Cantor e compositor paulistano faz releitura em 12 faixas da obra do consagrado carioca que marcou a MPB com composições de amor e protesto e se tornou referência após sua precoce morte de de luta contra a AIDS
“O sabor mais acentuado de Caju reside nos arranjos de Quintanilha e do maestro Rodrigo Petreca, para tentar renovar um cancioneiro já formatado pelas gravações originais” Mauro Ferreira (G1/Globo)
“Uma homenagem à irreverência e atualidade das canções de Cazuza” — Revista Continente (Recife/PE)
“Quintanilha se distanciou das versões originais, criando novas possibilidades” — Revista Sucesso!
A tradicional audição dos sábados pela manhã aqui no cafofo/redação do Barulho d’água Música hoje, 22/12, relembrou um dos mais aclamados cantores das últimas gerações, o carioca Cazuza, pela voz do cantor e compositor paulistano Marcelo Quintanilha. O disco que rolou na vitrolinha, Caju, foi recentemente gravado e chegou até nós como mais uma colaboração dos amigos Beto Previero e Moisés Santana, da Tambores Comunicações, aos quais mais uma vez somos gratos. “Atual” é o adjetivo que Quintanilha utilizou para definir o trabalho de Cazuza (1958/1990), que partiu bem antes do combinado e em 2018 completaria 60 anos. Caju era o jeito que o poeta era chamado pelos amigos mais chegados.
Quintanilha, que tem mais de duas décadas de carreira e músicas gravadas por Vânia Abreu, Padre Fabio de Melo, Daniela Mercury e Nando Reis, sempre quis fazer essa homenagem a Cazuza. “Essa atualidade do trabalho dele é incrível, o jeito de falar de amor, de conflitos pessoais e sociais. Você ouve uma música como Brasil, feita há 30 anos, e ela se encaixa perfeitamente na realidade atual, infelizmente”, disse Marcelo.
Musicalmente, Quintanilha e sua banda buscaram se distanciar das versões originais, criando novas possibilidades. Blues da Piedade vem à capela com coro gospel, que intensifica ainda mais o apelo de ‘vamos pedir piedade, senhor, pra essa gente careta e covarde’. Codinome Beija-Flor virou valsa, enquanto Brasil, cantado com Nina Quintanilha, filha de Marcelo com Vânia Abreu, torna a canção mais delicada (Nina tem 17 anos), o que acentua ainda mais a atualidade, mas também a esperança da letra.
Caju era o jeito que Cazuza era chamado pelos amigos mais chegados. Na música-título, Quintanilha tenta retratar o universo do homenageado em palavras como “Meus versos quase tão livres, quanto a alma desse tão poeta/ contra o tédio, contra os santos, contra as convenções” e observa que Cazuza o influenciou. “Sempre admirei a linguagem e a liberdade que ele tinha na vida e na obra. Ele chega e descumpre normas rígida da MPB, escola tradicional da qual eu vinha: fala com todo mundo, doce e ácido ao mesmo tempo. Como disse Gilberto Gil, Cazuza falava outra língua, mas todo mundo a entendia!”
A banda reúne Simon Abbud (guitarra e violões), Danilo Viana (baixo acústico), Rogério Rochilitz (teclados/programações) e Peu Del Rey (bateria). Os arranjos, exceto Faz Parte do Meu Show, de Xinho Rodrigues, são de Quintanilha e do Maestro Rodrigo Petreca (produtor do álbum) e foram pensados para valorizar a poesia de Cazuza, mesclando acústico e eletrônico.
Marcelo Quintanilha cresceu em meio musical. Os pais tocavam acordeom, cantavam e desde cedo o estimularam. Após experimentar alguns instrumentos, decidiu-se pelo violão. Começou no circuito universitário e teatros de São Paulo. Em 1992, aos 23 anos, classificou-se como o ‘compositor mais jovem’ entre os finalistas do Festival da Record, com a canção Domingo Outra Vez, homenagem aos festivais dos anos 1960. Estreou em disco com Metamorfosicamente (1995) e contabiliza dez álbuns, entre eles Mosaico (2005) e Eu Inteiro Só (2016). Ao lado da mulher Vânia Abreu, gravou Pierrot & Colombina (2006), com clássicos da música brasileira. Tem músicas gravadas por Daniela Mercury, Nando Reis, Vânia Abreu e outros.
Para contratar shows com Marcelo Quintanilha, faça contato com Petterson Mello, da Conexão Musical, pelo telefone (11) 97189-7425. O endereço virtual é pettersonmello2@gmail.com

Cazuza completaria 60 anos neste 2018. Morreu muito jovem, mas deixou uma obra perene que o posiciona ao lado dos cantores e poetas mais contundentes e criativos da MPB (Foto: Ana Stewart)
Cazuza era Agenor de Miranda Araújo Neto, carioca nascido em 4 de abril de 1958), mas assumiu o nome artístico para fazer a vontade do pai, o produtor João Araújo, que quando o filho ainda crescia na barriga da mãe, Lucinha, chamava-o por Cazuza. Chegou a cursar Jornalismo, mas abandonou a turma para ingressar no grupo Barão Vermelho. O primeiro disco demorou a porque o pai, dono de uma gravadora, não acreditava que o projeto fosse sério. Depois, vieram outros álbuns e o sucesso até que, cansado de só cantar rock, Cazuza saiu do Barão e lançou Exagerado (1985). Quase que simultaneamente, veio o diagnóstico da doença que o acabou levando, mas mesmo debilitado e até enfrentando ondas de preconceitos e de ataques desferidos em certos segmentos da mídia, não parou de trabalhar. Gravou novos álbuns e produziu sucessos como Faz parte do meu show e Brasil, que virou tema da novela Vale Tudo, na voz de Gal Costa.
Cazuza era um poeta apaixonado e intenso, corajoso e libertário. Num período em que a AIDS ainda era um tabu e rotulada pela imprensa sensacionalista como “peste-gay”, veio a público dizer que era soropositivo e participou da luta pública contra a moléstia e os preconceitos até expirar em 7 de julho de 1990. Dona Lucinha, logo após, criou a Sociedade Viva Cazuza, destinada a prestar apoio às crianças vítimas da doença.
Ano Novo chega com Essa Nação
Em 1º de janeiro de 2019, Marcelo Quintanilha lançará Essa Nação, uma canção que trata da identidade e diversidade do povo brasileiro, conforme anunciou em sua página eletrônica, citando Darcy Ribeiro.
“Somos povos novos ainda na luta para nos fazermos a nós mesmos como um gênero humano novo que nunca existiu antes. Tarefa muito mais difícil e penosa, mas também muito mais bela e desafiante.
Na verdade das coisas, o que somos é a nova Roma. Uma Roma tardia e tropical. O Brasil é já a maior das nações neolatinas, pela magnitude populacional, e começa a sê‐lo, também, por sua criatividade artística e cultural.
Precisa agora sê‐lo no domínio da tecnologia da futura civilização, para se fazer uma potência econômica, de progresso auto‐sustentado. Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra.”
Os parágrafos finais de O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, traduzem em prosa o que a letra de Marcelo Quintanilha diz em Essa Nação, single que será lançado pela Deck, não por acaso, no primeiro dia do Ano Novo. No dia em que tomará posse o novo governo do país, o artista pontua mais uma vez seu posicionamento político com uma canção que trata da pluralidade cultural, étnica, sexual, religiosa e de todas as matizes da nossa gente brasileira, diz em seu portal, e que completamos, são valores, posturas e tradições que se encontram seriamente ameaçados desde perseguições e desconstruções a desmontes ideológicos para a afirmação de políticas avessas e de supressão de direitos e garantias constitucionais que ameaçam desde já a liberdade e outros preceitos da democracia.
“Um país que é também do negro, do judeu, do gay, do mameluco, do artista, do velho, do hinduísta, do transsexual, da mulher, do índio, do sem-teto, e não só do hétero branco cristão”, completa Quintanilha.
Com produção do próprio artista, Essa Nação foi gravada apenas em voz, violão (Marcelo Quintanilha) e violoncello (Ionan Daniel). Tem arranjo simples, letra forte e discurso contundente e necessário no tempo atual.
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