Nesta sexta-feira, 13 de abril, o Espaço 91 receberá os músicos Danilo Moura, Victor Mendes, André Rass e Pedro Macedo, integrantes do Sampaio 70, grupo que presta tributo à obra do cantor e compositor capixaba Sérgio Sampaio. A apresentação de cerca de 1h20 está programada para começar às 20h30 na casa de espetáculos situada no bairro da zona Oeste paulistana Pompeia. Moura (voz) e Mendes (voz, violões e guitarra), que integram também o Trio José, começaram em 2013 a protagonizar homenagens ao autor da consagrada música Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua, sempre nos meses de abril, quando Sampaio nasceu em Cachoeiro do Itapemirim (ES) justamente em 13 de abril, de 1947, um domingo. O projeto da dupla ganhou reforços no ano passado com a entrada de Macedo (contrabaixo) e Rass (percussão). O mesmo show será atração no sábado, 14, para o o público que frequenta o Parque da Cidade Roberto Burle Marx, em São José dos Campos (SP), cidade do Vale do Paraíba.
Para muitos dos que cultuam Sérgio Sampaio ele é o mais famoso artista que brotou em Cachoeiro do Itapemirim — terra também de Roberto Carlos e Carlos Imperial. Em sua trajetória como cantor, Sérgio Moraes Sampaio ficou muito conhecido pelo sucesso Eu quero botar meu bloco na rua, com a qual participou do 4º Festival Internacional da Canção (1972) e foi escolhida para integrar o compacto do Festival, ajudando o disco a vender mais de 500 mil cópias e que se celebrizou como marcha de Carnaval de 1973. A música que seria uma resposta a quem o acusava de ter afinado contra a ditadura militar rendeu a Sérgio Sampaio o Troféu Imprensa da categoria Revelação de 1973, entregue pela Rede Globo. E virou bordão de protesto até hoje em voga para quem, em situação adversa, parte para o enfrentamento e vai para as cabeças tentar virar o jogo.
A carreira de Sérgio Sampaio teve influências do pai, Raul Gonçalves Sampaio, autor da música Cala a boca, Zebedeu, e do primo, Raul Sampaio Coco, que compôs o hino municipal Meu Pequeno Cachoeiro, gravado ainda pelo rei do iê-ie-iê. Ele sempre recusou rótulos em vida, mas está entronizado de forma pétrea na galeria dos classificados pela mídia e pelos críticos como “malditos” — galera que reúne entre outros, ainda, o seu amigo Torquato Neto. Por falar em poesia, o capixaba adorava esta forma de expressão (“um livro de poesia na gaveta não adianta nada, lugar de poesia é na calçada!”) e já em 1964 desembarcava no Rio de Janeiro ao encontro dela e das dores e delícias da poética vida boêmia. Contava 17 anos quando deu de cara com o Cristo Redentor, procurando trampo como radialista. Até conseguiu um lugar na Rádio Relógio, mas ficou apenas quatro meses.

Cabeludo, contestador, arredio: Sergio Sampaio personificou o perfil que — mais que um simples estereótipo — identificava os jovens contrários ao pensamento repressor e autoritário tanto da sociedade, quanto do regime político em que viveu
Sem sucesso nesta primeira tentativa, retornou à Cachoeiro do Itapemirim até que, em 1967, fez as malas de vez e reencontrou-se com o fervo carioca. Dizem que, amante de boa música e bebida, teria se sujeitado a morar em pensões baratas e até mesmo na rua. Teria passado fome “sempre sedento para mostrar suas músicas, pois precisava de uma orelha e nunca fez doce para tocar”, de acordo com outro primo, João Moraes. A guinada favorável veio ao arriscar a sorte e tentar mostrar suas composições nos estúdios da Rádio CBS — onde então trabalhava um produtor conhecido por Raul Seixas. O terceiro Raul da vida de Sampaio, então, farejou que naquele “menino” havia luz e semente para a renovação da música brasileira e apostou na gravação de um compacto pela gravadora. O disco, além de abrir as portas para o cabeludo capixaba, ainda é o embrião da longa e frutífera parceria entre ele e o Maluco Beleza.
Sérgio Sampaio também teve envolvimento com várias mulheres e se casou com duas, começando por Maria Verônica Martins, em 1974. A lua-de-mel o afastou dos estúdios até 1975, ano em que gravou Tem que Acontecer (reeditado em CD em 2002), com participações de Altamiro Carrilho e Abel Ferreira. O álbum sucessor de Eu quero botar meu bloco na rua o fez retomar shows e atrairia depois a atenção de companheiros como Zizi Possi e Erasmo Carlos, músicos que se dedicaram a releituras de suas obras, assim como Elba Ramalho, Luiz Melodia e o conjunto Roupa Nova.
Neste momento da carreira o “filho de um pai teimoso”, que descobriu “maravilhado” ser “mentiroso, feio, desidratado e infiel, bolinha de papel” e que nunca seria “réu dormindo”, já se comportava como “um velho bandido” que matava rato para comer, dançava rock para viver e fazia samba para vender sorrindo, intransigente em relação à preferência das gravadoras. Estas posturas e vícios da vida boêmia o deixaram para escanteio até 1981, quando ressurgiu já casado com a Ângela Breitschaft, com quem teve o filho João Sampaio, arquiteta cuja família patrocinaria, em 1982, o compacto independente Sinceramente.
Avesso à mídia e aos confetes, logo, também, terminou o segundo casamento, e, separado, regressou à casa do pai, antes de nova mudança para o Rio de Janeiro. Já na década dos anos 1990, residindo na Bahia, começaram as regravações por vários artistas de alguns dos seus sucessos. Em 1993 declarou que virara abstêmio e anunciou projetos que não chegou a tirar do papel, mas renderam Cruel, que apresenta Sérgio Sampaio e saiu em 2006 pelo selo paulista Baratos Afins, com esforço pessoal de Zeca Baleiro, após receber de Ângela Breitschaft uma fita contendo músicas inéditas e arranjos de acompanhamento trazendo músicos como Bocato, entre outros.
O currículo de Sampaio destaca, ainda, em 1998, que o compositor Sérgio Natureza produziu o álbum tributo Balaio do Sampaio, dois anos após homônimo show póstumo promovido no Rio de Janeiro com cantores como Alceu Valença, Jards Macalé, poetas e músicos como Chico Caruso e Euclides Amaral. Em 2000, Rodrigo Moreira publicou biografia pela editora Muiraquitã. João Sampaio regravou outras canções do pai com dois artistas capixabas, Inara Novaes e Tiago Gomes, em 2011, entre as quais Menino João, que Sérgio Sampaio escrevera para homenagear o guri.
“Sampaio foi um nome marginalizado que se equipara a Tim Maia e Raul Seixas”, afirma, hoje, o pernambucano Lenine. “A paisagem urbana em geral, e a carioca em particular, na poética de Sérgio Sampaio, possui a fúria modernista”, aponta Jorge Luiz do Nascimento, autor de um estudo da obra do homenageado pelo Sampaio 70.
O Espaço 91 fica na rua Frei Henrique de Coimbra, 91, Pompeia, e efetua reservas pelo portal cujo endereço eletrônico é http://www.mediasight.com.br/
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