O Barulho d’água Música acompanhou na noite de sexta-feira, 8 de dezembro, o lançamento do registro livre musical do Grupo de Choro, Seresta e Serenata de São Roque, cidade do Interior de São Paulo. O evento transcorreu no Restaurante Kim onde os onze músicos tocaram e cantaram sob a coordenação da maestrina Mari Dineri [Moraes de Camargo] canções consagradas de autores como Lupícinio Rodrigues; Paulo Vanzolini ; Luiz Ayrão; Noel Rosa; Cartola; Vinícius de Moraes, Garoto e Chico Buarque; Dominguinhos e Nando Cordel,e Waldir Azevedo, entre outros. A maioria parte das músicas consta entre as 15 faixas do álbum que destaca ainda três composições de Pixinguinha — entre as quais Carinhoso, que, neste ano, completa um século; Jacob do Bandolim (Doce de Coco); Pedro de Sá Pereira e Ary Pavão (Chuá Chuá); Lúcio Cardim (Matriz ou Filial); Canção de Amor (Elizete Cardoso). O Grupo deu início à apresentação com Seresta (Newton Teixeira, Alvarenga e Ranchinho) e, em seguida, Edson D’aisa interpretou, dele, São Roque em Noite de Seresta. O público também foi brindado com Nervos de Aço, de Lupicínio, e Eu Sonhei que Estavas tão Linda, de Lamartine Babo e Francisco Matoso, interpretada por Zé do Nino. Jorge Maciel, convidado que veio de São Vicente (SP), relembrou entre outros, Sentimental Demais (Altemar Dutra).
O Grupo de Choros, Serestas e Serenatas completou em 29 de novembro cinco anos de atividades que incluem apresentações pelas ruas centrais de São Roque, religiosamente, sempre às últimas sextas-feiras de cada mês. Nestes giros que contam com apoio da Prefeitura, com a proposta de resgatar a prática da Seresta e da Serenata, por volta das 22 horas, eles deixam um clássico casarão azul da rua Rui Barbosa, 277 — onde mora o anfitrião Zé do Nino (José Carlos Dias Bastos) — e já estavam reunidos desde às 20 horas. Seguidos por populares e turistas, o destino é o coreto municipal, situado na Praça da República. Durante o trajeto, cantam sob várias janelas e, quando chegam ao coreto, em um grande coro encerram a noite.
O registro fonográfico é dedicado a Álvaro do Banjo e Roquinho Rochafé, já falecidos e a tradição que o Grupo coordenado por Mari Dineri reavivou há cinco anos com as atuais apresentações a partir da residência de Zé do Nino (considerado o guardião dos costumes são-roquenses) começara com o avô dela (Benedito José de Jesus, que carinhosamente era tratado por Nhô Cota Godinho) em encontros nas noites de 31 de dezembro que se repetiram por anos até serem interrompidos. Para a maestrina Neri, na noite de 8 de dezembro, portanto, não faltavam motivos para celebrar, ao lado dos músicos e da plateia que lotou o salão do Kim. “Ter o sonho realizado de voltar a promover as serenatas pelas ruas de nossa cidade já era um grande acontecimento, mas conseguir este registro fonográfico superou todas as expectativas de todos nós.” Presente ao evento, a madrinha do Grupo, Belinha Moura, afirmou que se sentia feliz pelo resgate da alegria que tomou conta de São Roque com as noites de serestas e serenatas, resumindo seu sentimento em três palavras dedicadas aos músicos: gratidão, respeito e amor.

Em sentido horário o Grupo de Choros, Serestas e Serenatas de São Roque durante a apresentação no Restaurante Kim; Jorge Maciel, seresteiro de São Vicente; o público que compareceu ao evento; Zé do Nino, anfitrião das noites de serestas e serenatas no casarão azul; e a maestrina Mari Dineri (Fotos: Marcelino Lima/Acervo Barulho d’água Música)
“São Roque é a capital paulista da seresta e da serenata”, cravou Edison Roveri, seresteiro de Santana do Parnaíba (SP), onde por anos também ocorreram concorridas apresentações nas ruas do Centro Histórico. De acordo com o parnaibano, somente o ambiente distingue os gêneros, que, em comum, privilegiam a canção romântica. “A seresta é própria para recintos fechados, ao passo que a serenata é adequada às ruas”. Ambas têm origem em Portugal e na Espanha e no país só se tornaram-se populares após iniciativas da compositora e maestrina carioca Chiquinha Gonzaga.
Hoje, além de São Roque, também atraem turistas e são costumes em cidades como Araraquara, Piracicaba, e São José do Rio Preto (SP); Diamantina e Poços de Caldas (MG); Bagé e Alecrim (RS); Curitiba e Ponta Grossa (PR); Goiânia e Caldas Novas (GO); Brasília (DF); em Conservatória, distrito da fluminense Valença, as cantorias desde 1935 têm rodadas a partir das tardes de sexta-feira e se estendem até por volta das 23 horas, quando dois grupos que chegam de lados opostos se encontram para encerrar a Serenoite; entre 11 e 13 horas dos sábados (com rodas de Choro); e nas manhãs de domingo, entre 10h30 e 12 horas, na Travessa Geralda Fonseca, conhecida como Rua do Meio. Ainda em Conservatória, sempre no quarto domingo de cada mês, é celebrada a partir das 9 horas a Missa dos Seresteiros na igreja de Santo Antonio, na Praça Getúlio Vargas.
A próxima rodada de serestas e serenatas na casa de Zé do Nino e pelas ruas de São Roque está confirmada para a sexta-feira, 29 de dezembro, a partir das 20 horas.
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