A obra do músico de Caxias do Sul é uma das mais ricas do país e reinsere a viola caipira na cultura gaúcha por meio de shows, livros técnicos e discos nos quais toca ritmos nativos como Rancheira, Chamamé, Milonga, Xote e Toada
Marcelino Lima
O Barulho d’água Música recebeu recentemente duas novas contribuições para o acervo de álbuns e livros que vimos montando, paralelamente ao trabalho de divulgação da boa música de diversos gêneros e ritmos que é produzida no país. Desta vez a gentileza veio de Caxias do Sul, uma das mais importantes cidades do Rio Grande do Sul, onde vive e produz extensa e valiosa obra o violeiro Valdir Verona. São dois novos discos instrumentais, Rio Abaixo e Viola de 9 Cordas.
O álbum Rio Abaixo deriva de um dos estudos e livros didáticos de Valdir Verona sobre métodos e afinações de viola; as faixas utilizam a afinação homônima, conhecida como Open G (Sol Maior Aberto), mundialmente conhecida e utilizada no Brasil por muitos dos nossos principais brasileiros, conforme Verona explica na publicação de sua autoria sobre este método.
Trata-se de afinação muito usada neste instrumento, embora a maioria dos trabalhos publicados para a viola brasileira seja dirigida para a afinação conhecida por Cebolão (em Mi Maior ou Ré Maior), mais usada na música tradicional caipira. O presente trabalho de Valdir Verona visa justamente a preencher essa lacuna, possibilitando, assim, contribuir para que os adeptos ao instrumento tenham mais material de referência. As peças deste projeto são compostas com esse propósito, pois a maioria delas não apresenta dificuldades de execução, possibilitando que mais violeiros possam utilizá-las.
As composições de Rio Abaixo têm por base ritmos característicos da música do Sul tais como: Rancheira, Chamamé, Milonga, Xote, Contrapasso, Bugio, Chamarrita, Vaneira e Toada. Em o Pequeno Concerto Para Minha Terra, por exemplo, ouve-se as primeiras obras de Valdir Verona para a viola de 10 cordas – Grotas, Águas do Santa Cruz e Tons da Terra. O mesmo tema é dedicado ao lugar onde o violeiro nasceu e passou sua infância no interior de Caxias do Sul, o distrito de Vila Oliva, próximo a Gramado e a Canela.
Valdir Verona é autor de outros livros didáticos voltados às cordas, com destaque para seus 14 Estudos Progressivos – Violão Campeiro, publicado em 2002 e que virou referência para o violão brasileiro; Gêneros Musicais Campeiros no Rio Grande do Sul – ensaio dirigido ao violão; e Ritmos Campeiros no Rio Grande do Sul – Viola de 10 Cordas, além de outras obras de partituras para violão e viola brasileira.
A discografia de Valdir Verona é rica, quer seja pelos discos autorais, quer pelas participações em outros projetos, como o Ária Trio (Ad Libitum) ou o Duo de Viola e Acordeon, juntamente com o músico Rafael De Boni, e também do projeto Violas ao Sul em parceria com os violeiros Ângelo Primon, Mário Tressoldi e Oly Junior.
E com estes dois novos trabalhos reforça sua valiosa e continua contribuição para o resgate do uso da viola na música do Sul, na qual é considerado a principal referência, ao mesmo tempo que se afirma como um dos melhores na arte de pontear em todo o Brasil. Os dois discos saem no momento em Valdir Verona comemora 30 anos de estrada. Sobre o projeto Viola de 9 Cordas, ele contou que o repertório é uma coletânea com as principais composições instrumentais desta trajetória, adaptadas para o instrumento e gravadas ao vivo no estúdio.
A viola de 9 cordas é uma criação dele, Verona, em parceria com o Dominus Luthier com base em pesquisas nas violas brasileiras e violão de 12 cordas.
Nas violas nordestina (usadas pelos repentistas) e viola do fandango caiçara (litoral sul de São Paulo e litoral paranaense) são encontradas violas em que são mescladas ordens de cordas simples, duplas e em algumas, também são usadas ordens triplas.
Nesta viola de 9 cordas, com 3 ordens simples e 3 duplas, o resultado é um instrumento com uma sonoridade encorpada e robusta, mesclando tradição e contemporaneidade.
Nestas três décadas, o músico vem apresentando sua obra em diversos formatos: solo, duos, trios, grupos, músico acompanhante, aulas de música, pesquisas, produções e direções musicais. Desde o final da década de 1990, portanto, Valdir Verona desenvolve um trabalho de resgate da viola de 10 cordas na música do Sul que vai desde recitais, shows, composições a gravações, edições de partituras e tablaturas, oficinas etc. A discografia conta com nove álbuns e três livros com discos encartados além de diversas participações em gravações e produções de CDs e DVDs. Foi contemplado com o Prêmio Excelência da Viola Caipira em duas edições; Indicado ao Prêmio Açorianos de Música em três oportunidades pelos CDs Encontro das Águas, Uma Viola ao Sul e Na Estrada, este último, com três indicações: Compositor, álbum e instrumentista.
Formação Musical
Teoria e Leitura Musical de 1987 a 1989 no Instituto Johan Sebastian Bach e Academia de Educação Musical – Caxias do Sul/RS; Violão Clássico, Harmonia e Improvisação, de 1992 a 1996 na Prelúdio Centro Instrumental, e Técnica Vocal na Sociedade de Cultura Musical (UCS), Caxias do Sul, durante o ano de 2000.
Participações em oficinas de música, seminários, encontros
Oficinas de Música de Curitiba/PR nas edições de 1998, 2000, 2007 e 2008 nas seguintes áreas: Viola brasileira, Canto, Grupo Vocal, Harmonia, Improvisação e Harmonia e Percepção musical; I e II Seminário Voa Viola – Tradição e Inovação, realizados em Belo Horizonte/MG; Seminário Cadeia Produtiva da Viola Caipira, em São Paulo (2013) e Brasília (2016); III e V Encontro Nacional de Violeiros – Ribeirão Preto (SP) e São Paulo nos anos de 2005 e 2014; XI Caipirapuru, em Irapuru (SP), 2011; Mostra Viola In Foco em Ituiutaba (MG) 2016; e 2ª edição do Mil Violas, em Uberlândia (MG), em 2017.
Participou em diversos festivais, tanto em âmbito regional, quanto nacional, com destaques para: 8º Brasil Instrumental de Tatuí/SP; 1º Festival Voa Viola, quando foi selecionado entre os trabalhos mais representativos da viola brasileira na oportunidade. No exterior, representou o Brasil na homenagem ao país durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, Suíça em 2012, e na 25ª Feira Internacional do Livro de Bogotá (Colômbia).
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