Disco com direção musical de Zeca Collares traz 10 faixas, todas compostas pelo cantor – que cresceu ouvindo Zé Bettio e Clube da Esquina –, em parcerias com Tânia Baptista, Alcides Bernardi e Eduardo Américo.
O violeiro e cantador da música brasileira Paulo de Lins vai ser atração no sábado, 21 de setembro, na Escola Waldorf Francisco de Assis (EWFA), estabelecida na cidade de São Paulo. Na ocasião, Paulo de Lins promoverá o lançamento do seu primeiro disco autoral, Paisagens da Alma, em concerto previsto para começar às 19 horas e que integra a agenda de eventos em comemoração aos cem,anos da Pedagogia Waldorf. O público poderá acompanhar, ainda, apresentações especiais do coral de pais, coral de alunos e orquestra da EWFA. Paulo de Lins tocará acompanhado pelo grupo Cantares, que reúne Aninha Freire (contrabaixo), Cláudio Torezan (violão) e Eduardo Gianesella (percussão). O valor da entrada para prestigiar a cantoria está estabelecido em R$20 e toda a renda do evento será revertida para os projetos pedagógicos da EWFA. Crianças até 7 anos não pagarão.
Paisagens da Alma traz 10 faixas, das quais uma, a #9 (Sítio do Armando) é instrumental, todas compostas por Paulo de Lins ou em parcerias com Tânia Baptista, Alcides Bernardi e Eduardo Américo (professor da Escola Waldorf Novalis, em Piracicaba). Zeca Collares assina a direção musical e gravou viola caipira. Também participaram do disco Luiz Anthony (rabeca, cello, violão, baixo, entre outros instrumentos de corda), Álvaro Couto (acordeon) e Cássia Maria (zabumba, triângulo, caxixi, cajon, ovinho, agogô, castanholas, caixa de folia e vaso, entre outros). Américo e Tânia são autores das imagens que ilustram o encarte. “Com ajustes precisos e dicas certeiras”, as gravações ocorreram sob a batuta de Fábio Luís, do Estúdio Acústico de Sorocaba.
Zé Bettio e Clube da Esquina
Paulo de Lins mora em São Paulo há quase 50 anos. Na capital paulista estudou música, violão erudito, piano e violoncelo, mas contou que ao “cair uma viola” em suas mãos disse para si mesmo: “é isto aqui”. Esta descoberta o levou a se aprimorar no instrumento frequentando cursos em escolas especializadas, entre outras atividades que incluem aulas na Universidade de São Paulo (USP), com Ivan Vilela, violeiro, pesquisador e professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA) e atualmente fazendo residência na Universidade de Aveiros, em Portugal. Com a opção devidamente amadurecida, passou a compor e a tocar, por exemplo, com Júlio Santin e Collares, seus amigos e dois dos mais tarimbados violeiros da atualidade. Na trajetória que vem trilhando com a viola, desde então, Lins se dedica a “tocar música brasileira de qualquer dom, de qualquer cor, de raça, credo, desde ciranda e xote à música com tempero brasileiro, música popular brasileira de grife”.
Esta escolha do repertório e dos estilos traz influências surgidas tanto na infância — fase que “ficou marcada por ter escutado tanto o ex-apresentador Zé Bettio e músicas caipiras nas rádios AM” — quanto na adolescência, período de referências como o Clube da Esquina e Milton Nascimento, por exemplo. “É muito bacana perceber que tem violas nestas pegadas: elas formam uma estrada que tento percorrer para dar a este universo da música brasileira o tempero da viola caipira, com tudo que ela pode oferecer e eu também.”

O violeiro Zeca Collares toca viola caipira no disco e é o diretor musical do álbum de estreia de Paulo de Lins
O violeiro ainda comentou que a música brasileira, a caipira e a regional tocam em qualquer lugar do mundo para observar:“Lá fora quando ouvem nossa música, as pessoas perguntam ‘de onde que é isso?’ ou exclamam: ‘isto ai é brasileiro!’. Então é por este universo que transito, que eu busco olhar”, disse, completando que admira também cantos populares, cantos regionais e os cantos de trabalho. “É isto que eu canto ouvir e curto fazer, são minhas referências sonoras”, finalizou, elogiando Renata Mattar, da Companhia Cabelos de Maria, dedicada aos cantos de trabalho.
Educação para a liberdade
Em 19 de setembro a Pedagogia Waldorf completará um século de aplicação em vários países.
Paulo de Lins contou que há 20 anos tem ligação com Escola Waldorf São Francisco e que nela, por exemplo, formou seus filhos, incluindo o mais velho e que está prestes a se formar em Arquitetura, O rapaz frequentou aquela unidade desde o jardim da infância.
“Sou um pai Waldorf”, contou Paulo de Lins. “Eu circulo por aquela escola e tenho gratidão muito grande por ela por que, ao longo dos últimos 20 anos que eu estou por lá, serviu ao meu aprendizado e formação humana e as primeiras apresentações que eu fiz em público como músico, para valer, foram em festas da escola. Mais recentemente tenho tido o palco sendo aberto para que eu possa fazer meus shows por lá”.
Carolina Delboni, do sítio Catraca Livre, publicou o seguinte artigo em 18/08/2015:
“A pedagogia Waldorf não é um bicho de sete cabeças, apesar de ser completamente diferente do que a maioria das pessoas tem como referência de escola. O ensino e a forma podem parecer estranhos aos olhos leigos, mas a pedagogia tem muito a nos ensinar. Seja do ponto de vista pedagógico ou humano. Existe uma premissa no ensino que é formar seres humanos. Antes de querer formar alunos que tiram notas altas. É o que está por trás do conceito “educação para a liberdade”.
Nas escolas Waldorf, as crianças têm aula de tricô, euritmia, aprendem alemão e tocam instrumentos de cordas, como violoncelo e violino. São alfabetizadas apenas com sete anos e nenhum professor usa livro didático ou caderno pautado. As crianças trocam o lápis pela caneta tinteiro inicialmente, só pintam com aquarela e usam mochilas de couro que foram feitas por seus pais. Os alunos não levam bolachas recheadas, doces e trash food nas lancheiras. Suco de caixinha: nem pensar! Pães, só integrais (…) Parece coisa de cidade do interior. Crianças do quinto e sexto anos ainda jogam taco no recreio e brincam de pega-pega, por exemplo. A arquitetura das escolas propicia o brincar de corda, casinha, perna de pau, entre outras coisas que as crianças inventam. Um lugar que foi pensado levando em conta o livre brincar e que coloca pequenos desafios de autonomia e desenvolvimento corpóreo a favor do autoconhecimento.

Ilustração de Eduardo Américo para o álbum de Paulo de Lins
Tudo foi pensado em 1919, pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, que a pedidos do dono de uma fabrica de cigarros, a Waldorf, no pós guerra, desenvolveu a pedagogia. Daí vem o nome.
As escolas e professores possuem grande autonomia para determinar o currículo, mas claro que são ministradas aulas de português, matemática, geografia e história. O conteúdo indicado pelo MEC – Ministério da Educação é dado e seguido. Mas a forma e a intensidade são completamente diferentes das escolas tradicionais e construtivistas – principalmente.
E o que, de fato, essa pedagogia pode trazer de benefícios à formação da criança que chama tanto atenção assim?
“Ela é educada de forma a observar seu desenvolvimento em três âmbitos: corporal, anímico e espiritual”, explica a professora Marina Negrão, da escola Jardim das Borboletas, localizada na zona sul de São Paulo. “O currículo todo é desenvolvido nesse sentido. Respeita-se aquilo que cada criança tem como potencial, tudo flui de forma harmônica e orgânica”, pontua. O aprendizado acontece de forma a respeitar o que a criança vivencia dentro dela e no mundo. “Ela não é privada de nada, mas tudo é apresentado no momento certo, quando a maturidade corporal, anímica e espiritual existe”. Isso quer dizer no pensar, sentir e querer. Quer um exemplo? A criança não vai aprender computação quando nem sequer aprendeu a pular corda e ter o domínio do próprio corpo. Quando a criança, organicamente, começa a se questionar sobre sua origem, ela tem no currículo ‘a criação do mundo’. No quarto ano, as crianças têm mitologia nórdica para poder alimentar os questionamentos para a passagem pelo Rubicão – ou, como chamamos, a pré-adolescência.”
Sem muito perceber, a criança vai preenchendo sua alma de autoconhecimento. O aprendizado do conteúdo é quase que uma consequência. E, no futuro, pode-se esperar um ser humano mais harmônico, mais equilibrado em suas emoções. Porque aprendeu, desde pequeno, como lidar com suas vontades e limites. O simples brincar de subir em árvore exige que a criança faça escolhas, como o galho em que vai pisar. E todas as escolhas têm consequência. Assim é na infância, assim é na vida. Conhecer o peso do seu corpo, saber o quanto sua perna estica e se seu braço terá força pra pendurar naquele galho, parecem coisas bobas. Mas olha quanto quanta consciência tem aí. Isso é o educar para a liberdade. Liberdade de escolhas e vontades. Liberdade em saber onde começa seu espaço e onde é o do amigo. Em ser companheiro, em ser participativo, colaborativo. “No pensar lúcido, o sentir equilibrado, o querer ativo, a vontade forte e o entusiasmo sempre presente”, finaliza Marina.
Existem atualmente mais de 1 mil Escolas Waldorf no mundo e cerca de 2 mil jardins de infância, localizados em mais de 60 países, sendo assim um dos maiores movimentos educacionais independentes do mundo.”
Serviço
Paulo de Lins e grupo Cantares
Lançamento do álbum Paisagens da Alma
Sábado, 21/9, 19 horas
Escola Waldorf Francisco de Assis (EWFA)
Avenida Basiléia, 149, Lauzane Paulista, telefones (11) 2231-0152 e (11) 94457-7198
Entrada: R$ 20 (crianças até 7 anos não pagam)
Toda a renda será revertida para os projetos pedagógicos da EWFA
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