1130 – Ednardo (CE) rememora “Romance do Pavão Mysterioso” em duas rodadas, no Sesc Belenzinho (SP)*

Cantor e compositor que já conta com 45 anos de trajetória volta à São Paulo para apresentar com sua banda repertório do seu mais famoso disco, cuja faixa-título é inspirada em um clássico folhetim da literatura de cordel
* Com Eliene Verbena, Verbena Comunicações

A unidade Belenzinho do Sesc da cidade de São Paulo reservou o palco de seu teatro para as apresentações de Ednardo, um dos mais aclamados cantores e compositores do país. Natural de Fortaleza (CE), Ednardo e a banda de sete músicos que o acompanham – entre os quais o violeiro Manassés de Sousa, que participou da gravação do disco e assina trabalhos importantes da música brasileira desde a década dos anos 1970 — serão atração nos dias 1º e 2 de dezembro para relembrarem, na íntegra, as músicas do primeiro e mais famoso disco dele, Romance do Pavão Mysteriozo (veja detalhes na guia Serviços). Os shows integram o projeto Álbum da unidade, pelo qual o Sesc visa a remontar a memória da música brasileira por meio de registros fonográficos.

 Além de Pavão Mysteriozo, o álbum tem outros sucessos como Artigo 26, Carneiro (parceria com Augusto Pontes) e  A Palo Seco (Belchior), Avião de Papel, Mais Um Frevinho Danado, Ausência, Varal (parceria com Cabral), Dorothy Lamour (Petrúcio Maia e Fausto Nilo), Desembarque, Trem do Interior (com Fausto Nilo), Alazão (Clarões) (com Brandão) e Água Grande.

Ednardo está na estrada há pelo menos 45 anos e, conforme consta no texto disponível em seu sítio eletrônico, escrito quando a carreira chegava a quatro décadas, em 2013, seus versos e músicas foram soltos aos quatro ventos e continuam a circular em todo lugar, varando cancelas, abrindo porteiras, alcançando novas gerações. Ainda hoje, prossegue o texto, muitas luas cheias depois, suas letras e melodias seguem entoando forte, muito além da Beira-Mar

Tudo começou com o lançamento do disco Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto Na Viagem – Pessoal do Ceará gravado em 1973, com Rodger Rogério e Tetty — que juntamente com Chico César também participaram da regravação do show, em formato DVD, ao vivo, em Fortaleza, há cinco anos; o paraibano Chico César é parceiro de Ednardo na música Única Pessoa, do álbum homônimo lançado por Ednardo, em 2001.

De 1973 – quando lançou Beira Mar, Terral e Ingazeiras – para frente, Ednardo foi muito além das dunas brancas. Em carreira solo, ganhou o sul, a sorte e segue construindo uma ampla história, com mais de 450 músicas e letras, distribuídas em 15 discos originais, 16 discos de compilações, duas trilhas musicais para teatro, dois especiais para TV e quatro trilhas musicais de cinema. Em 1976, a canção Pavão Mysteriozo, lançada dois anos antes no disco O Romance do Pavão Mysterioso, impulsionou a asas da carreira de Ednardo ao virar tema de abertura da primeira versão de Saramandaia, novela da Rede Globo que ganhou releitura em 2013.

A atriz Wilza Carla, que interpretou Dona Redonda, na primeira versão de Saramandaia, sendo preparada para “explodir”

Este, entretanto, não é o seu único sucesso, já que em sua obra se destacam ainda muitas outras, como Artigo 26, do disco Berro (1976); Enquanto engoma a calça, em coautoria com Climério, e A Manga Rosa (Ednardo, 1979). Reconhecidas internacionalmente, suas músicas já foram gravadas por mais de 50 diferentes intérpretes e tocam em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Holanda, Alemanha, Japão, Israel, Cuba, México, Argentina, Uruguai, comunidades latino-americanas dos Estados Unidos, entre outros. 

Ednardo é o autor das trilhas musicais dos filmes Luzia Homem (Fábio Barreto) sucesso de bilheteria no Brasil e no exterior, Tigipió (Pedro Jorge de Castro), com trilha premiada nos festivais de Karlov Vary, na antiga Checoslováquia, e em Verona, na Itália, e O Calor da Pele (também de Pedro Jorge de Castro). Em 1977, dirigiu e produziu o Cauim, um misto de documentário e ficção sobre o maracatu cearense. Este trabalho deu nome ao seu disco lançado no ano seguinte.

Encarte do álbum duplo Massafeira

Dois anos após Ednardo realizou em Fortaleza o festival de artes Massafeira Livre, ponto alto da efervescência cultural cearense, levando ao Theatro José de Alencar nomes como Fagner, Belchior, Fausto Nilo, Mona Gadelha, Patativa do Assaré, Lúcio Ricardo, Régis & Rogério, entre muitos dos 400 artistas participantes. Em 1980, o grupo, formado por mais de 80 pessoas, seguiu para o Rio de Janeiro para gravar, em estúdio, obras que marcaram o festival, dando origem ao álbum duplo Massafeira, com direção artística, de produção e estúdio de Ednardo. O álbum, que é considerado um dos mais importantes registros da música cearense, ganhou uma reedição especial, em CD duplo e livro, comemorativa de 30 anos do antológico encontro musical, em 2010. Em fevereiro de 2019, Massafeira será tema da série deste blogue Clássico do Mês.

Artesão da canção

A riqueza musical de Ednardo nesses 45 anos de carreira rompe qualquer tentativa de rotular sua obra, observa o texto no portal do músico. Ele é um dos responsáveis por ampliar a uma dimensão nacional, as manifestações da tradição regional do maracatu, frevo, forró, baião e cordel, que misturadas ao rock, blues, canções românticas, boleros e outros ritmos, resultou nessa tão múltipla obra. Nas palavras do professor e pesquisador Gilmar de Carvalho, em Referências Cearenses na Comunicação Musical de Ednardo, “ele cria em cima do que seria raiz, sem folclorizar seu trabalho. É um artesão da canção, um compositor cearense/brasileiro/universal”.

Romance e novela

A música Pavão Mysterioso foi tema de abertura, em 1976, de Saramandaia, que a Rede Globo pôs no ar com uma proposta muito diferente, surpreendente e estarrecedora até para os padrões da época, conforme relatado pelo autor do blogue O Planeta é Nosso, em abril de 2010, e base deste texto.

Saramandaia, de Dias Gomes, trouxe uma história recheada de acontecimentos bizarros e fenômenos sobrenaturais que se passavam na fictícia cidade de Bole Bole com personagens como João Gibão (Juca de Oliveira) — que possuía asas –; Zico Rosado (Castro Gonzaga) – que soltava formigas pelo nariz -; Dona Redonda (Wilza Carla) — que explodiu de tanto comer –; Seu Cazuza Moreira (Rafael de Carvalho) – que ameaçava cuspir o coração toda vez que se emocionava; Marcina Moreira, filha de Cazuza (Sônia Braga) — quando excitada, ficava em brasa, queimando tudo o que encostava; e o professor Aristóbulo (Ary Fontoura)—que virava lobisomem.

Entre tudo de inusitado que havia naquela novela que foi regravada e ao ar em 2013, também fez sucesso o tema de abertura, interpretado por Ednardo: Pavão Mysterioso, baseado num clássico da literatura de cordel nordestina. Ednardo foi buscar inspiração nos versos de do Romance do Pavão Misterioso (1923), escrito por José Camelo de Melo Rezende (Guarabira-PB) e que narra uma aventura aparentemente despretensiosa, mas de grande apelo popular, com raízes nos contos das As Mil e Uma Noites.

O Romance do Pavão Misterioso possui 141 estrofes de seis versos (sextilhas) de sete sílabas (redondilha maior). Conta a história da Condessa Creuza, a moça mais bonita da Grécia, trancada pelo pai desde a infância no mais alto quarto de um sobrado. Uma vez ao ano, a moça aparece por uma hora ao povo, que vem de longe, só para contemplar a beleza dela. Um retrato de Creuza chega à Turquia e deixa apaixonado Evangelista. Ele, então, vai à Grécia e encomenda uma engenhoca alada — o Pavão Misterioso do título – com o qual consegue chegar ao quarto da moça, raptando-a, depois de vários perigos e dificuldades.

A canção-tema da novela Saramandaia alavancou as vendas do folheto. A editora de cordéis Luzeiro, de São Paulo, que publica o folhetim desde 1970, vendeu mais de 50 mil exemplares desta obra no ano em que a trama foi ao ar. É possível fazer o download gratuito da versão original do Romance do Pavão Misterioso, do site Domínio Público, em formato .pdf, por este linque:

vhttp://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=5388

Hino à liberdade

Pavão Mystrerioso, de acordo com citações encontradas no blogue Quadrada dos Canturis (QC), possui mais de vinte regravações. É considerada sagrada pelos índios do Xingu nos rituais religiosos, tem regravações na Europa orquestrada por Paul Mauriat; por grupos chilenos – Inti-Aymará e Nacha; por Elba Ramalho, Ney Matogrosso, por bandas de rock e de maracatus e muitos outros. Ainda conforme o QC, foi mais tarde adotada como hino do orgulho GLS e também é utilizada por outros tantos como hino à liberdade, à beleza humana e à capacidade de realizar a vida acima das aparentes impossibilidades. Todos estes fatos ampliam a música em todos os parâmetros e a coloca como uma das fundamentais na obra de Ednardo junto a outras que formam um precioso conjunto de obras deste artista.

Serviço

Show: Ednardo e banda

Data: 1 e 2 de dezembro, sábado, às 21h, e domingo, às 18h

Ingresso: R$ 20,00 (inteira); 10,00 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante) e R$ 6,00 (credencial plena do Sesc – trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes)

Venda no Portal e unidades do Sesc. Limite de 2 ingressos p/ pessoa.

Estacionamento: Para espetáculos com venda de ingressos após as 17h: R$ 15,00 (não matriculado); R$ 7,50 (credencial plena no SESC – trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo/ usuário).

Endereço: Rua Padre Adelino, 1000, a uma caminhada leve da estação Belém da linha 3-Vermelha do Metrô (Barra Funda-Palmeiras/Itaquera-Corinthians), Belenzinho, telefone: (11) 2076-9700

www.sescsp.org.br/belenzinho

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