1121- Samba-enredo da Mangueira vai homenagear Marielle Franco, vereadora carioca morta por defender minorias

Ativista corajosa e defensora de pobres e de negros, executada no auge da vida , ela é uma das personalidades citadas na composição que tira a poeira dos porões e revela o Brasil que não está mencionado nos livros de história*

*Com Agência Brasil (EBC)

A Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira cantará na Marques de Sapucaí durante o desfile do Carnaval 2019 da cidade do Rio de Janeiro (RJ) o samba-enredo História para ninar gente grande, que entre outras personagens homenageará a ex-vereadora do PSOL Marielle Franco. A “Verde-e-Rosa” iniciará sua passagem na passarela por volta das 2h40 da segunda-feira, 4 de março, e terá até 3h15 para apresentar o enredo que deverá levantar as arquibancadas e ainda cita os cantores Leci Brandão e Jamelão. A composição de Deivid Domênico, em parceria com Tomaz Miranda, Mama, Márcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino, foi escrita para tirar as poeiras dos porões, reverenciar quem foi de aço nos anos de chumbo, resgatar a história que a história não conta de mulheres, tamoios e mulatos e de um país que não está no retrato. Ou seja: a ideia é revelar  o ‘lado B’ de Pindorama desde 1.500, com versões mais críticas a feitos atribuídos a Pedro Álvares Cabral, Princesa Isabel, Dom Pedro I e Marechal Deodoro, entre outros “heróis” do almanaque tupiniquim.

Marielle Francfoi assassinada a tiros no dia 14 de março no Rio de Janeiro, vítima de um atentando que também ceifou a vida do motorista dela, Anderson Gomes, até hoje não esclarecidos apesar de pressões e  de repercussões dentro e fora do país. O samba-enredo foi anunciado no dia em que os homicídios completaram sete meses, em ato na Cinelândia, no Centro da cidade, durante o qual foram distribuídas mil réplicas de uma sugestão de placa de rua em homenagem à ex-vereadora. A campanha para a confecção das placas foi lançada pelo portal de humor Sensacionalista depois que dois candidatos a deputado estadual pelo PSL destruíram o adesivo colado na placa que identifica a Praça Floriano, no bairro Estácio. A colagem mudava informalmente o nome do logradouro para Rua Marielle Franco.

Após a distribuição, os manifestantes formaram a palavra Marielle com as placas levantadas. A viúva da vereadora, Mônica Benício, colou uma delas sobre a placa da Praça Floriano, retirando a homenagem em seguida. Emocionada, a mãe de Marielle, Marinete Silva, ressaltou que mobilizações deste tipo mantêm vivas as causas defendidas pela filha, defensora dos direitos humanos e de minorias, além de ativista do movimento negro. “Quando chegamos aqui já tinha uma fila enorme”, disse. “É muito gratificante, é um dia de muita dor, de muita tristeza, mas vamos resistir”, prosseguiu Marinete. “Cada dia que um público vem se manifestar em memória da minha filha,  sabemos que ela existe e que vai continuar existindo. E resistindo também, a gente precisa, nos fortalece bastante.”

Distribuição de réplicas de placas de rua com nome da Marielle Franco, na Cinelândia (Foto Fernando Frazão/Agência Brasil)

A artista Carol Aniceto disse que a campanha é um direito de resposta aos atos de intolerância praticados no país. “A intenção é manter o legado de Marielle e dar uma resposta aos fascistas que, de maneira desrespeitosa, troglodita e antidemocrática, quebraram a placa em homenagem a ela.” Já a pesquisadora da Fiocruz aposentada Fernanda Carneiro acredita que “Marielle é uma explosão de paz, onde está a Marielle está todo mundo comovido, consternado e revoltado com o desrespeito que está vingando no Brasil”.

Marielle Francisco da Silva, a Marielle Franco, era socióloga e deixou em sua vida de breves 39 anos a marca da combatividade política e do destemido engajamento em defesa dos direitos humanos e feministas, entre outros segmentos que defendia. Filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), elegeu-se vereadora da cidade do Rio de Janeiro para a Legislatura 2017-2020, com a quinta maior votação entre os candidatos à Câmara Municipal, com 46.502 votos.

Crítica da intervenção federal no Rio de Janeiro e da Polícia Militar,  Marielle Franco denunciava constantemente abusos de autoridade contra moradores de comunidades carentes, militância que familiares, amigos e seguidores acreditam estar na base dos motivos e da ordem de sua execução junto com Anderson Pedro Mathias Gomes, no Estácio, Região Central do Rio de Janeiro. Uma de suas assessoras também estava no carro metralhado, mas escapou sem ferimentos. Ninguém foi preso pelos crimes até o momento em que esta atualização foi publicada e, para a Polícia carioca, Marielle foi abatida por razões políticas. As investigações são conduzidas como “segredo de Justiça”.

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