Salgueiro/Pedro Ayres Magalhães/Rodrigo Leão/Carlos Maria Trindade/Francisco Ribeiro/Gabriel Gomes/Fernando Júdice/José Peixoto
2012 em diante
Beatriz Nunes (voz)/Ana Isabel Dias (harpa)/Pedro Ayres Magalhães (guitarra clássica)/Carlos Maria Trindade (sintetizadores)/Luís Clode (violoncelo)
Discografia
Álbuns de estúdio
Os Dias da Madredeus (1987)/Existir (1990)/O Espírito da Paz (1994)/Ainda (1995, banda sonora do filme Lisbon Story de Wim Wenders)/O Paraíso (1997)/Movimento (2001)/Um Amor Infinito (2004)/Faluas do Tejo (2005)/Essência (2012)/Capricho Sentimental (2015)
Madredeus e A Banda Cósmica
Metafonia (2008)/A Nova Aurora (2009)/Castelos na Areia (2010)
Ao vivo
Lisboa (1992, ao vivo, gravado no Coliseu dos Recreios em Lisboa)/O Porto (1998, ao vivo, gravado no Coliseu do Porto)/Euforia (2002, ao vivo, com a participação da Flemish Radio Orchestra)
Compilações
Antologia (2000, coletânea com duas canções inéditas)/Palavras Cantadas (2001, coletânea direcionada ao público brasileiro e abrangendo o trabalho do grupo entre 1990 e 2000)
Remixes
Electronico (2002) – releitura eletrônica de vários temas do grupo
Videografia
Les Açores de Madredeus (1995) – documentário francês sobre o Madredeus filmado nos Açores, em VHS e DVD/Lisbon Story (1995) (Viagem a Lisboa, Portugal; O Céu de Lisboa, Brasil) – filme escrito e dirigido por Wim Wenders, em VHS e DVD/O Espírito da Paz (1998) – VHS/O Porto (1998) – concerto ao vivo no Coliseu do Porto, em VHS/Euforia (2002) – concerto ao vivo do Madredeus com a Flemish Radio Orchestra, em DVD/Mar (2006) – registo da apresentação do Madredeus e do Lisboa Ballet Contemporâneo, em DVD/Metafonia – Ao Vivo no Teatro Ibérico (2009)
Regravações
As canções do Madredeus têm ganhado regravações feitas por diversos artistas:
A cantora portuguesa Marta Dias gravou O Sonho, do álbum O Paraíso;
A banda portuguesa de heavy metal Moonspell gravou Os Senhores da Guerra, do álbum O Espírito da Paz;
As cantoras brasileiras Zizi Possi e Luiza Possi, bem como o tenor espanhol José Carreras, gravaram Haja o que houver, do álbum O Paraíso. A canção já havia sido registrada em disco, antes do Madredeus, pela banda de rock portuguesa Delfins;
A cantora brasileira Rebeca Mata gravou O Mar, do álbum O Espírito da Paz;
O grupo instrumental brasileiro Quarteto Pererê gravou As Montanhas, do álbum Os dias da Madredeus;
A cantora brasileira Mylene lançou, em 2007, um álbum inteiramente dedicado às canções do Madredeus, com dezesseis temas de diversos álbuns;
A cantora Deo (Deolinda Bernardo) gravou em 2008 o álbum Voando sobre o Fado com 11 temas do grupo.
A espanhola Soledad Gimenez, cantora dos Presuntos Implicados, gravou uma versão em espanhol de Oxalá.
Rodrigo Leão voltou a gravar Terras de Bolonha, em 2006.
O guitarrista do Angra, Rafael Bittencourt, gravou O Pastor em seu primeiro álbum solo, Brainworms I, lançado em 2008.
A banda portuguesa Noidz (Psytrance/Metal) gravou um remix da música O Pastor em 2010
Os títulos das canções de Capricho Sentimental:
- Existimos no Céu (Letra e música de Pedro Ayres Magalhães)
- Sei Lá (Letra e música de Pedro Ayres Magalhães)
- Águas Passadas (Letra e música de Carlos Maria Trindade)
- Ouve as Ondas do Mar (Letra e música de Pedro Ayres Magalhães)
- Mil Segredos (Letra e música de Carlos Maria Trindade)
- Ás Vezes Vem a Tristeza (Letra e música de Pedro Ayres Magalhães)
- Ideal d’Amor (Letra e música de Pedro Ayres Magalhães)
- O Amor é Sagrado (Letra e música de Pedro Ayres Magalhães)
- Luz Rosa Poente (Letra e música de Carlos Maria Trindade)
- Pérolas de Sal (Letra e música de Pedro Ayres Magalhães)
- A Espiral (Letra e música de Pedro Ayres Magalhães)
- A Hora Mais Triste (Letra e música de Pedro Ayres Magalhães)
- Depois de Ti (Letra e música de Pedro Ayres Magalhães)
- Na Lusitânia (Letra e música de Pedro Ayres Magalhães)
Faixas e ficha técnica de Essência (letras e música de Pedro Ayres Magalhães)
- Ao longe o mar
- Amanhã
- O pomar das laranjeiras
- O paraíso
- Palpitação
- A sombra
- A confissão
- O navio
- Coisas pequenas
- A lira – solidão no oceano
- A estrada da montanha
- O sonho
- Adeus… e nem voltei
Fontes de pesquisa:
http://arquivo.hardmusica.pt/noticia_detalhe.php?cd_noticia=12072
http://madredeusofficial.com/madredeus/galeria/
https://www.youtube.com/watch?v=VXF06lobATY
Um comentário sobre “973 – Especial Madredeus: para além do fado, conheça o grupo que há 32 anos encanta Portugal e tem fãs até no Ártico*”