Formada há dez anos, atualmente sob a regência do cantor e compositor Ricardo Anastácio, e com integrantes de variadas idades, orquestra de violeiros toca em eventos e festividades que valorizam a cultura caipira
O Barulho d’Água Música acompanhou na manhã de sábado, 10 de agosto, a apresentação da Orquestra de Violas da Comitiva Brasil Poeira, da Estância Turística de São Roque. O concerto é parte da agenda de atrações e de eventos religiosos culturais que o poder público local, apoiadores do comércio e de outras atividades e munícipes estão promovendo desde 4 de agosto, denominados Festa Maior, para comemoração dos 362 anos de fundação da cidade do Interior paulista situada a cerca de 60 quilômetros da Capital, situada na Região Metropolitana de Sorocaba, na Mesorregião Macro Metropolitana Paulista e na Microrregião de Sorocaba. São Roque, o padroeiro, é louvado em 16 de agosto, dia da fundação em 1657 pelo bandeirante Pedro Vaz de Barros – mais conhecido como Vaz-Guaçu, a partir de uma fazenda na qual ergueu uma capela. Atualmente, a Estância Turística está sob a administração de Cláudio José de Góes (PSDB).
A Orquestra da Comitiva Brasil Poeira, um dos orgulhos dos são-roquenses, é um projeto da Organização Não-governamental (ONG) Brasil Poeira, está na ativa desde janeiro de 2009 e abraçou a missão de ajudar a preservar a cultura do homem do campo, apresentando-se em programas e festas populares que têm como carro-chefe a música e outros elementos do universo caipira. É formada, atualmente, por 40 violeiros de várias idades regidos por Ricardo Anastácio, e privilegia em seu repertório sucessos do cancioneiro rural. Na apresentação do sábado, 10 de agosto, no largo da Igreja Matriz, por exemplo, eles tocaram e cantaram Cuitelinho (domínio popular), Saudade da Minha Terra (Goiá e Belmonte), Menino da Porteira (Luizinho e Teddy Vieira), Franguinho na Panela (Lourenço & Lourival), As Andorinhas (Trio Parada Dura), Chora viola (Tião Carreiro e Pardinho) e Brasil Poeira (Almir Sater e Renato Teixeira), esta a canção cujo título batizou o grupo.

Carro levando a imagem de São Roque, padroeiro da estância turística que completará 362 anos
“Quem não olha para trás, não pode seguir em frente, pois quem não valoriza suas tradições, não compreende a modernidade”, afirmou Tião Mineiro, um dos violeiros da Brasil Poeira a cerca do mote da Orquestra — preservar a cultura campesina em vários dos seus elementos e manifestações típicas, entre os quais se inclui o tropeirismo. “O nome Brasil Poeira está inspirado na canção, mas é também uma referência às nossas raízes que se levantam na poeira das comitivas de boi e dos antigos tropeiros, na poeira que o lavrador levanta ao cuidar da terra, no trator que ajuda na colheita”, completa, por sua vez, Álvaro Aparecido Biazetto, o Gigio, um dos professores da Orquestra.
“Nestes dez anos formamos muitos músicos entre nossos alunos e alunas, alguns que já estão seguindo a carreira profissional, e outros que, abraçando nossa missão, também já ensinam a tocar viola e por meio da música que transmitem ajudam a preservar a cultura caipira”, emendou Gigio. “Na Orquestra temos pessoas de 8 até 80 anos, embora nosso limite seja 110, mas só por que, normalmente, ao atingir esta idade, o violeiro costuma já ter problemas nos dedos”, brincou o professor para enfatizar que para aprender a tocar viola a idade nunca é o limite.
A Brasil Poeira tem sede em um Casarão que fica na Estrada da Serrinha, sem número, no bairro Vila Santo Antônio, um dos mais bucólicos da estância turística. No local e em outros endereços da cidade seus integrantes ministram aulas de viola caipira, mantém uma pequena loja e, entre outros eventos, promovem festas como o Arraiá de 8 de junho recente e a feijoada, marcada para 7 de setembro próximo, em prol de um colaborador da causa.
Carros de lenha
A Festa Maior de São Roque, ou Festas de Agosto, neste ano será realizada entre 4 e 17 de agosto, com diversas atrações e eventos que vão de desfiles, missas e celebrações campais, procissão, shows musicais e de outras manifestações culturais, além da montagem de contêineres e barracas em uma de suas principais vias, a Tiradentes, e no entorno da praça da Matriz, na região central, que vendem delícias gastronômicas e bebidas, tradicionais e típicas, como pasteis, doces, lanches, vinhos e sucos que atraem não apenas os moradores, mas também turistas que vêm de cidades de até mais de 100 quilômetros de distância.
As Festas de Agosto envolvem boa parte da comunidade são-roquense, da Prefeitura, órgãos públicos, entidades assistenciais, lojistas e empresários, além de autoridades religiosas como o pároco Daniel Balzan. Há, ainda, um núcleo de coordenação geral formado por dois casais, denominados festeiros, neste ano com Luis Fernando Godinho e Ana Carolina Bonini Franchin Godinho e Gino Pizzingrilli e Eunice da Silva Pizzingrilli (Branca).

Carro alegórico alusivo ao evangelista São João, um dos quatro representados no desfile, e na foto acima os casais Pizzingrilli e Godinho, festeiros de 2019
A Festa Maior, tradicionalmente, começa por um desfile pelas vias principais da Estância Turística de São Roque, no primeiro domingo de agosto e que neste ano caiu no dia 4, popularmente conhecido por Entrada dos Carros de Lenha. A parada leva para as ruas alunos das escolas públicas e privadas que encenam pequenas montagens alusivas ao tema em destaque – em 2019 O Evangelho do Amor: Sinais que provocam, convergem e salvam –Mensageiros da Esperança: Mateus, Marcos, Lucas – João –, a fanfarra municipal e, o ponto alto, pequenas carroças e carros de boi, além de tratores, transportando lenha.

Alunos das escolas são-roquenses encenam e dançam passagens relativas ao tema da Festa Maior
De acordo com detalhes históricos relatados por Jamil Assad Salim, a entrada dos carros de lenha “nasceu nos corações generosos dos sitiantes que doavam lenha para o Santo Peregrino, em agradecimento às graças recebidas ou como prova de profunda devoção. E o costume da doação de lenha se estendia ao longo do ano”.

Os carros de boi levando lenha mantém viva uma tradição iniciada por volta de 1880
Ainda conforme Salim, por volta de 1880, o padre João Carlos Cunha, juntamente com os festeiros e o líder político Quirino de Aguiar tiveram a ideia de reunir todas as doações num só dia com a denominação de “Entrada dos Carros de Lenha”.
Na primeira vez da “Entrada dos Carros de Lenha”, cada participante recebeu uma porção de carne, pão e sal para o churrasco feito nas valetas cavadas no Largo dos Mendes [uma das praças centrais, na qual durante a Festa Maior fica instalado um concorrido parque de diversões e barracas de gastronomia].
“Com a renda da primeira doação de lenha, foi adquirida na França a atual Imagem do padroeiro São Roque, que após chegar ao Porto de Santos, foi conduzida por carros de boi até a nossa cidade”, apontou o autor do texto.
“A tradicional ‘Entrada dos Carros de Lenha’, que culmina com a benção do pároco [Daniel Balzan] e entrega de lembranças para cada doador, faz parte da nossa Festa Maior, que todos os anos mobiliza e une a família sanroquense.”
A Orquestra de Viola Brasil Poeira também participou da Entrada dos Carros de Lenha, antecedendo a passagem das juntas de burros, cavalos bois, cada um puxando feixes e adornados, sendo o primeiro levando a imagem do padroeiro, além de tratores também transportando lenha. À frente da Brasil Poeira passou o grupo Fandango de Tamanco Cuitelo, de Ribeirão Grande, cidade da região de Itapetininga, no Interior de São Paulo

Grupo Fandango de Tamanco Cuitelo, de Ribeirão Grande (SP)

A Orquestra Brasil Poeira tem violeiros de idades diversas, dos 8 aos 80 anos. Na imagem acima estão, da esquerda para a direita, José Roque, Ferreira e Cláudio das Floreiras (Fotos de Marcelino Lima/Acervo Barulho d’água Música)
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Um comentário sobre “1220 – Comitiva Brasil Poeira, orgulho de São Roque (SP), abrilhanta Festa Maior”