1228 – Francisco de Assis, álbum de Marcus Viana, presta tributo à santidade do monge que beijava doentes para curá-los

Músico belo-horizontino Marcus Viana é um dos mais inspirados e produtivos compositores da atualidade e neste trabalho reverencia o santo ‘pobrezinho’ que se tornou símbolo da afeição humana à natureza

Para abençoá-la e renovar os fluídos da casa, a audição matinal de todos os sábados começou neste dia 31 de agosto aqui no boteco do Barulho d’água Música, em São Roque (SP), com Francisco de Assis, álbum de 14 faixas do belo-horizontino Marcus Viana, um dos mais inspirados e produtivos compositores  da atualidade. O disco faz parte da Sonhos e Sons, distribuidora de Viana, e é a segunda edição que dá continuidade a um projeto iniciado em função da celebração aos cem anos da capital mineira, comemorados em 1997, e dos 1.000 exemplares do livro Francisco de Assis, de João Nunes Maia/Miramez, da editora Fonte Viva ¹. Francisco é o “bardo de Deus”, aquele entre todos o santo que seria o mais ligado à música e à natureza, cuja vida e obra permanecem como um farol no tempo, iluminando os homens ao longo dos séculos que se esforçam para a construção de um mundo fraterno, justo e integrado à natureza.

O conjunto das músicas é apresentado como “um poema musical sobre a vida do grande personagem místico do século XII”. O “Poverello” (O Pobrezinho) se tornou símbolo da afeição humana à natureza. “Música e natureza são as colunas deste disco, que traz além das trilhas instrumentais que vão do estilo sinfônico à world-music e à new age, belas canções voltadas para o tema”, destacou a Sonhos e Sonhos. O encarte traz cenas da cidade berço do santo, Assis, na Itália, e dos Montes Alverne e Subásio, além de quadros do pintor medieval renascentista  Giotto di Bondone que remetem à história de Francisco por meio da arte.

Francisco  nasceu em Assis, Itália, em 1182, como filho de Pedro Bernardone, um rico comerciante, e Pia, de família nobre da Provença.  Na juventude, por ser abastado, conta-se que esbanjaria o dinheiro da família com ostentações. Os negócios do seu pai, entretanto, não despertavam nele nenhum interesse e o rapaz ainda seria avesso aos estudos, dando preferência às diversões.

São Boaventura, seu contemporâneo, entretanto, observou que apesar desta personalidade perdulária, Francisco “com o auxílio divino, jamais se deixou levar pelo ardor das paixões que dominavam os jovens de sua companhia”. Assim, ainda na juventude, prestes a completar 20 anos, uma guerra começou opondo as cidades italianas Perugia e Assis. Ele entregou-se aos combates em Espoleto, entre Assis e Roma, mas caiu enfermo. Durante a doença, Francisco teria ouvido uma voz sobrenatural que solicitava que passasse a “servir ao amor e ao servo”. Assim teria começado a conversão de Francisco, sentindo em seu coração a necessidade de vender seus bens e “comprar a pérola preciosa” sobre a qual ele lera no Evangelho.

BEIJO MILAGROSO

Certa vez, ao encontrar um leproso em suas andanças, dominando a repulsa natural, Francisco venceu a ojeriza e beijou o doente, praticando um gesto caridoso inspirado pelo Espírito Santo. A partir desse momento, passou a fazer visitas e cuidar de enfermos que encontrava nos hospitais. Aos pobres, presenteava as próprias roupas e o dinheiro que tivesse no momento.

Em certa ocasião, orando solitário na Igreja de São Damião, em Assis, percebeu que o crucifixo repetiu por três vezes a frase que ficou famosa: “Francisco, repara minha casa, pois olhas que está em ruínas”. Ele, então, vendeu tudo o que tinha e levou o dinheiro ao padre da igreja, ao qual pediu permissão para viver com ele. Francisco tinha 25 anos.

Pedro Bernardone, ao saber o que próprio filho decidira, foi busca-lo indignado, levou-o para casa, teria-o surrado e o acorrentado pelos pés. A mãe, porém, o libertou-o na ausência do marido e o jovem retornou a São Damião. O pai foi, de novo buscá-lo, e ordenou que voltasse para casa ou renunciasse à herança. Francisco, então, respondeu ao ultimato: “As roupas que levo pertencem também a meu pai, tenho que devolvê-las”. Em seguida se desnudou e as entregou a seu pai, completando: “Até agora tu tem sido meu pai na terra, mas agora poderei dizer: ‘Pai nosso, que estais nos céus”.

Para reparar com obras a Igreja de São Damião, Francisco pedia esmola em Assis. Terminado esse trabalho, começou a reformar a Igreja de São Pedro. Depois, retirou-se para morar numa capela com o nome de Porciúncula, parte da abadia de Monte Subasio, cuidada pelos beneditinos. Lá o céu mostrou o que realmente esperava dele. O trecho do Evangelho lido em uma missa trazia a orientação de Cristo “Ide a pregar, dizendo: o Reino de Deus tinha chegado. Dai gratuitamente o que haveis recebido gratuitamente. Não possuas ouro, nem duas túnicas, nem sandálias…”

Ao ouvir a pregação, Francisco tirou as sandálias, o cinturão e ficou somente com a túnica.

Deus concedeu a Francisco o dom da profecia e o dos milagres. Quando ele pedia esmolas com o fim de restaurar a Igreja de São Damião, dizia: “Um dia haverá ali um convento de religiosas, em cujo nome se glorificará o Senhor e a Igreja“. A profecia se confirmou com Santa Clara e suas religiosas. Ao curar, com um beijo câncer que havia desfigurado o rosto de um homem, São Boaventura comentou para Francisco de Assis: “Não se há que admirar mais o beijo do que o milagre?”

Francisco começou a anunciar a verdade, no ardor do Espírito de Cristo e convidou outros a se associarem a ele na busca da perfeita santidade, insistindo para que levassem vida de penitência. Alguns começaram a praticá-la e em seguida se associaram a ele, partilhando a mesma vida. O humilde Francisco de Assis decidiu que eles se chamariam Frades Menores. Surgiram assim, os primeiros 12 discípulos que, segundo registram alguns documentos, “foram homens de tão grande santidade que, desde os apóstolos até hoje, não viu o mundo homens tão maravilhosos e santos”. O próprio Francisco disse em testamento: “Aqueles que vinham abraçar esta vida, distribuíam aos pobres tudo o que tinham. Contentavam-se só com uma túnica, uma corda e um par de calções, e não queriam mais nada”. Os novos apóstolos reuniram-se em torno da pequena igreja da Porciúncula, ou Santa Maria dos Anjos, que passou a ser o berço da ordem franciscana.

Em 1210, quando o grupo contava com 12 membros, Francisco de Assis redigiu uma regra pequena e informal: seguir, em sua maioria, os conselhos de Jesus para que fosse alcançada a perfeição. Com ela foram até Roma apresentá-la ao Sumo Pontífice. Lá, porém, relutavam em aprovar a nova comunidade. Achavam que o ideal de Francisco seria muito rígido a respeito da pobreza. Por fim, porém, um cardeal afirmou: “Não podemos proibir que vivam como Cristo mandou no Evangelho”.

PUREZA E ORAÇÃO

Receberam a aprovação e voltaram a Assis, vivendo na pobreza, em oração, em santa alegria e grande fraternidade, junto à Igreja da Porciúncula. Mais tarde, o papa Inocêncio III mandou chamar Francisco de Assis e aprovou a regra verbalmente. Logo em seguida, o papa impôs a eles o corte dos cabelos, e os enviou em missão de pregarem a penitência.

Francisco de Assis manifestava seu amor a Deus por uma alegria imensa, que se expressava muitas vezes em cânticos ardorosos. A quem lhe perguntava qual a razão de tal alegria, respondia que “ela deriva da pureza do coração e da constância na oração”. Francisco de Assis angariou muitos discípulos e atraiu também uma jovem, filha do Conde de SassoRosso, Clara, de 17 anos. Desde o momento em que o ouviu pregar, compreendeu que a vida que ele indicava era a que Deus queria para ela. Francisco tornou-se seu guia e pai espiritual. Nascia assim a Ordem Segunda dos Franciscanos, a das Clarissas. Depois, Inês, irmã de Clara, a seguiu no claustro; mais tarde uma terceira, Beatriz. juntou-se a elas.

Certa vez, São Francisco de Assis, sentindo-se fortemente tentado, deitou-se sem roupas sobre a neve. Outra vez, num momento de tentação ainda mais violenta, rolou sobre espinhos para não pecar e vencer suas inclinações carnais. Sua humildade não consistia simplesmente no desprezo sentimental de si mesmo, mas na convicção de que “ante os olhos de Deus, o homem vale pelo que é e não mais”. Considerando-se indigno do sacerdócio, apenas chegou a receber o diaconato. Detestava de todo coração o exibicionismo.

Uma vez contaram-lhe que um dos irmãos amava tanto o silêncio que até quando ia se confessar, fazia-o por sinais. Francisco teria respondido, desgostoso:Isso não procede do Espírito de Deus, mas sim do demônio; é uma tentação e não um ato de virtude”. Francisco tinha o dom da sabedoria. Em outro momento, um frade lhe pediu permissão para estudar. Francisco respondeu que se o frade repetisse com amor e devoção a oração “Glória ao Pai” tornaria-se sábio aos olhos de Deus. Ele mesmo, Francisco, era um grande exemplo da sabedoria dessa maneira adquirida

A proximidade de Francisco com a natureza sempre foi a faceta mais conhecida deste santo, virtude que o transformou em um patrono dos animais de todas as espécies existentes ou que já andaram sobre a Terra. Seu amor universalista abrangia toda a criação, e simbolizava um retorno a um estado de inocência, como Adão e Eva no Jardim do Éden.

Dois anos antes de sua morte, tendo Francisco ido ao Monte Alverne em companhia de alguns de seus frades mais íntimos, pôs-se em oração fervorosa e foi objeto de uma graça insigne. Na figura de um serafim de seis asas, apareceu para ele Nosso Senhor crucificado que, depois de entreter-se com ele em doce colóquio, partiu deixando impressos no corpo do monge os sagrados estigmas da Paixão. Assim, esse discípulo de Cristo, que tanto desejara assemelhar-se a Ele, obteve mais este traço de similitude com o Divino Salvador.

No verão de 1225, Francisco esteve tão enfermo que o cardeal Ugolino e o irmão Elias o levaram ao médico do Papa, em Rieti. Francisco de Assis perguntou a verdade e lhe dissessem que lhe restava apenas umas semanas de vida. “Bem vinda, irmã Morte!”, exclamou, então. Em seguida pediu para ser levado à Porciúncula  morreu em 3 de outubro de 1226, com menos de 45 anos, depois de escutar a leitura da Paixão do Senhor. Ele queria ser sepultado no cemitério dos criminosos, mas seus irmãos o levaram em solene procissão à Igreja de São Jorge, em Assis. Lá esteve depositado até dois anos depois da canonização. Em 1230, foi secretamente trasladado à grande basílica construída pelo irmão Elias. Ele foi canonizado apenas dois anos depois da morte, em 1228, pelo Papa Gregório IX. Sua festa é celebrada em 4 de outubro.

As informações biográficas sobre São Francisco de Assis são do bloque Cruz Terra Santa. cujo linque para avesso ao texto original é https://cruzterrasanta.com.br/historia-de-sao-francisco-de-assis/139/102/

FILHO DE PEIXE…

O compositor e multi-instrumentista Marcus Viana desde o final da década dos anos 1970 desenvolve uma significativa produção musical, tanto no Brasil, quanto no exterior. Filho de Sebastião Viana, um flautista e maestro que foi assistente e revisor das obras do maestro e compositor Villa Lobos, recebeu no lar sua iniciação na música. Por sete anos, atuou como violinista da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e já nos anos 1980 participou de turnês e gravações com Milton Nascimento e outros membros do Clube da Esquina, entre os quais Beto Guedes, Lô Borges e Flavio Venturini.

Marcus Viana fundou a banda Sagrado Coração da Terra, apontada como ícone do rock progressivo nacional e latino-americano,  e a Transfônica Orkestra, grupo de música vocal e instrumental que funde elementos sinfônicos às raízes brasileiras e afro-ameríndias. Com carreira independente, é o músico brasileiro independente com maior número de discos lançados no mercado nacional: 75 títulos que vão desde música instrumental, MPB e trilhas sonoras à música infantil, passando pela new age, clássica, contemporânea e rock progressivo.

Marcus Viana é considerado um dos grandes compositores de música instrumental brasileira, principalmente no segmento de trilhas sonoras para cinema e televisão, com as quais alcançou projeção internacional. Entre seus mais consagrados sucessos para a telinha podem ser citadas as trilhas compostas para as novelas Pantanal, Ana Raio e Zé Trovão, Xica da Silva, Terra Nostra, Flor do Caribe, O Clone; para as minisséries Chiquinha Gonzaga, Aquarela do Brasil, A Casa das Sete Mulheres e para os filmes Olga, Filhas do Vento, O Mundo em Duas Voltas e Mangoré. Marcus Viana tem um imenso repertório de obras (mais de 1600 composições) em sua editora, com representação na América do Norte, na Europa e Ásia.

O sucesso de suas trilhas sonoras ecoa em mais de 180 países que importam as séries da TV brasileira. Ele é, ainda criador da distribuidora de música independente Sonhos e Sons, que reúne em seu catálogo mais de 500 títulos e congrega artistas brasileiros dos mais variados estilos musicais. A Sonhos e Sons se distribui digitalmente pelo mundo por meio das lojas e plataformas digitais e aos poucos se firma como um dos canais da música brasileira no exterior.

Para saber mais sobre e entrar em contato com Marcus Viana há o endereço eletrônico

contatomv@marcusviana.com.br.  Pedidos podem ser feitos pelos telefones (31) 3281-3356 e (31) 3281-4789.

Página 8 do encarte criado por Luis Claudio para o álbum de Marcus Viana traz afresco de Giotto pintado em capela de Pádua, na Itália, entre 1302 e 1305

… EM MAR DE ARTISTAS

O encarte e o rótulo do álbum Francisco de Assis complementa a beleza e a leveza do projeto de Marcus Viana e são assinados pelo conterrâneo e primo do músico, também natural de Belo Horizonte, o designer gráfico Luis Claudio, formado em 1996 pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e filho de músicos e professores da instituição de ensino superior. Claudio trabalha em criação e desenvolvimento digital para projetos em Arte Gráfica e explica que a sua trajetória em artes visuais deve-se, em boa razão, à educação recebida dos pais “músicos, e de ‘primeira’, diga-se de passagem. Os genitores são Expedito Viana e Myriam Rugani Viana — ele, primeiro flautista e ela, primeira harpista da Orquestra Sinfônica do Palácio das Artes, além de docentes universitários.

Em casa o ar que respirávamos era sempre rico em vários sentidos”, escreveu em seu portal eletrônico Luis Cláudio. “A boa música me inspirou muito e me deixou uma marca registrada de erudição”, emendou. “Ela sempre me fez pensar mais e de uma forma diferenciada. Nas artes visuais a observação, o olhar crítico e a dedicação foram e serão sempre um guia para mim.”

Para saber mais e conhecer outros trabalhos do designer, que assina ainda as artes gráficas de álbuns e DVDs de Nelson da Rabeca, Sagrado Coração da Terra, Helder Araújo Trio Amadeus e Alex Guarda, além do álbum da novela Pantanal, visite o linque abaixo.


http://www.luisclaudio.com.br/

Relação de músicas:


¹Todas as músicas de Francisco de Assis foram compostas e arranjadas por Marcus Viana e contam com as vozes de Sérgio Santos, Lígia Jacques, Bárbara Augusta, Vanessa Falabella, Olívia Viana. Rosane Viana e Carmem Guerra, além da participação especial do Coral Gregoriano “The Compline Choir de Londres” (cortesia de Spectrasonics “Simphony of Voices”). O encarte gráfico de Luis Claudio traz afrescos de Giotto píntados na Basílica de São Francisco de Assis e fotos de Assis, de Emilia Queiroga.

Leia também aqui no Barulho d’água Música:

674 – Canções de São Francisco, novo álbum de Gustavo Guimarães (MG), celebra a fraternidade, o amor à frugalidade e à natureza

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