OVERLAND: Violas e Veredas, de Caio Padilha, já está disponível nas plataformas digitais e pode ser encomendado, no formato físico, com o autor, carioca radicado em Natal e que abriu o projeto Aprendiz de Sertografias em 2016, quando saiu ARRIVALS: Rabecas e Arribaçãs; música potiguar também merece destaque pelo trabalho do flautista Carlos Zens. autor de sambas, frevos, cocos, marchinhas, benditos, choros, entre outros ritmos
A segunda etapa de uma trilogia nordestina que deverá estar pronta até 2022, o álbum OVERLAND: Violas e Veredas, de Caio Padilha, já está disponível nas plataformas digitais e pode ser encomendado, no formato físico, com o autor, carioca radicado desde 1994 em Natal (RN), capital do estado do Rio Grande do Norte. A trilogia, que Caio Padilha batizou de Aprendiz de Sertografias, já possui o título Rabecas e Arribaçãs (2016) e deverá ser fechada com Acordeons e Candeeiros. Músico tocador de rabeca, cientista social, ator e admirador da cultura popular, Caio Padilha também lançou, recentemente, Um Sonho de Rabeca No Meio da Bicharada, disco que saiu pela Kuarup, tema da atualização 1244 deste blogue, publicada em 8 de outubro.
Padilha explicou que a inspiração para o segundo tema veio de Agostinho Nunes, que viveu no século XVIII e no sertão do Seridó iniciou a tradição da cantoria violada. O álbum que o consubstancia incorpora as incursões etnográficas do poeta modernista, escritor, musicólogo, ensaísta e folclorista Mário de Andrade (SP) pelo sertão do século passado para encontrar nos registros gravados um rico substrato que fertiliza a criatividade dos arranjos e convida o ouvinte para uma viagem pelas sonoridades que construíram parte de nossa brasilidade (veja na sequência as Notas ao Ouvinte).
Ainda em OVERLAND: Violas e Veredas, Padilha faz tributo à obra desenvolvida no Rio Grande do Norte pelo pai, Almir Padilha, com Cena Silvestre e Rio Potengi. O rabequeiro repete parceria com o cearense Riccelly Guimarães (em Curadores de Rastros), com Artemilson Lima (em Acalanto Dormente, faixa de abertura) e estreia com o dramaturgo carioca Filipe Miguez, autor do espetáculo Meu Seridó, com o qual Caio Padilha tem circulado por todo o Brasil, atuando como ator e diretor musical.
Desde 2011 Caio Padilha ministra oficinas de rabeca em diversas instituições, dentro e fora do Brasil, e recebeu entre outros o Prêmio Culturas Populares Funarte pela Iniciativa (2012 e 2018). Em 2012, foi solista no espetáculo 100 anos de Gonzagão, gravado pelo Sesc TV (SP). Sua experiência internacional inclui apresentações no Oriente Médio, na Europa e nos Estados Unidos da América entre 2013 e 2017. Em 2016, ARRIVALS -Rabecas e Arribaçãs, o disco que abre a trilogia que propõe a investigação musical brasileira, foi citado pelo portal Embrulhador – Melhores da Música Brasileira, de Ed Felix, entre os 50 principais lançamentos independentes daquele ano. O mesmo disco rendeu a Padilha o troféu do 5º Prêmio Grão da Música Brasileira, entregue na cidade de São Paulo no ano passado. O álbum foi, ainda, atração e obteve excelente repercussão no programa Sr. Brasil, apresentado por Rolando Boldrin (TV Cultura).
Como ator e contador de histórias, Caio Padilha já participou dos projetos de circulação nacional SESC Palco Giratório e SESC Arte da Palavra (2015 e 2019). Em texto no qual esmiúça os objetivos e as influências que marcam a trilogia Aprendiz de Sertografias, Padilha observou que investiga três instrumentos musicais, que além de principais referências da cultura popular norte-rio-grandense, também se manifestam em diversas regiões do Brasil e do mundo: “a santíssima trindade” da música nordestina: rabeca, viola caipira e acordeon. O primeiro vem do agreste, de Fabião das Queimadas, ex-escravo que no século XIX comprou a alforria tocando rabeca, o instrumento de Rabecas e Arribaçãs (2016). OVERLAND… remete a Agostinho Nunes, que no século XVIII iniciou a tradição da cantoria violada no Sertão do Seridó. E Acordeons e Candeeiros será inspirado na região serrana do alto oeste potiguar, terra de grandes sanfoneiros tais como o mestre Caçula Benevides, músico potiguar de Caraúbas, conhecido como um dos maiores sanfoneiros da região e um dos mais cultuados do forró pé de serra do Nordeste, que morreu em junho de 2015, em Mossoró (RN).
A palavra “Aprendiz” no título a trilogia é, revelou Padilha, é ainda, uma menção direta ao trabalho de Mário de Andrade (O Turista Aprendiz) que há mais de 90 anos fez expedição ao Rio Grande do Norte por um mês e meio, depois de vasta correspondência com o potiguar Câmara Cascudo, patrono da cultura popular brasileira. Muito do material originalmente gravados por Mário de Andrade na ocasião compõe os arranjos das canções repletas de aboios e disponíveis em todas as plataformas digitais de música.
NOTAS AOS OUVINTES DE OVERLAND…:
1) Compõem a paisagem sonora deste novo disco os aboios originais gravados pela expedição de Mário de Andrade em 3 de maio de 1938, nas cidades paraibanas de Itabaiana e de Patos, com os vaqueiros José Marcelino Pessoa, Joviniano Floriano da Silva e José Gomes Pereira (Zé Gago), Antônio Mendes e Joaquim Manoel de Souza (Joaquim Preto).
2) Em OVERLAND: Violas e Veredas ouve-se antes de qualquer canção um grito, um canto incidental do povo Tzotziles, gravado no México, em 1993. A importância ritual deste canto reside na própria emissão da melodia. Pois ela nos induz ao estado de êxtase necessário para estabelecer uma ligação entre o real e o sagrado, conforme poderá ser conferido em Acalanto Dormente.
3) Em Cena Silvestre ouve-se nos arranjos os aboios originais gravados pela expedição de Mário de Andrade em 16 de maio de 1938 com os vaqueiros Pedro Ribeiro, José Luiz, Antonio Luiz da Silva e Raymundo Barbosa, em Sousa (PB). Já os aboios incidentais gravados pela mesma expedição no dia 15 de março estão em Onde eu Nasci, com os vaqueiros Manuel de Lima, Justino Bernardo de Almeida, Augusto Gomes em Rio Branco (PE).
Conheça Carlos Zens, exímio flautista potiguar
Caio Padilha faz parte de um movimento de afirmação da música, de cantores e de compositores do Rio Grande do Norte. Embora não seja atualizado desde novembro de 2016, o blogue Canto Potiguar, de Marcus Falcão, é uma ótima fonte para quem desejar pesquisar e ouvir mais sobre a música popular e regional lá produzida; o Canto Potiguar também oferece um linque que leva ao Som sem Plugs, dos quais destacaremos como amostra deste rico universo potiguar o trabalho do flautista Carlos Zens — de acordo com dados disponíveis na internet, autor de oito álbuns entre 1995 e 2015. Destes, o Canto Potiguar oferece para baixar, em formato Mp3, Potyguara (1995), Fuxico de Feira (2004), Auto do Natal – O Menino da Paz (2007) e Arapuá no Cabelo (2008) que aqui na redação do Barulho d’água Música atraem e põem para ouvir e dançar os bichanos Pablo Neruda, Maria Júlia, Reinaldo Diadorim e Melodia de Paula,
Carlos Zens nasceu em Natal em 1965 e foi criado nos bairros históricos de Santos Reis e Rocas, na cidade que é a capital potiguar. Desde cedo já buscava na música uma forma de ganhar a vida, e foi como percussionista que tudo começou, nas ditas “canjas” em bandas de bailes da época que tocavam no aeroclube, no América Futebol Clube e outros lugares até ingressar, em 1981, na escola de música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) onde conheceu a flauta.
Zens ganhou uma bolsa de estudos na Escola Municipal de Música (SP) em 1986 para estudar música erudita, por intermédio do flautista francês Jean Noel Saghaard. O pontapé para composições próprias surgiu mais tarde quando ingressou na Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), na qual dividia o tempo de estudo com apresentações noturnas.
O universo sonoro das composições (sambas, cocos, choros, forró, frevo, benditos, xotes, cantos de beira-mar, entre outros ritmos) de Carlos Zens trilha a pesquisa sobre a música popular brasileira numa fusão da erudita e a tradicional de raiz, reforçado no contato com os mestres da cultura popular como Mestre do Boi de Reis tais quais Manoel Marinheiro (RN), da capoeira (Mestre Marcos, da Capoeira de Angola, e Mestre Bule Bule,de Chulas/BA), da cirandeira Lia de Itamaracá (PE), dos rabequeiros Cícero Carlos e Mestre Paulo da Rabeca (RN); do repentista Sebastião Dias (RN); do teatro de bonecos do João Redondo (Chico Daniel/RN) e do mestre da sanfona e compositor Dominguinhos (PE); os mestres do pife como Sebastião Biano (PE/SP), Irmãos Aniceto (CE), Banda de Pífanos de Caruaru (PE) e, mais recentemente, Zabé da Loca (PB), tem sido um referencial para a sua produção como intérprete, compositor e professor de música.
Herdou dos grandes mestres a influência da música erudita como também pela sua formação acadêmica voltada para a flauta brasileira de: Joaquim Callado, Patápio Silva, Pixinguinha, Benedito Lacerda, Altamiro Carrilho, Zé da Flauta e Sando (ex-Quinteto Violado), trazendo sempre elementos marcantes dos ritmos e melodias do povo brasileiro.
Como professor de flauta já atuou em projetos de educação no campo da cultura como FDE – São Paulo e CMAI-RN. Atualmente, é professor de flauta e pífano, na Organização Não-Governamental (ONG) TerrAmar-Conexão Felipe Camarão/ Natal-RN e flautista da Banda Sinfônica da cidade do Natal (RN).
Ficha técnica de OVERLAND…: Violas e Veredas
Textos, direção musical e arranjos: Caio Padilha
Recitação dos textos: Tony Silva
Gravação, mixagem e masterização: HStudio, em Natal (2018), sob direção de Humberto Luiz
Ilustrações e Projeto Gráfico: Allan Marlon
Fotos: Luana Tayse
Airton Guimarães: Contrabaixo acústico
Caio Padilha: Voz, violões, rabecas e viola caipira
Humberto Luiz: Piano
Sami Tarik: Percussão
Bruno Cirino: Sanfona
Hugo Shin: Oboé
Participações especiais: Silvia Sol, Tony Silva, Bruno César, Carlos Zens e Grupo Vocal Octo Voci.
Discografia de Carlos Zens: 2001, O Tocador de Flauta; 2004, Fuxico de Feira; 2007, O Menino da Paz – Auto de Natal; 2008, Arapuá no Cabelo; 2011, Ouvindo o Coração; 2013, Carlos Zens no Choro Potiguar; 2015, Pescador de Sons do Brasil
Excelente apresentação Carlinhos Zens! Parabéns!
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Carlinhos Zens é um dos grandes músicos que a mídia ignora, mas que se estivesse aqui no “Sudeste maravilha” teria muito mais visibilidade e despertaria mais interesse da indústria fonográfica. É uma pena que seja assim, por isso me esforço para manter o Barulho d’água Música para oferecer aos meus poucos leitores e seguidores a oportunidade de conhecer obras como as dele, de Caio Padilha e de Wescley Gama, entre outros potiguares!
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