Músico fez parte do grupo Os Cobras do Teclado, ao lado de Adelar Bertussi, do irmão Itajaiba e Paulo Santos, e tornou-se um dos maiores instrumentistas na década dos anos 1970 animando bailes por todo o Sul do Brasil
Com Valdir Verona e Milena Schafer (milena.schafer@pioneiro.com)
O cenário musical do Rio Grande do Sul, notadamente a classe artística de Caxias do Sul, está de luto desde a quinta-feira, 4 de julho, quando desencarnou na cidade o violonista Ubirajara Matana. Aos 75 anos, Matana não resistiu às complicações de um tumor no sistema linfático. A despedida, cercada por parentes e centenas de amigos, ocorreu no mesmo dia da passagem com a cremação do corpo, ao final da tarde, no Memorial Crematório São José, em Caxias do Sul. De acordo com informações dos familiares, Matana estava internado no Hospital do Círculo há cerca de 20 dias. O tumor fora detectado há pelo menos dois meses e chegou a ser combatido com radioterapia e quimioterapia.
Natural dos campos de Vila Seca, interior do município, Matana foi um dos principais nomes do violão gaúcho na década dos anos 1970. Nessa época integrava o grupo Os Cobras do Teclado ao lado de Adelar Bertussi, do irmão Itajaiba Matana (acordeões) e Paulo Santos (bateria), animando bailes por todo o Sul do Brasil.
Com os Cobras do Teclado, Bira, como Matana era querido, registrou em discos, pela gravadora Continental de São Paulo, seus principais solos de violão em músicas como Busca-pé, Malandrão, Flor Paraguaia, Pé Ligeiro e Piquenique. Em companhia de Antoninho Duarte, do grupo Os Mirins, Matana tornou-se uma das principais referências do violão no estilo campeiro-serrano.
Uma das filhas de Ubirajara Matana, Kátia Matana Pereira, disse sobre o pai que o músico era uma pessoa simples: “Pra ele bastava um chimarrão, um violão, e uma boa conversa, tinha um coração de ouro.” Ainda segundo Kátia, ele não vinha fazendo shows nos últimos anos, mas ainda compunha músicas e gravava suas criações.
Com a carreira sempre elogiada e reconhecida entre os pares, a morte de Matana entristeceu amigos que o acompanhavam, como o professor, compositor, pesquisador e violeiro Valdir Verona, também de Caxias do Sul. Relembrando a trajetória de sucesso de Matana, Verona contou que teve a felicidade de conviver com Bira e poder resgatar um pouco do trabalho do conterrâneo ajudando-o na produção de dois dos álbuns do violonista. “Ainda hoje é muito comum se encontrar músicos que comentam terem tocado as músicas do Ubirajara nos bailes”, afirmou Verona. “Segundo pessoas que presenciaram o músico no auge de sua carreira, havia momentos em que os acordeonistas davam uma pausa e Ubirajara segurava o baile apenas acompanhado pelo baterista”, apontou também Verona em um trecho do texto publicado por ele, divulgado em 2011 para o lançamento do disco Do Meu Tempo.
Este álbum contou a participação de Verona nos violões de base e na viola, além de Rosa Amélia (percussão), Jair Pereira de Sousa (acordeon), e Eleandro Stuermer (baixo e bateria). O disco foi lançado pela gravadora Vozes.
A partir do final da década de 1970, ainda conforme a apresentação assinada por Valdir Verona, o violão acaba gradativamente sendo substituído no Sul pela guitarra elétrica. Com isso vem a decadência do estilo de Matana que pode ser considerado o autêntico violão campeiro-serrano e do qual Bira era um dos poucos remanescentes.
Assim, Do Meu Tempo, antes já assim classificado, passa a ser ainda mais considerado após a partida de Bira um trabalho antológico, uma vez que existem poucos registros do autêntico estilo serrano ao violão e também por se tratar de um resgate da obra dele: suas composições mais conhecidas, mescladas a temas inéditos. “Ubirajara nos brinda com belas composições dentro dos mais variados ritmos populares do sul, como Xote, Vanerão,Valsa,Mazurca, Dobrado, Bugio e até mesmo ritmos não típicos da música do Sul – como o Choro – tudo com muita animação e musicalidade”, faz questão de deixar registrado Valdir Verona.
Do Meu Tempo foi contemplado pelo FINANCIARTE, gravado no estúdio e-music, com produção de Valdir Verona.
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