*Com o blogue Todos os Negros do Mundo
A cantora e compositora Luedji Luna (já tinha ouvido falar dela?) passou por São Paulo na noite de sexta-feira, 2 de março, para uma apresentação única que esgotou a carga de ingresso posta à venda pela unidade Belenzinho do Sesc. O Barulho d’água Música bem que tentou, mas não conseguiu se colocar entre os felizardos da plateia para conferir a apresentação desta baiana radicada em Sampa durante a qual ela lançou seu primeiro disco, Um Corpo No Mundo (2017). Trabalho predominantemente autoral que a tornou ganhadora do Prêmio Caymmi de Música (categoria Show/Revelação), o álbum reúne onze faixas, entre inéditas e já conhecidas pelos fãs. As composições abordam tanto a herança negra ancestral, quanto temas mais universais, como a urgência do tempo presente, perfil que a própria Luedji classifica como “sem fronteiras”.
Luedji iniciou seus estudos em música na Escola Baiana de Canto Popular antes de se mudar para Brotas (SP) e hoje canta sobre pertencimento e descobrimento de uma identidade criada a partir do contato com imigrantes africanos e haitianos no Brasil. Um Corpo no Mundo deriva do encontro de africanos e brasileiros, é inspirado nas diferentes Áfricas e carregam influências do Jazz e da MPB. Militante, ela é cofundadora do MOVA — coletivo de compositoras de Salvador, onde nasceu, no bairro Cabula*– e membro do Bando Cumatê — galera engajada em pesquisa, difusão e fomento das manifestações artísticas tradicionais da cultura brasileira. “Um artista se forma por um conjunto de experiências. Quando a vida não proporciona a necessidade de mudanças e andanças, os seres que foram picados pelo mosquitinho das artes se encarregam de externar essa inquietude que é peculiar a todos os artistas. Essa raça de infectados – da qual faço parte – adora andar por ai, experimentando, conhecendo, sentindo”, afirmou.
Além do Bando Cumatê, Luedji Luna integrou a Uns Zanzoutros, banda participante do tributo aos Novos Baianos realizado pelo portal Jardim Elétrico em São Paulo, momento que dividiu com outros artistas da nova safra como Cícero, A Banda Mais Bonita da Cidade, Diogo Poças, Thamires Thanouss e Larissa Back. Foi vencedora da etapa regional do Festival da Canção Francesa, promovida pela Aliança Francesa em 2013, e naquela temporada cantou no espetáculo Ponto Negro em Tela Branca, da diretora Kléia Maquenda. Em 2014, ela girou rapidamente por Sampa e Rio de Janeiro protagonizando o Sarau Preto — organizado por Mombaça Momba, cantor e compositor carioca, parceiro de artistas como Mart’nália e que promove o encontro de compositores e poetas afro-brasileiros com o objetivo de destacar, exaltar e revelar a produção literomusical de compositores negros. Ainda sob as bênçãos do Cristo Redentor, abriu o show de Teka Baluthy e as convidadas Késia Estácio e Juliana Diniz, pelo projeto Foco MPB. Desde 2015 residindo em São Paulo, ela vem participando de projeto audiovisuais como o Balcony TV, e, mais atualmente, o Sofar Sound. Em 2107 estrelou o evento de moda Casa de Criadores, no desfile do baiano Isaac Silva.
*Cabula é o nome pelo qual foi chamada, na Bahia, uma seita afro-brasileira surgida no final do século XIX, de caráter secreto, sincretizadora de leque malês, bantos e espíritas.
Cabula é também o nome de um bairro de Salvador que teve origem no quilombo do Cabula,[1] onde negros de origem bakongos e angola praticavam uma dança de caráter ritual, ao ritmo de um toque de percussão religioso, denominada kabula, que deu origem ao nome do bairro.
A cabula é classificada como candomblé de caboclo, uma modalidade derivada da nação angola que incorporou o culto dos antepassados indígenas e é considerada como precursora da Umbanda. Essa vertente desenvolveu-se principalmente nos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
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