Músico e violeiro apresenta-se ao lado de nova banda, na qual estão três jovens da nova safra instrumental mineira e que forma o trio que abrirá a apresentação
Marcelino Lima
Com uma nova formação de banda, o cantor e compositor Pereira da Viola vai se apresentar na quinta-feira, 12, no palco da casa A Autêntica, em Belo Horizonte (MG). A cantoria com abertura do grupo Trivial está marcada para começar às 22 horas e marcará a estreia do show Brasil Bonito, no qual o violeiro subirá ao palco com o baixista Pedro Gomes (que também assina arranjos e direção musical), Paulo Fróis (bateria), Augusto Cordeiro (guitarra e cavaquinho), Dito Rodrigues (violão e vocais), Débora Costa (percussão) e Lucas de Moro (piano).
Pereira da Viola
Pereira da Viola nunca perdeu de vista sua origem de brasileiro negro, indígena e quilombola. Sua musicalidade é prova irrefutável disso. Ainda assim, dispôs-se a fazer nova travessia cultural até a África para realimentar e transformar mais uma vez sua arte. O resultado dessa nova conexão poderá ser sentida no show Brasil Bonito, que dá ênfase a influências contemporâneas como Sona Jobarteh (Gâmbia) e Bonga (Angola) e reflete, ainda, a admiração e respeito de Pereira da Viola aos mestres mineiros como Zé Coco do Riachão e Seu Manelim na concepção do novo trabalho.
Pereira da Viola não nasceu violeiro: diz que é a viola que escolhe a hora e o momento que quer fazer parte da vida de um artista. “A mística em torno do instrumento é forte. É a viola que te escolhe. Comigo aconteceu lá na Serra dos Aimorés, em Minas, quando eu me arrepiei com uma folia de reis tendo o mestre seu Bráulio no comando e tocando viola. Eu já tocava violão. Me apaixonei por ela e quis seguir esse caminho. Aprendi a tocar sozinho. Tempos depois, descobri que meu avô paterno era violeiro, ou seja, o namoro da família com a viola já vinha de bem antes.”
Numa família de descendentes de indígenas e negros, cresceu num ambiente humilde mas repleto de música. Seu pai, João Preto, era lavrador e também sanfoneiro. A mãe, dona Augusta, era líder e cantadeira das festas de reisado. Aprendeu a tocar violão aos 11 anos. Com 14, começou a se apresentar em shows de calouros, ganhando todas as competições.
Em 1982, influenciado pelas obras de artistas como Dércio Marques, Rubinho do Vale, Titane e Milton Nascimento, passou a compor músicas que retratavam sua história. Em 1986, foi apresentado à viola e se encantou pelo instrumento. Junto com sua primeira viola ganhou de um amigo o apelido, uma homenagem ao músico Paulinho da Viola. A brincadeira acabou lhe rendendo seu nome artístico.
Quando incluiu a viola, Pereira passou a utilizar, simultaneamente, o tampo para percussão, o que deu origem a suas famosas batidas de contradança, batuques e voltados-inteiro. Este momento marca o encontro definitivo do trabalho do artista com suas origens. A busca pelas raízes do povo brasileiro e seu envolvimento com os povos indígenas o levaram a se apresentar no Acre, no Amazonas, no Mato Grosso e, onde foi convidado por Inezita Barroso para uma entrevista na Rádio da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo
Inezita se encantou tanto com o trabalho de Pereira da Viola que o chamou para dividir com ela as palmas que ambos receberam num show no Teatro Popular do Sesi. Em 1993, ele gravou seu primeiro disco, Tawanará, e hoje forma discografia de cinco álbuns autorais contando entre eles o recente Novos Caminhos e um DVD celebrando suas mais de duas décadas de produção na qual privilegia os ritmos populares.
Mais do que músico, Pereira é um ativista pela preservação e reconhecimento da viola como patrimônio cultural do povo brasileiro. Em 2003, Pereira promoveu o Encontro Nacional de Violeiros, em Ribeirão Preto (SP), que atraiu 10 mil pessoas e resultou na criação da Associação Nacional dos Violeiros, entidade que busca valorizar a cultura caipira e lutar por melhores condições de trabalho para a categoria. Pereira foi escolhido presidente da Associação, cargo que ocupou até 2008.

Tau Brasil e Wilson Dias entre os jovens e filhos Augusto Cordeiro (ao lado de Tau, de chapéu), Paulo Fróis e Pedro Gomes (antes de Dias), integrantes do Trivial
Trivial
O Trivial, trio que fará o ‘esquenta’ da apresentação de Pereira da Viola n’A Autêntica, formado pelos músicos Augusto Cordeiro (violão), Paulo Fróis (bateria) e Pedro Gomes (baixo), mescla em seu repertório clássicos da música brasileira, composições próprias e da atual cena autoral de Minas Gerais com interpretações de Toninho Horta, Rafael Martini e Thiago Delegado. O público ouve releituras instrumentais de sucessos como (Edu Lobo), Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant), Respeita Januário (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), Araquesta (Wilson Dias), Tau pai, tal filho (Augusto Cordeiro, Tau Brasil e Eugênio Brito) dentre outras.
Gomes e Cordeiro são, respectivamente, filhos de Wilson Dias e Tau Brasil, assim como Pereira da Viola referências da música regional de Minas Gerais. Os dois jovens, ao lado Fróis, formam uma geração de músicos e pesquisadores que desponta com vigor e virtuosismo promovendo uma sonoridade marcada por inusitada combinação de elementos da música mundial, com predominância do imaginário rítmico e cultural brasileiro. O show não se prende a rótulos ou categorias, e se desenvolve de maneira fluida, com uma estética original e contemporânea, simples e sofisticada, cuidadosamente construída.
Serviço:
Pereira da Viola lança o show Brasil Bonito, com abertura do trio Trivial
12/julho 2018
Abertura da casa: 21h/ Shows: 22h
A Autêntica: rua Alagoas, 1172, Savassi Belo Horizonte, MG
Valor: R$ 25,00 antecipado/R$30,00 portaria
Venda Antecipada n’ A Autêntica de segunda à sexta, de 8h às 18h ou na Sympla: http://www.sympla.com.br/aautentica