1165- Kuarup lança “Canta Inezita”, álbum que homenageia Rainha da Música Caipira

Consuelo de Paula, Maria Alcina, As Galvão e Cláudio Lacerda interpretam 15 clássicos eternizados na voz da dama da viola,  a imortal Inezita Barroso

Ontem, 8 de março, data dedicada ao Dia Internacional da Mulher, completaram-se quatro anos da morte de Inezita Barroso — apenas quatro dias depois de ela ter completado 90 anos de vida.  Em homenagem à data global e para reverenciar a memória e a obra da Rainha da Música Caipira, o selo Kuarup lançou nas plataformas digitais e nas lojas Canta Inezita, aproveitando o espetáculo gravado ao vivo reunindo intérpretes de diferentes estilos e gerações no teatro do SESC Santo André, em São Paulo, nos dias 17 e 18 de agosto de 2018, com sucessos da apresentadora do programa Viola Minha Viola, cantora, atriz, violonista, professora e folclorista, uma das principais personagens da história da música popular brasileira. O álbum, gentilmente enviado à redação pela Kuarup, pelo qual mais uma vez agradecemos ao amigo Rodolfo Zanke e equipe, foi o escolhido para as tradicionais audições aos sábados pela manhã neste dia 9 de março aqui no Barulho d’água Música.

Música boa, de qualidade, está sempre tocando na vitrolinha aqui do boteco e Canta Inezita é um daqueles discos que não dá vontade de parar de ouvir. Tenho me emocionado relembrando nas vozes de amigos estimados como Consuelo de Paula, Maria Alcina, As Galvão e Cláudio Lacerda sucessos do cancioneiro caipira que, quando garoto, ouvia minha mãe, Catarina, cantar à beira do fogão, ao tanque ou em outras de suas muitas atividades da faina doméstica, inclusive assar pães, ou ao lado dela e do meu pai, Geraldo, assistindo nos velhos televisores Trancham e Telefunken Viola Minha Viola, com Inezita e Moraes Sarmento.

Os pais do blogueiro Marcelino Lima, Catarina e Geraldo, com os quais ele assistia Viola Minha Viola e aprendeu a gostar das músicas que Inezita interpretava e a Kuarup resgatou no mais recente álbum do selo (Foto: Marcelino Lima/Acervos Barulho d’água Música e Família Caetano Anjos Lima)

Defensora da cultura e das raízes da música sertaneja e caipira, Inezita  ganhou o registro fonográfico de seu eterno repertório em espetáculo que colocou no palco os três cantores e as longevas irmãs, sob direção musical do violonista Paulo Serau, acompanhado de um sexteto versátil de músicos ¹. Em noite de puro encantamento e emoções — que também chegou, mais tarde, em outras casas, como o da Galeria Olido –, Canta Inezita apresentou canções por ela imortalizadas em interpretações impecáveis, agora com novos arranjos para celebrar sua inestimável obra.  As tradicionais As Galvão, a performática Maria Alcina (ê, lasquêra!), uma das maiores compositoras da nova geração, Consuelo de Paula e o jovem cantor e compositor Claudio Lacerda integraram o time que relembra aquelas melodias que a apresentadora do programa Viola, Minha Viola trazia a público ao lado de Sarmento ou, posteriormente, como âncora única, e que tanto ouvia na voz doce e saudosa de dona Catra.

A feliz seleção musical inspirada no cancioneiro preferido de Inezita Barroso pela produtora e gravadora Kuarup traz clássicos como Viola Quebrada (canção do poeta modernista Mário de Andrade), Ronda (Paulo Vanzolini), Colcha de Retalhos (Raul Torres), Cuitelinho (Antonio Xandó e Paulo Vanzolini), O Menino da Porteira (Teddy Vieira e Luizinho, eternizada pelo cantor Sérgio Reis), Prenda Minha (do folclore popular gaúcho, música que ganhou interpretação marcante de Nara Leão), Marvada Pinga (Ochelcis Laureano), Cheiro de Relva (Dino Franco e José Fortuna), Beijinho Doce (Nhô Pai), Poeira (esta, para mim, a mais emblemática daquele período, composta por Luiz Bonan e Serafim Gomes, que tocava no radinho de pilhas, chiando, de meu pai, interpretada tanto pelo Duo Glacial, como por Cascatinha & Inhanha). Fecha o disco Lampião de Gás, canção de Zica Bergami, que Inezita tratava como o clássico que é e com a qual tanto embalou várias gerações. 

A produção do álbum que traz todas as letras das canções e fotos de Inezita Barroso no encarte é assinada pelo jornalista e produtor Thiago Marques Luiz, com mixagem e masterização do respeitado engenheiro de som José Luiz Costa (Gato) e projeto gráfico realizado por Rosana Alencar Ribeiro.

Sessão solene para entrega dos troféus do 3º Prêmio Inezita Barroso; à mesa, ao lado da bandeira paulista, o deputado Marcos Martins, propositor do prêmio (Foto: Marco Antonio Cardelino)

Prêmio e reconhecimento*

*Com Isabella Tuma, da Alesp

Em solenidade promovida no dia 1º/3 de março, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) promoveu o 3º Prêmio Inezita Barroso, em sessão solene realizada no plenário Juscelino Kubitschek. O prêmio foi criado pela Resolução 910/2016, de autoria do deputado estadual Marcos Martins (PT) — um amante da música caipira e autor de outras proposituras desta envergadura na carreira parlamentar, como a que reconhece a Orquestra de Violeiros de Osasco, cidade da região Oeste da Grande São Paulo onde mora e tem base política, como a pioneira do gênero. 

A ideia de Martins é que a cada edição sejam homenageados dez expoentes do universo sertanejo considerados de raiz, segundo critérios da Comissão de Educação e Cultura da Alesp. Os escolhidos de 2019 foram a Orquestra Urubupungá (do município de Ilha Solteira); o Grupo de Violeiros de Descalvado; a dupla sertaneja Craveiro e Cravinho (do município de Piracicaba); Pedrinho Sertanejo ( Pedro da Silva Emboava, do município de Taubaté); os Amigos Violeiros de Mairiporã; o cantor e compositor Pardinho (Antônio Henrique de Lima);  Mouraí (Luiz Carlos Ribeiro, compositor parceiro de Dino Franco); Orquestra Violeiros Coração da Viola; Ramiro Viola (cantor de Botucatu); e Sandra Marri (Sandra Jacob, representando as mulheres do universo da música caipira. 

Para o deputado Marcos Martins é preciso valorizar todos os espaços de resistência da cultura caipira. “É uma cultura genuinamente brasileira, que precisa ser preservada. Trata-se do resgate do trabalho que Inezita Barroso fez durante muitos anos, que era valorizar quem trabalha com a música, as entidades, as duplas, os cantores, os artistas, significativa parcela da população que é o trabalhador e o morador caipira que viveu no campo e agora vive na cidade.”

¹Ana Rodrigues (piano e acordeão), Davi Martin (baixo acústico), Alexandre Cortina (bateria), Luciana Rosa (violoncelo), Paulo Cerau (cavaco e viola caipira) e Mário Campanha (violão nas faixas com As Galvão)

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