De cantor romântico em festivais dos anos 1960 a compositor mais censurado do Brasil na década seguinte, exilado duas vezes pelos militares, o uruguaio deixou uma fita cassete com quatro gravações inéditas, agora recuperadas pelo colecionador Marcello Borghi; em uma delas, apresenta sua versão para Caminhando, de Geraldo Vandré, em outra, exalta o escritor negro Lima Barreto
A gravadora Kuarup e a Saravá Discos, do cantor e compositor Zeca Baleiro, lançaram em todas as plataformas digitais nesta sexta-feira, 18 de outubro, quatro gravações inéditas de Taiguara reunidas no EP Taiguara Como Lima Barreto, aproveitando o mês de nascimento do artista, que é de 9 de outubro. Os áudios foram recuperados de fitas cassetes do colecionador Marcello Pereira Borghi, que também assina a produção dessa raridade. Além da minuciosa recuperação do áudio das fitas originais, a direção artística de Zeca Baleiro envolveu a gravação por estrelas da MPB de novos instrumentos e de um coral.
Taiguara Chalar da Silva (1945-1996) nasceu em Montevidéu (Uruguai) e morreu precocemente, vítima de um câncer, em São Paulo. Depois de grandes sucessos românticos nos festivais dos anos da década de 1960, Taiguara se tornou o compositor mais censurado do Brasil na década seguinte. Perseguido pelo regime militar, foi para o exílio duas vezes. No segundo retorno, já nos anos 1980, Taiguara incluía as chamadas “canções de protesto” em seus shows.
É o maior clássico dessas músicas, Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores, de Geraldo Vandré, que abre o EP. Taiguara faz uma longa fala na abertura da faixa, uma breve “história contemporânea” da MPB, antes de cantar Caminhando.
Em seguida, emenda com sua Voz Do Leste, dele próprio, na qual usa o “chamamé”, estilo musical dos Pampas, para uma ácida e atual crítica política. “Tem quem sustenta a trapaça e depois que fracassa amordaça o país”, diz a letra, feita quando Taiguara morava em bairro da zona Leste, em São Paulo.
Na sequência, vem a romântica Paulistana, inédita de Taiguara, que ganhou piano, acordeon e baixo de Adriano Magoo. A terceira faixa, e nome do disco, é Tal como Lima Barreto, um samba-enredo feito por Taiguara, sobre o autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma, para a escola de samba Unidos da Tijuca, que nunca foi utilizado. Esse samba teve o acréscimo do violão sete cordas de Swami Júnior, percussão de Júlio Barro e de um coro com Adriano Magoo, Ana Duartti, Hugo Hori, Tatiana Parra e o próprio Zeca Baleiro.
O EP termina com Ave Menina, de Taiguara, que não havia sido registrada pelo compositor em disco. Ave Menina recebeu um baixo acústico de Fernando Nunes e o violão de Rogério Delayon.
A artesanal recuperação das fitas foi feita pelo engenheiro de som Leonardo Nakabayashi, no estúdio Banzai, onde também se realizaram a mixagem e a masterização do disco. As gravações adicionais foram feitas por Nakabayashi e Felipe Câmara nos estúdios Outra Margem e Space Blues.
A capa do EP conta com um registro inédito do aclamado fotógrafo Antonio Guerreiro, fruto de ensaio que ele realizou para a capa do disco Fotografias, de 1973.
Sobre a Saravá Discos
Selo criado por Zeca Baleiro e Rossana Decelso para reunir produções que tem foco na documentação e resgate de obras essenciais da MPB.
Sobre a Kuarup
Especializada em música brasileira de alta qualidade, o seu acervo concentra a maior coleção de Villa-Lobos em catálogo no país, além dos principais e mais importantes trabalhos de choro, música nordestina, caipira e sertaneja, MPB, samba e música instrumental em geral, com artistas como Baden Powell, Renato Teixeira, Ney Matogrosso, Wagner Tiso, Rolando Boldrin, Paulo Moura, Raphael Rabello, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar, Pena Branca & Xavantinho e Arthur Moreira Lima, entre outros.
O TROCO DE TAIGUARA
Está disponível para compra no catálogo da Kuarup e para ouvir nas plataformas digitais o álbum cujo projeto musical homenageia Taiguara, O Troco de Taiguara. O trabalho do Trio D Favetti oferece releitura da obra do cantor e compositor com arranjos modernos em vozes com produção sofisticada. Os irmãos Tita, Titi e Guego Favetti, gaúchos radicados em Curitiba (PR), interpretam canções pouco conhecidas do polêmico autor, como O Troco, Rua dos Ingleses e Índia, e alguns clássicos, com destaque como Hoje, O Velho e o Novo e Que As Crianças Cantem Livres.
O projeto dá sequência à homenagem ao artista morto em 1996 e redescoberto nos últimos anos a partir da iniciativa da gravadora Kuarup, que em 2013 reeditou o emblemático Imyra, Tayra, Ipy , obra prima de Taiguara de 1975 retirada do mercado pelo regime militar na época do lançamento e mantido fora de catálogo por várias décadas no Brasil. O Troco de Taiguara tem projeto gráfico criado pelo prestigiado ilustrador e designer Elifas Andreato.
Na produção artística, arranjos vocais do cantor e compositor Guego Favetti e instrumentais do músico e baixista Pedro Baldanza, com mixagem e masterização assinadas pelo engenheiro de som José Luiz Costa, o Gato. O álbum que homenageia Taiguara tem texto de abertura redigido pelo escritor, educador e incentivador da música brasileira Roberto Adami Tranjan.
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