Evento da Picuá Promoções é promovido sempre no último domingo de cada mês durante a Feira Coberta, no Centro Cultural Padre Eustáquio
Marcelino Lima, com Nilce Gomes e Lilian Macedo
A Picuá Produções Artísticas, estabelecida em Belo Horizonte (MG), promoverá em 27 de maio a quarta rodada do projeto Viola de Feira, por meio do qual pretende fomentar e difundir a música de viola caipira oferecendo concertos mensais que transcorrerão no Centro Cultural Padre Eustáquio. Durante as apresentações, ponteado por dois ases do estado, o instrumento de dez cordas será a maior atração, sempre no último domingo de cada mês, a partir das 11 horas. Um violeiro anfitrião receberá outro, convidado, de forma que se possa estabelecer entre ambos e a plateia vínculos culturais, fomentando, ainda, diálogos com a música brasileira. A vez , agora, é de Pereira da Viola, que compartilhará a honra com Nádia Campos.
O local escolhido para a apresentação de ambos e que também já recebeu Chico Lobo e Jéssica Moraes, em fevereiro, Bilora Violeiro e Letícia Leal, em abril, e Wilson Dias e Padre Paulo Morais é estratégico: atende a toda a região Noroeste da Capital mineira; anexa ao Centro Cultural é promovida a Feira Coberta — tradicional evento e ponto de encontro de belo-horizontinos que, portanto, constituem ótima oportunidade para feirenses e público em compras entrar em contato com a verdadeira cultura de raiz.
Pereira da Viola
No palco, uma viola Rio Abaixo, outra viola em cebolão, um violão tradicional e duas vozes. Este é o cenário da cantoria que Pereira da Viola, acompanhado pelo irmão Dito Rodrigues (violão), prepara especialmente para o Viola de Feira deste domingo, 27. Cantor, compositor e violeiro, Pereira da Viola é um destes raros exemplares de músicos ligados à sua origem, que conservam ao longo de sua carreira as características marcantes de sua história pessoal, da terra onde cresceu, de sua gente e de seu aprendizado musical.
Nascido na Comunidade Quilombola de São Julião – município de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais, Pereira é filho de foliões: João Preto (sanfoneiro) e Mãe Augusta (cantadeira de Folia de Reis e de todo tipo de cantigas de roda, batuques e brincadeiras). Ainda criança, acordava à noite ao som das folias que visitavam sua casa trazendo violas, sanfonas, caixas de folia e muita cantoria. Neste ambiente sonoro, fez-se a base de sua musicalidade – permeada pela ampla leitura da riqueza poética, melódica e da diversidade rítmica da música de raiz e da cultura popular.
Ainda jovem, após rica experiência como presidente de um sindicato dos trabalhadores rurais, aproximou-se de movimentos sociais e pôde ampliar seus horizontes culturais, o que acabou por culminar no desenvolvimento de sua habilidade ao violão e, mais tarde, no instrumento que veio lhe consagrar como grande representante das artes do Brasil e de Minas Gerais – a viola. Nessa época, desenvolveu também sua veia poética e a capacidade de retratar, como compositor, o universo rural do qual fazia parte, com a visão entremeada pela influência de suas origens caipira, negra e indígena. Por isso, tornou-se, em pouco tempo, a partir do final dos anos da década de 1990, um dos mais aclamados representantes do universo rural brasileiro, reconhecido por grandes gênios da música brasileira, agraciado pelo público e pela crítica.
Com sete álbuns autorais – Terra Boa (1993), Tawaraná (1996), Viola Cósmica (1998), Viola Ética (2001), Akpalô (2007), Pote (2011, com Wilson Dias e João Evangelista Rodrigues) e Novos Caminhos (2018) – Pereira da Viola também participou de relevantes trabalhos coletivos, festejados pelos amantes da música de viola brasileira, dentre eles Violeiros do Brasil, Viva Viola, Viola Brasileira em Concerto, Carnaviola e Pote – alguns deles renderam livro, CDs e DVDs.
Em 2016, lançou seu primeiro DVD solo, Incelente Maravia – 20 Anos. Para a gravação do DVD e show de lançamento reuniu composições próprias ou em parceria com poetas, músicos e escritores — todos eles autores fortemente influenciados pela cultura popular mineira. Dentre elas destacam-se Incelente Maravia, (Pereira da Viola e Gildes Bezerra), O meu Fraco é a Viola (Pereira da Viola e João Evangelista Rodrigues), Menina Flor (Pereira da Viola e Josino Medina) e Mulheres de Argila (Pereira da Viola, Wilson Dias e João Evangelista).
Uma viagem musical em composições, parcerias e andanças de Pereira pelo país, em um repertório que inclui, aglomera e extrapola a diversidade da música de raiz, aumentando a visibilidade da criação artística de Minas Gerais e que contribui para o enriquecimento e divulgação das artes, lendas e crenças dos povos mineiro e brasileiro. O DVD foi gravado ao vivo em 2014, no Minascentro, no Projeto Quando o Jequitinhonha canta e dança. Contou com as participações especiais de Titane, Wilson Dias, Célio Sene, Josino Medina e Bartira Sene. A banda é composta por Dito Rodrigues (violão e voz), Carlinhos Ferreira (percussão), Gladson Braga (percuteria) e Pedro Gomes (baixo).
Todo esse trabalho é realizado, em sua maioria, em praças públicas, abrangendo a variedade de público, culturas e harmonizando todos e todas com sua música e alegria; em 2017, foi a principal atração da Feira Nacional da Reforma Agrária, que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) promoveu em São Paulo, no Parque da Água Branca, onde cantou e recebeu calorosos aplausos, dentre outros líderes, do ex-presidente do Uruguai Pepe Mojica. Embora Pereira da Viola seja um artista ligado essencialmente à cultura mineira, à sua raiz no interior, quilombola e rural é também um instrumentista universal. Ele é capaz de tirar da viola (instrumento de origem europeia), inusitadas versões de Carmina Burana e Bolero de Ravel, por exemplo, sem perder a qualidade e a batida típica aprendida junto a seus mestres das Folias de Reis.
A mescla de composições próprias e músicas da tradição oral geram um concerto extremamente alegre e divertido, bem ao estilo do sempre sorridente Pereira da Viola. São apresentações interativas, vibrantes e que valorizam, além da preciosa viola, a potente voz e a simpatia deste que é um dos maiores violeiros do Brasil. Com carreira internacional, já se apresentou na Venezuela, Espanha, Portugal, Alemanha e Inglaterra. Seus espetáculos emocionam porque não apresentam apenas um virtuose instrumental ou um cantor dotado de um timbre pessoalíssimo e terno. Em tudo Pereira põe sua alma, sua fé e sua devoção, atributos que veem de Pai João Preto e Mãe Augusta e que ele enriquece mais ainda com a força que retira do chão e da chama do seu povo. Ele não canta ou toca apenas. Ele é uma força da natureza que se solta em notas e palavras.
Nádia Campos
Um canto que não tem fronteiras como convém ao seu espírito andarilho, de quem ama a natureza e evoca a luta pela sobrevivência do que é puro e essencial. Nádia Campos, cantora desde os seis anos, cultua o gosto pelo simples e pelas culturas tradicionais e assim trilha com propriedade os caminhos das raízes brasileiras e latino americanas. Desde os nove anos, Nádia é convidada a participar da gravação de discos de conterrâneos entre os quais se destacam Enrola Bola, de Rubinho do Vale; Andejo, de Joaci Ornelas; Cantilenas de Jardim, de Fernando Guimarães; Jardim de Todos, que traz poemas musicados de Carlos Rodrigues Brandão; e a Umumakaia (Espírito do Vento), de Sotero Sol. Atualmente morando em Caldas (MG), sempre marcou presença em festivais estudantis e encontros de música e se aprimorou estudando na Fundação de Educação Artística em Belo Horizonte (MG) com o professor Gládio Pérez González.
Ela também acompanha e registra congadas, marujadas, batuques, cantadores e cantadeiras em Minas Gerais e realizou oficinas e apresentações para mais de 500 crianças no país. Percorreu a Argentina e o Chile entre 2007 e 2009 pesquisando ritmos, cantos, instrumentos e tradições e, em 2008, estreou em disco com Por que Cantamos, inspirado no poema do poeta uruguaio Mario Benedetti, com participação do menestrel Dércio Marques e do maestro Chico Moreira. Nádia Campos também esteve no Encontro Nacional e Internacional de Culturas Vozes de Mestres, em Ouro Branco (MG), no mês de julho de 2009, quando dividiu o palco com Dércio Marques e João Bá.
Ainda em 2009, Nádia Campos participou do Encontro Nacional de Violeiros e Violeiras do MST, em Ribeirão Preto (SP) e, em julho de 2010, voltou ao Chile para apresentações e entrevistas em Santiago. Dois anos depois, protagonizou o show Arreuni durante o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso (GO) ao lado de outros cantadores e violeiros. Em homenagem a Dércio Marques, realizou apresentações na Praça da Cidadania na Feira da Paz de Betim (MG) em diversas edições.

Nádia Campos cultua o simples e culturas tradicionais e assim trilha os caminhos das raízes brasileiras e latino-americanas
Nádia também elaborou e apresentou no cineteatro Glória da Colônia Santa Isabel um Auto de Natal com 40 jovens e crianças do projeto INCA, em Betim, e participou junto com Déa Trancoso e Paula Piu do projeto Mulheres que Dizem o Som no teatro de bolso do SESC Palladium, em Belo Horizonte (MG). O currículo da mineira ainda aponta participações no Encontro dos Povos do Espinhaço, em 2013, gravações e composições para o disco João Bá 80 anos, que considera seu mestre e dirige seu segundo disco independente, Cantigas de Beira Rio. Em 2014 cantou novamente para o Arreuní, agora em Campinas (SP), acompanhou o grupo Caviúna no sarau filosófico da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), em Betim, e participou do Encontro dos Povos do Cerrado, em Brasília (DF), e do Circuito Dandô pelo qual percorreu seis cidades do Rio Grande do Sul e do qual, atualmente, é anfitriã em Betim.