“Consuelo de Paula é danada, por isso escolhi sua música para encerrar o meu CD Encanteria” Maria Bethânia
A cantora, compositora e escritora Consuelo de Paula comemorará na sexta-feira, 21, mais um aniversário e pretende celebrar a data ao lado de amigos e admiradores durante mais uma apresentação do show Os Movimentos do Amor e da Luta a partir das 21 horas, na casa Mora Mundo, situada no bairro paulistano da Barra Funda. A mineira de Pratápolis radicada em São Paulo estreou o novo projeto em abril, no Teatro da Rotina, também em Sampa. Ela contou que ao ser convidada para protagonizá-lo “sentiu no peito a visita de um sentimento amoroso e, ao mesmo tempo, guerreiro”. Prontamente, então, dedicou-se a escrever e conceber o espetáculo, priorizando canções do repertório autoral e de parceiros de estrada que enfocam amor e luta. A espera, a chegada, a partida, o luto, a morte, a vida, o bailado, a necessidade de resistir e como sempre, a forte presença de elementos da natureza fluem no decorrer de Os Movimentos do Amor e da Luta, possibilitando momentos, imagens e gestos poéticos .
“São expressões e maneiras de cantar que recebem influência da respiração de todos nós neste tempo em que vivemos”, acentua Consuelo, que em cena utiliza para entoar seu canto pleno, personalizado e profundo, em apoio à voz, violão e caixa do Divino . “É uma maneira de nos encontrarmos durante a oferta de uma sinfonia popular cheia de contrastes e entre meu silêncio e meu grito”, prosseguiu. “Espero que você esteja presente ao nosso canto coletivo, neste show que acontecerá em um ambiente aconchegante, juntinho e acolhedor como na sala de casa. Que eu tenha essa sorte, esse presente!”
Abaixo, um dos textos de Consuelo declamado em abril, quando homenageou a escritora Carolina Maria de Jesus lendo um dos contos da conterrânea do livro da Quarto de despejo: diário de uma favelada, escrito em 1960.
O espaço Mora Mundo fica na Rua Barra Funda, 391 , São Paulo, a apenas dois minutos da estação Marechal Deodoro da linha 3/ Vermelha do Metrô.
Um canto de guerra
e de repente/eram muitas jangadas descendo o rio/cortaram suas correntes/com seu machado de lâmina fria/e como quem canta um desafio de rimas, amanheceram/e como quem prepara uma companhia de reis, partiram/e simplesmente, com suas bandeiras, atravessaram a vida/derrubaram muros, acenderam velas, de norte a sul/e como quem baila num rodopio do mundo, anoiteceram/e como quem dispara uma flor de cada vez, amaram/acenderam velas pra seus companheiros/jogaram flores pra quem deles se esqueceu/choraram por seus inimigos/e com os amigos, festejaram a noite/entre silêncios, tambores, sanfonas e maracás/índios, negros e brancos inventavam uma nova contra-dança/uma música com cheiro de longa caminhada/com o suor do trabalho e do prazer, da dor e da alegria/fizeram vigília noite afora/e quando clareou o outro dia/no despertar da alvorada/o país inteiro/se descobriu passageiro/da mesma jangada
