1171 – Reforce esteios ouvindo Zé Modesto (SP) ao pé do ouvido e sinta mais leve a nossa cruz

O cantor e compositor independente, que em maio participará da Virada Cultural Paulista de 2019. violonista, é autor de três poéticos discos. O repertório tem o amor como inspiração e este fio alinhava no mesmo tecido uma plêiade de músicos dos mais tarimbados

As audições matinais que promovemos aos sábados aqui em São Roque, Interior de São Paulo, no boteco do Barulho d’água Música, começaram neste dia 30 de março – acompanhadas por Pablito Neruda, um dos gatos da casa, confortavelmente ronronando sobre a vitrolinha– com Ao Pé do Ouvido, terceiro álbum do paulistano Zé Modesto, ao qual agradecemos pelo envio de vários exemplares deste precioso trabalho.

O disco, lançado em 2015, sucede Esteio e Xiló, que formam a discografia do cultuado cantor, compositor e violonista  da cena independente de Sampa. Com participações das mais especiais de músicos e intérpretes consagrados[1], Ao Pé do Ouvido discorre de maneira bem particular sobre o amor e suas inúmeras facetas. Entre outros conceitos, o trabalho também aponta um diálogo estético entre os gêneros populares da tradição paulista com propostas artísticas mais contemporâneas. O projeto que resultou em 14 faixas (das quais 3 são vinhetas com participações das Caixeiras do Divino da Família Menezes [2]) ganhou forma  com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Estado de São Paulo, beneficiado pelo Programa de Ação Cultural (ProAc ICMS), com patrocínio da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), cuja matriz esta estabelecida na cidade fluminense de Volta Redonda.

Pablito Neruda curtiu a audição de Ao Pé do Ouvido deitado sobre a vitrolinha (Foto: Marcelino Lima/Acervo Barulho d’água Música)

Zé Modesto é formado em História pela Universidade de São Paulo (USP).  Estudioso da canção brasileira, aprecia choros antigos, sambas e serestas que aprendeu a curtir desde menino, influenciado pelo clarinete do pai e pelo violão tenor do avô, ao qual dedicou Esteio. O repertório de Zé Modesto encanta pela beleza e pela simplicidade, embalado em delicadas poesias e expresso por meio de benditos, ladainhas, capoeiras e folias que remetem às tradições populares e ao sagrado – elementos  que temperam com mais força o universo mineiro, um dos mananciais de sua criação. Zé Modesto ainda bebe nas fontes do samba das tonalidades urbanas indissociáveis de sua alma paulistana.

Ao Pé do Ouvido, Esteio e Xiló ao refletirem estas influências formam um  delicado, mas profundo hinário ao amor, sentimento que perpassa toda a obra que constitui a trilogia e cuja palavra — apenas para ficar no terceiro volume — está explicitamente mencionada na maioria das faixas e nas quais não aparece é claramente subentendida, fazendo florescer as quatro formas dele [amor] descritas em The Four Loves,  por Clive Staples Lewis, conhecido por C. S. Lewis (Belfast, 29 de novembro de 1898 — Oxford, 22 de novembro de 1963), professor universitário norte-irlandês, escritor, romancista, poeta, crítico literário, ensaísta e apologista cristão: Fraternal (Storge), Amizade (Philia), Romântico/Erótico (Eros) e Incondicional (Ágape).

Conforme o nome sugere, Ao Pé do Ouvido termina por ser um ciciar que mais do que uma confissão amorosa ou a expressão de desejos íntimos — murmurados docemente –, torna-se uma canção de ninar daquelas que nos convida à entrega (não ao sono e de forma hipnótica, portanto) ao estado de paixão e a nele permanecermos mergulhados, à contemplação, à vivência, às emoções e ao agir  que as nuances e arrepios do amor podem provocar. É, desta maneira, uma palavra de ordem, nem sectária, nem panfletária, porém irresistível à medida que nos propõe (aqui, sem trocadilhos) literalmente fazer o amor e não à guerra, amar ao próximo como a nós mesmos e a Deus acima de tudo –  jamais o Deus iconificado nos evangelhos e pelas religiões, pois um Deus que mobiliza  sem “ismos”, apenas pela força e pela magia da espiritualidade, religa-nos ao imaterial e ao Cosmos, tirando-nos das zonas de conforto ao mesmo tempo em que nos iguala e nos arrebata se O busca(r)mos com devoção e respeito, crendo nas próprias pernas e ainda na transcendência como pontes para viver em comunhão, alcançar superações, renovar-nos e alcançar a afirmação.

Que os corações que andam vagos encontrem logo seu bem/Nesta vida, sem carinho, o nosso destino é vão: quem é que na vida, sozinho, tem feliz seu coração?”, canta Ceumar em Antífona, uma das faixas de Xiló, mas que alinhava os três discos em um único tecido.  Então, ouvidos abertos e corações à obra: que “seja a poesia o alimento, a sustança no caminho” e que pelo e com amor a gente “viva mais [em] comunhão”, pois “batendo menos cabeças fica leve a nossa cruz.”

Saiba mais sobre Zé Modesto e sua obra acessando os linques abaixo. Em tempos de compartilhamentos (consentidos ou piratas) e de streamings, valorize o autor e a plêiade de parceiros que ele mobilizou e convidou para os álbuns — incluindo os demais artistas que ajudaram a produzi-los, tais quais fotógrafos, ilustradores e demais envolvidos na confecção dos encartes: encomende seus discos em http://zemodesto.blogspot.com.  E ponha na agenda:  18 de maio, às 19h30 e às 21 horas. Zé Modesto tocará naqueles dias e horários durante o monólogo A Procissão, de Gero Camilo, como atração da Virada Cultural de São Paulo 2019. Também divulgaremos, mas fique de olho na agenda para saber onde será assim que a Secretaria Estadual da Cultura divulgá-la!


[¹] Participam de Ao Pé do Ouvido, cantando, tocando ou dos arranjos: Ivan Vilela, Mario Gil Fonseca, Antônio Porto, Toninho Ferragutti, Caixeiras do Divino da Família Menezes, Talita del Callado, Teco Cardoso, Mônica Salmaso, Priscila Brigante, Edson Alves, Nailor Proveta, Breno Ruiz, Webster Santos, Fábio Tagliaferri, Tarita de Souza, Sérgio Santos, Dalci, Rubi, Jardel Caetano, Real Quarteto, Ed Zvingila, Wlajones Carvalho, Itamar Pereira, Daniel Conti.  

[²] As Caixeiras do Divino da Família Menezes são Bartira Menezes, Dindinha Menezes, Zezé Menezes e Graça Reis

[³] O Real Quarteto reúne Luis Amato, Rodolfo Lota, Elisa Monteiro e Adriana Holtz

Agradecimentos de Zé Modesto a todos os que o ajudaram a gravar Ao Pé do Ouvido

Para saber mais e ouvir Zé Modesto:

https://barulhodeagua.com/2015/07/29/ze-modesto-historiador-e-poeta-paulistano-um-dos-esteios-da-rara-boa-musica-recebanossos-parabens-pelo-aniversario/

https://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/sala-de-musica/2016/09/06/ZE-MODESTO-LANCA-NOVO-CD.htm

https://open.spotify.com/artist/3wxtmhjWNoeU91H7YIQq0p

https://soundcloud.com/z-modesto/sets/zemodesto

 

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