O Barulho d’água Música abre os trabalhos de 2018 dedicando a primeira atualização do ano (e abrindo uma rara exceção) ao mais recente álbum da discografia de um ícone da guitarra internacional, autor de belas trilhas sonoras para cinema, cantor e compositor líder de uma das bandas mais cultuadas do rock entre 1977 e 1994. O escocês de Glasgow Mark Freuder Knopfler se destacou à frente do grupo ao longo dos 17 anos nos quais o Dire Straits pegou estradas, e, em 1996, inaugurando sua história solo, lançou Golden Heart. Mas ainda no auge do Dire Straits, em 1983, já estreara como compositor de trilhas assinando as canções instrumentais de Local Hero, 35 mm do britânico Bill Forsyth, produzido por David Puttnam. De lá para cá, alternando concertos e turnês mundo afora (que invariavelmente lotam salas de espetáculos, incluindo a majestosa Royal Albert Hall, de Londres) com a gravação de novos discos autorais ou em duplas (com Chat Atkins, por exemplo, Neck and Neck, ou com Emylou Harris, All the Roadrunning, ambos indicados e premiados pelo Grammy) sir Mark Knopfler também não deixou de atender às convocações de diretores dedicados à sétima arte.
Altamira é o mais novo integrante desta seleta lista. Lançada em abril de 2016, gravada no British Grove (estúdio de Mark Knopfler) e coproduzida por Guy Fletcher (também responsável pela engenharia de áudio) a banda sonora que leva o nome do filme apresenta 10 faixas instrumentais, em parceria com a percussionista Dame Evelyn Glennie, compatriota de Mark Knopfler nascida em Abeerdeenshire . O disco, de enxutos 26 minutos, mas que certamente agrada ouvidos mais exigentes ao ponto de deixá-lo “rodando” repetidas vezes, embala o longa-metragem do londrino Hugh Hudson — autor, entre outros, de Momentos de Glória, como ficou traduzido por aqui o vencedor de quatro Oscar, incluindo o melhor filme de 1981 e a melhor banda sonora, da autoria do grego Vangelis, o consagrado Chariots of Fire.
Altamira baseia-se em uma história real. Ao sabor dos arranjos de Mark Knopfler, transcorre no final do século XIX e o barato dele é que coloca em xeque o mais clássico dogma da criação humana a partir de Adão e Eva (o filme, se chegou a entrar em circuito aqui em Pindorama, deve ter tido fraca bilheteria e pouca repercussão, pois não nos lembramos de nenhum moleque reaça do MBL ou de grupelhos retrógrados fazendo beicinho ou reagindo com fúria da forma como atacaram a mostra Queermuseu, no ano passado, em Porto Alegre/RS).
Hudson transcreveu a descoberta do jurista Marcelino Sanz de Sautuola, que ao seguir a filha, María, até dentro da caverna que há em sua propriedade situada em Cantábria, na Espanha, encontra pinturas rupestres paleolíticas de um estilo que jamais outro homem havia visto. É a partir do encontro das figuras que se desencadeia a polêmica que oporá concepções da fé, da ciência e da saga humana, sobretudo porque se acreditava que homens pré-históricos não tinham capacidade para pintar aquelas imagens. Antonio Banderas interpreta o meu xará e o elenco conta ainda com Golshifteh Farahani, Clément Sibony e Rupert Everett.
Tanto a trilha, como o filme, são mais do que recomendados aos amigos e seguidores. As músicas podem ser ouvidas por quem tiver conta do Spotify, do Deezer ou do Itunes, por exemplo. Em MP3, baixamos sem necessidade de registrar conta os áudioss do álbum completo do sítio acessado pelo linque https://archive.org/details/MarkKnopflerEvelynGlennie-Altamira2016. Pela loja virtual Amazon é possível comprar o disco físico por valores entre $7,99 (usado) ou $11,99 (novo) e no Mercado Livre por no mínimo 114 pilas.
Já o blu-ray do filme, com áudio dolby digital em Espanhol custava 12,99€ na Fnac espanhola (um pouco mais de 50 contos de acordo com a cotação oficial que, quando fechávamos esta matéria, era de R$3,88 para cada Euro).
Mark Freuder Knopfler nasceu em 12 de agosto de 1949. Considerado por muitos um gênio da guitarra, tornou-se bastante conhecido pelo seu estilo peculiar de tocar o instrumento, mas é mais reverenciado pelo seu trabalho com o Dire Straits do que pelos voos solo. Além dos anos com o Dire Straits, integrou, também, a banda formada para fins beneficentes The Notting Hillbillies, de pegada folk-country e em cujas composições ele e os demais integrantes (Brendan Croker, Steve Phillips, e Guy Fletcher) tocam violão dinâmico, de aço, o mesmo que está na capa do antológico Brothers in Arms (1985), do Dire Straits. Participou ainda de trabalhos de outros artistas, entre os quais Bob Dylan, Eric Clapton, B.B. King e Elton John e produziu álbuns para Tina Turner, Randy Newman e, novamente, Dylan. Ao longo da carreira, já soma mais de quatrocentos concertos em mais de trinta países**. Mark Knopfler integra importantes listas de ases da guitarra e compositores de todos os tempos (a conceituada revista ianque Rolling Stone, por exemplo, em 2011 o classificou em 44º entre os 100 melhores de todos os tempos): apesar de canhoto, toca como destro e de uma forma totalmente inovadora, com a combinação principalmente do polegar, do indicador e do dedo médio, sem o uso de palhetas. A guitarra preferida de Mark Knopfler é uma Fender Stratocaster.
*Com Wikipedia e Cine Cartaz
**Mark Knopfler veio ao Brasil em abril de 2001 para apresentações em Porto Alegre/RS (no dia 4), Rio de Janeiro/RJ (dia 5) e São Paulo/SP (6, 7 e 8) quando críticos como Ricardo Feltrin (à época coordenador do caderno de Cotidiano da Folha on line) morderam e assopraram a performance do músico britânico — sobretudo na estreia dele, em Sampa, que atraiu 5.000 fãs ao Credicard Hall. Alguns sites de venda de ingressos online já estão aceitando pré-reservas para shows que ele teria programados neste ano em um retorno ao país, sem ainda, entretanto, mencionarem datas e locais em que deverão brindar novamente o público tupiniquim.
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