Cantor e compositor pernambucano vivia em Copacabana e deixou como legado mais de 500 composições, como Prelúdio para ninar gente grande e Paz do meu amor, que marcam gerações
Os amantes da boa música lamentam desde a quinta-feira, 16, o desencarne na cidade do Rio de Janeiro do cantor, compositor e radialista Luiz Vieira (Luiz Rattes Vieira Filho). Uma parada cardíaca levou ao Mundo Maior o autor consagrado por músicas que há anos embalam gerações como A paz do meu amor (Menino Passarinho) e Prelúdio para ninar gente grande, dois dos seus maiores sucessos entre mais de 500 canções que deixou como legado. Vieira, que tinha 91 anos, sentiu-se mal em sua casa em Copacabana na noite anterior e não resistiu às sequelas do infarto. O corpo foi sepultado na tarde de sexta-feira, 17, no Cemitério São João Batista, no bairro carioca de Botafogo.
Pernambucano de Caruaru, Vieira entrou precocemente na carreira artística e ainda criança, aos 8 anos, compôs a primeira música. Antes do sucesso, entretanto, teve de ralar como motorista de caminhão e de táxi, além de engraxate, entre outras atividades para ganhar a vida. Na cidade do Rio de Janeiro desde os 10 anos, já adulto ele começou a despontar falando nas “latinhas” das rádios Record e Tupi e ganhou o codinome “Príncipe do Baião” na década dos anos 1950.
O repertório de Vieira reúne, em sua maioria, composições românticas, valsas e sambas-canções, muitas das quais acabaram interpretadas por nomes como Caetano Veloso, Elba Ramalho, Luiz Gonzaga, Rita Lee, Maria Bethânia, Fagner, Taiguara e Nara Leão. Vinte destas pérolas foram regravadas por um notável elenco que subiu ao palco do Teatro Itália, na cidade de São Paulo, em 2 de outubro de 2018, dez dias antes de o Menino Passarinho celebrar 90 anos. A gravação do espetáculo se transformou em um álbum lançado pelo selo Kuarup e rendeu um programa especial para o Canal Brasil, levado ao ar em 26 de janeiro do ano passado.
As faixas do disco tributo são cantadas por nomes de diferentes estilos e gerações da música brasileira como Daniel, Renato Teixeira, Zeca Baleiro, Maria Alcina, As Galvão, Claudette Soares, Alaíde Costa, Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Moacyr Franco, Ayrton Montarroyos, Socorro Lira, Graça Braga, Anastácia, Verônica Ferriani Altemar Dutra Júnior, Célia & Celma, Sérgio Reis, Claudette Soares e Eliana Pittman. A direção musical e os arranjos couberam ao pianista Alexandre Vianna e a direção artística e a produção a Thiago Marques Luiz.
À época deste show, por ese recuperando de uma pneumonia, Luiz Vieira, por recomendações médicas, não pode comparecer. A ele caberia interpretar ao lado dos filhos mais novos (os gêmeos de 11 anos, Jorge e Luiz) Ponteio (Edu Lobo). Outra ausência sentida foi a de Ângela Maria, inicialmente escalada para coordenar a festa e receber os demais convidados, mas a Rainha do Rádio partira dias antes, em 29 de setembro.
O nome Luiz Rattes Vieira Filho recebeu de um dos avôs. Ainda aos dois anos, ficou órfão da mãe, e, antes dos dez, mudou-se para o estado do Rio de Janeiro para ser criado pelo avô, em Alcântara, distrito do município de São Gonçalo. Na ex-capital federal, a cidade do Rio de Janeiro àquela época, exerceu entre as atividades, ainda, trabalhos como guia de cego e lapidário, mas conseguia encontrar tempo para cantar em circos e em parques de diversão,
No início da carreira, em uma rodada do programa de Renato Murce, na cidade do Rio de Janeiro, imitou Vicente Celestino, apresentando-se como crooner de orquestra num cabaré do bairro carioca da Lapa, descolando desta forma contrato com a Rádio Tupi, por intermédio de Paulo de Grammont. Em 1950, já integrava o cast das rádios Tupi e Record, de São Paulo, que pertenciam às Emissoras Associadas.
Apesar das famosas A paz do meu amor e Prelúdio para ninar gente grande a canção Menino de Braçanã, composta em 1953 (em parceria com Arnaldo Passos), é seu primeiro sucesso, inicialmente na voz de Roberto Paiva e, em seguida, interpretada por Ivon Curi. No disco dos 90 anos, a honra coube a Renato Teixeira, acompanhado, entre outros, músicos pelo acordeonista Thadeu Romano. Também participam do álbum Ronaldo Rayol, ao violão, João Benjamin, ao baixo acústico e o baterista Rafael Lourenço.
Entre 1954 e 1961, além de cantor da rádio e televisão Record paulista, Viera passou, ainda, pela Rádio Nacional (CBN). O programa Encontro com Luiz Vieira, levado ao pela extinta TV Excelsior, no canal 9, de São Paulo, estreou em 1962 e neste mesmo ano Vieira ganharia as paradas de sucesso com a canção Prelúdio Pra Ninar Gente Grande — que no álbum da Kuarup está nas vozes da trinca Timóteo, Rayol e Franco. Em 1963, emplacou Paz do Meu Amor (Prelúdio nº 2), que Daniel reinterpretou, abrindo os trabalhos no Teatro Itália.
Luiz Vieira chegou a fazer diversas viagens aéreas por semana para cumprir agendas em cinco programas de televisão, cruzando o país, do Ceará ao Rio Grande do Sul. Também se tornou locutor da Rádio Manchete e é estudioso das músicas de cordel.
Faixas do álbum: 1. Paz do Meu Amor (Daniel)/ 2. O Menino de Braçanã (Renato Teixeira)/ 3. Guarânia da Lua Nova (As Galvão) / 4. Guarânia da Saudade (Ayrton Montarroyos) / 5. Os Olhinhos do Menino (Altemar Dutra Júnior) / 6. Estrada da Saudade (Célia&Celma) / 7. Inteirinha (Claudette Soares) / 8. Na Asa do Vento (Verônica Ferriani e Zeca Baleiro) / 9. Estrada do Colubandê (Maria Alcina e Edy Star) / 10. Pagando o Pato (Raimundo José) / 11. Maria Filó/O Danado do Trem (Anastácia) / 12. Corridinhos da Saudade (Socorro Lira) / 13. Balada do Amor Sublime (Moacyr Franco) / 14. Cativo (Sérgio Reis) / 15. Resto de Quem Parte (Agnaldo Rayol) / 16. Estrela Miúda (Graça Braga) / 17. Nossos Destinos (Eliana Pittman) / 18. Estrela de Veludo (Márcio Gomes) / 19. Poema de Um Bruto (Agnaldo Timóteo) / 20. Prelúdio Pra Ninar Gente Grande/Menino Passarinho (Agnaldo Timóteo, Agnaldo Rayol e Moacyr Franco).