Cantora e intérprete carioca, irmã do compositor Chico Buarque, estreou em disco em 1975 e ao longo de 40 anos gravou e se apresentou ao lado de expoentes como Vinícius de Moraes, Toquinho, Tom Jobim e João Gilberto
Em seu apagar de luzes, 2018 está levando consigo mais uma voz das mais queridas e aclamadas do país e com centenas de admiradores fora dele: a cantora e compositora Heloísa Maria Buarque de Hollanda, popularmente conhecida como Miúcha, uma das estrelas da Bossa Nova, sepultada na tarde de dia 28/12 no Cemitério São João Batista, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde morreu na véspera, aos 81 anos completados no final de novembro, devido a problemas respiratórios decorrentes de um câncer pulmonar. Miúcha era irmã de Chico Buarque e das cantoras Ana de Hollanda e Cristina Buarque e foi a primeira esposa do cantor e compositor João Gilberto. Filha do historiador Sérgio Buarque de Holanda e da pintora e pianista Maria Amélia Cesário Alvim.
Miúcha lançou 14 álbuns em 40 anos de carreira e ficou internacionalmente conhecida, principalmente na Itália, nos Estados Unidos e no Japão, país no qual seu trabalho mais recente Rosa Amarela, foi lançado em 1999 antes mesmo de sair aqui no Brasil. Este álbum inclui Doce de coco (Jacob do Bandolim) e Assentamento (Chico Buarque), mas seus maiores sucessos remontam à década dos anos 1970, quando se tornou famosa como intérprete de grandes clássicos da Bossa Nova e da MPB como Maninha (que Chico Buarque compôs para ela), Pela luz dos olhos luz teus (Vinícius de Moraes), Vai Levando (Chico Buarque e Caetano Veloso), Samba do avião e Falando de amor (Tom Jobim), e Dinheiro em penca (Tom Jobim e Cacaso) que serviria de inspiração para Chico criar a música Paratodos, título do disco que ele lançou, em 1993.
Miúcha estudou história da arte em Paris na década dos anos 1960 e em uma viagem de férias pela Itália tornou-se amiga da cantora chilena Violeta Parra, que foi quem a apresentou para João Gilberto. O casal ficou junto por oito anos e da união nasceu Bebel Gilberto, que a sucedeu como uma das vozes e musas da Bossa Nova.
O primeiro álbum de Miúcha, O Melhor dos Dois Mundo (1975), tem participações João Gilberto e Stan Getz, parcerias que abriu as portas para trabalhos com Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Toquinho, trio com o qual participou de uma performance na Itália.
Vários expoentes da MPB lamentaram a morte da cantora, entre eles Caetano Veloso. “Ao longo dos anos, Miúcha teve presença sempre luminosa em minha vida”, escreveu o baiano. “Tanto como artista, quanto como pessoa”, prosseguiu o autor de Alegria, Alegria, antes de acrescentar: “Sempre sorridente e gostando muito de viver, Miúcha era toda música, na intimidade ou no palco.“ Já o jornalista, escritor e crítico musical Ruy Castro comentou que Miúcha tinha uma qualidade rara em cantoras, pois sabia exatamente o que estava cantando: “Isso a fazia ir mais longe do que outras que podiam ter mais dotes vocais, mas não lhe chegavam nem perto como intérpretes”, frisou Castro, observando: “Só havia algo tão delicioso quanto escutar Miúcha cantando —conversar com ela”.
A música e a cultura brasileira perderam neste ano: Índio Cachoeira, Maria Dapaz, Dona Ivone Lara, Lulhi, Ângela Maria, Amarai, Zé Bettio e Dery Nascimento e Badia Medeiros.