Álbum tem 13 faixas, participações especiais de Titane, Bocato, Swami Júnior, Oswaldinho do Acordeon, entre outros, e parcerias com ou interpretações de poemas de Mauro Paes, Artenio Fonseca, Paulo Leminski, Arnaldo Antunes e Itamar Assumpção, mais projeto gráfico de Elifas Andreato
Um dos melhores discos da carreira do cantor e compositor são-miguel-paulistanês, o bardo mouro tupiauiense Edvaldo Santana (entre os oito que ela já lançou na carreira solo, desde 1993, quem se atreveria a dizer qual deles seria o mais-mais?), batizado simplesmente com o nome do artista (veja o tamanho da responsa, na verdade, a confiança no próprio taco, já que, caçapa, a estocada foi de mestre!) está completando vinte anos de lançamento. Por conta desta importante marca, Edvaldo Santana (o disco) foi o escolhido para abrirmos aqui no boteco do Barulho d’água Música neste dia 11 do apressadinho janeiro (para aonde será que ele quer nos levar assim, passando tão veloz?) mais uma rodada das audições matinais que promovemos aos sábados.
Composto por treze faixas, o terceiro disco solo de Santana traz composições em ritmos que parecem correr nas veias do músico, bombeando seu/nosso coração com rock, blues e samba, entre outros, revelando o caldeirão multicultural que zabumba bumba em seu peito e que troca papos retos, ora com gírias, tiradas e expressões coloquiais colhidas pelas quebradas que são a cara do Brasil por onde ele transita e é mano, ora com a apurada gramática leminskiana, um dos seus parceiros em um time que tem, ainda, Ademir Assunção e Arnaldo Antunes, tá bom para você ou quer mais? O projeto gráfico, a cereja do bolo, acrescente-se, também é erva de boa cepa, já que tem a assinatura de Elifas Andreato — para quem estiver ligando a tevê agora: um dos mais geniais artistas plásticos de Pindorama, autor de capas memoráveis para discos de gente dos calibres de Chico Buarque, Martinho da Vila, Clara Nunes, Elis Regina, Paulinho da Viola…
Em vários dos textos que publicamos neste blogue nunca escondemos a admiração e o respeito tanto à pessoa, quanto à obra de Edvaldo Santana. Como somos amigos do rei, brincamos com e dizemos que ele, em nosso modesto barco, sempre navegará à janela que escolher, em poltrona de primeira classe e com o melhor serviço de bordo que pudermos dispor. Afora a carreira que conduz há mais de 40 anos sem dobrar a espinha às concessões e as tentações mercadológicas – contando suas aventuras pelos extintos grupos que integrou na década de 1970, primeiro, o Caaxió, com os parças Fernando Teles, Luciano Bongo e Zé Bores, depois, dando sequência a este, a banda Matéria Prima, que lançou em 1975 um bolachão homônimo cuja joia maior é o sucesso Maria Gasolina -, Santana vem sendo um cara que, fora dos palcos, no dia a dia, cultiva amizades sem precisar de negócios, adora churrasco na laje e insiste, por exemplo, em jogar bola e a estender a mão para dar uma força aos chapas, sem nunca dizer que é santo ou atrás de glória para entrar na história, apenas levando em conta o que diz o seu coração de menino. Protagonizando estes gestos de genuína brodagem, por exemplo, ele já cantou e tocou para amenizar o sofrimento de internados e de pacientes de hemodiálise de um hospital público, em Barueri (cidade da Grande São Paulo), em 2015, e animou uma das rodadas das cantorias que, em 2018, promovemos na Cervejaria Zuraffa, situada no bairro paulistano de Pinheiros – sem cobrar um centavo, portanto, no vasco.
Antes de voltarmos a abordar o disco dele que completa duas décadas, para que não pareça aos amigos e seguidores do Barulho d’água Música que estaríamos meramente tietando o Lobo Solitário, vale a pena ler, a seguir, o que escreveu Julio Cesar Cardoso de Barros sobre Edvaldo Santana no blogue Música Boa do Brasil, em 8 de fevereiro de 2016, quando saia do estúdio e chegava ao mercado o disco Jataí, o sétimo da carreira e antecessor do mais recente, Só Vou Chegar Mais Tarde:
“Edvaldo Santana é um músico inteiro. Toca, canta e compõe redondo. Suas influências são amplas e irrestritas. Do blues e country americanos (Quando Deus Quer até o Diabo Ajuda e Há Muitas Luas) ao sincopado nordestino de Jackson do Pandeiro ou sudestino de Miltinho, ele não se vexa de incursionar nos diversos gêneros para dar seu recado de uma forma autoral. Isso tudo pode ser conferido em seu sétimo disco, Jataí, um CD que recebeu um tratamento gráfico clean do consagrado artista gráfico Elifas Andreato. São 13 faixas inteiramente de sua autoria nas quais não falta balanço à la Jorge Ben (Amor é de Graça), xote dos mais rasgados (Jataí) e o samba chegado à roda (Seu Ico). O cotidiano rascante não passa despercebido de Edvaldo (A Poda da Rosa) nesse disco feito para se ouvir, mas que também convida para balançar a roseira, só que na manha do gato – mamando e miando. Edvaldo se cercou de um time bom de músicos e ainda contou com a participação luxuosa de Fabiana Cozza, na faixa Eva Maria dos Anjos. Edvaldo é, sobretudo, um cantador agradável, um desajustado que não vê limites geográficos nem se enquadra nas tendências do mercado, o que pode ser defeito ou qualidade, dependendo do ponto de vista.”
Edvaldo Santana, o álbum icônico, foi lançado em duas edições: pela Tom Brasil e, em seguida, pelo selo Eldorado. Produzido em parceria com Luiz Waack, gravado no estúdio DKW, mixado e masterizado por Alberto Ranelucci, traz projeto gráfico como já mencionado de Elifas Andreato. As faixas contam com participações especiais de Oswaldinho do Acordeon, Titane, Swami Júnior, Bocato, Claudio Faria e Fernando Deluqui e na banda que conduz com desenvoltura e precisão todas as músicas jogaram o extraordinário baterista londrinense Eduardo Batistella, o baixista argentino regado a rock, samba e tango Mintcho Garrammone, o sofisticado guitarrista Luiz Waack, os tecladistas pontas de lança Ricardo Cristaldi e Daniel Szafran, o percussionista que faria The Rolling Stones ainda mais admirado mundo afora, Ricardo Garcia, e o coro refinado das cantoras-anjos Ana Amélia, Mona Gadelha, Damy, reforçado pelos gêmeos Rubens e Beto Nardo.
A fotografia que na capa do disco deixou Santana com cara de mal, revelando apenas um istmo dos olhos antenados, acobertados sobre o chapéu (“eu tenho desde pivete/ideia, suingue e chapéu”, revelou ele em Blues Caboclo), é de Abel Fragata, e a assistência de produção coube ao saudoso Waldir Aguiar. O repertório, ah, o repertório! Começando pelo para sempre atualíssimo Samba do Trem (parceria com Mauro Paes e Artenio Fonseca) é trilha para levantar qualquer momento do dia e acender o alto astral, debelar brumas, brisas e bads indesejáveis, lambendo os dedos. Se não com quem quiser, pode se ouvir como quiser – na sequência do disco ou randomizando – músicas tais quais Covarde, Mestiça, Paulistanóide, escritas por Edvaldo, e Ruas de São Miguel, em tabelinha com Roberto Claudino. Destacam-se, ainda, a versão da zona Leste para Dor Elegante, do haijin curitibano Paulo Leminski e do Vulgo Dito Itamar Assumpção, Sonho Azul (parceria entre o pai, Felix de Santana Braga, e o filho, abençoada pelo Espírito Santo) além da poesia de Ademir Assunção em Zen Sider, de Akira Yamasaki em Canção Pequena e Beija Flor, do titã Arnaldo Antunes, que, por ser a última do disco, convida a dar um restart no player.
“Esse álbum foi conduzido com muita alegria e coragem, apesar dos poucos recursos de produção”, comentou Edvaldo Santana em sua página do Facebook. “Agradeço sempre aos amigos que contribuíram para a realização da obra e que possibilitaram que o caminho continuasse sendo trilhado, potencializando as ideias através da arte”, completou. E, para terminarmos, faço nossas as palavras dele, sugerindo que os demais discos abaixo mencionados também sintam o macio arranhar da agulha da vitrola: “Tenham uma boa audição!”
Discos solo de Edvaldo Santana
Jataí – Independente (2011)/Edvaldo Santana – ao vivo – Independente (2009)/Reserva de Alegria – Independente (2006)/Amor de periferia – independente (2004)/Edvaldo Santana – Tom Brasil/Eldorado (2000)/Tá assustado? – Velas (1995)/Lobo Solitário – Cameratti (1993)
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