1283 – Em Achados & Perdidos, Luiz Millan (SP) faz “acerto de contas” com a carreira

Disco tem participação de Giana Viscardi e parcerias com Michel Freidenson, Moacyr Zwarg, Plínio Cutait, Marília Millan e Ivan Miziara. Além de músicas próprias, traz novos arranjos para ‘Brazil com S’, de Rita Lee, e Outro Cais, de Eduardo Gudin, entre outras 

O cantor e compositor paulistano Luiz Millan, escolheu o nome do seu quinto disco, Achados & Perdidos, como uma espécie de acerto de contas que ele faz com sua carreira, reunindo músicas novas, outras há muito tempo feitas, além de gravar, pela primeira vez, canções de outros compositores como Rita Lee e Marcos Valle. Nessa empreitada, contou com arranjos do pianista Michel Freidenson, com a cantora Giana Viscardi, e com verdadeiros mestres da música instrumental de São Paulo, como Sylvinho Mazzucca (baixo), Léa Freire (flauta), Edu Ribeiro (bateria), Camilo Carrara (violão) e Adriana Holtz (violoncelo). Na capa, uma foto de Millan em uma das “Reuniões Musicais”, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em 1976.

“Sem perdidos não há achados e muitos achados se perdem. A tolerância ao estar perdido é que abre a possibilidade do encontro com o novo, além do reencontro com o antigo”, observou. “A canção Movimento, por exemplo, foi composta há 40 anos, quando eu namorava Marília, minha mulher”, emendou. “Por outro lado, Só com você, a mais recente, era uma letra que esperava por uma canção. Enviei ao meu parceiro Plínio Cutait, que me presenteou com um belo samba, que coube no texto como uma luva.”

Sobre outros autores do disco: “Nosso país não tem memória cultural. Precisamos valorizar nosso rico patrimônio. O critério de escolha foi o amor por músicas que não têm sido lembradas, nem regravadas”, queixou-se. Não Pode Ser é dos anos 1960 e nem o próprio Marcos Valle regravou; Brazil com S foi regravada uma vez após a ‘clássica’ interpretação de Rita Lee e João Gilberto, de 1982. É uma divertida bossa feita por uma rockeira. O samba Outro Cais, do Gudin, foi amor à primeira vista.”

Millan e Freidenson (Foto: Camilo Carrara)

O arranjador Michel Freidenson divide a produção com Millan: “É mais uma experiência feliz. O trabalho flui de maneira própria. Parece que temos uma tecla SAP. Quando Millan apresenta uma música e pede continuar, fica fácil, já sei o que está pensando. Outra coisa é a interação com os músicos. A gente ensaia pouco, mas quando chega ao estúdio é como se descesse um raio, tudo dá certo”.

Giani Viscardi é outro ponto de destaque do álbum. Considerada como uma das grandes vozes de São Paulo, com mais de vinte anos de carreira e alguns CDs, já atuou ao lado de João Donato e Chico César, além de ter músicas gravadas por Verônica Ferriani. “Foi um processo muito bonito. Quando Luiz me chamou a participar, emocione-me porque já conhecia o Moacyr Zwarg (1946/2017), com quem cantei durante sete anos. Gravar composições dos dois já me parecia uma grande honra. Depois, com as músicas ganhando estes arranjos maravilhosos e músicos como Léa, Edu e Silvinho, o resultado foi muito feliz”.  

Luiz Millan lançou seu primeiro disco, Entre Nuvens, em 2011, mas pode ser considerado um “veterano”. Formado em Medicina Psiquiatria, profissão que exerce desde 1982, nunca abandonou a que entrou em sua vida desde a infância. Estudou piano e violão, em 1980, chegou a gravar o vinil coletivo Ponta de Roma, com colegas da Universidade de São Paulo (USP). Apesar de não ter mostrado suas músicas ao público durante muito tempo, nunca deixou de compor.

Millan tem ainda os álbuns O Dia em que São Paulo Floresceu (2014) e Dois por Dois (2016), este com Moacyr Zwarg, Teco Cardoso e Michel Freidenson, que rendeu o DVD/CD Dois por Dois ao Vivo (2018). Para ele, a sigla “MPB clássica” engloba muitos estilos e é bem apropriada para definir o que faz: “A gente vai ouvindo e incorpora, de forma muito natural, essa tradição musical brasileira, que é tão preciosa. Esse estilo de música, que foi popular, já não é mais. Diante disso, seria mais realista se a chamássemos a apenas de música brasileira”.  

Um exemplar de Achados & Perdidos nos foi gentilmente enviado pelos amigos Beto Priviero e Moisés Santana, da Tambores Comunicações, aos quais agradecemos. Com 14 faixas, tem distribuição pela Tratore e custa, em média, R$ 28,00. Para mais informações a Tambores Comunicações tem os números de telefone (11) 3887-7430 e (11) 99966-9320.

Achados&Perdidos 

A meu pai, Roberto Millan, com quem aprendi a arte de degustar a vida, 

Surpreendido pela velocidade do tempo, me vejo escrevendo a introdução de meu quinto álbum! Achados a Perdidos foi concebido com um espírito diferente dos CDs anteriores, Pela primeira vez, foram gravadas músicas que não são de minha autoria, quatro músicas que adoro e que arrisquei interpretar, consciente de que canto, mas que não sou cantor„, Além dessas quatro músicas, foram gravadas outras dez que compus durante o transcorrer de minha vida, a mais antiga delas em parceria com Marília, há cerca de quarenta anos, quando éramos namorados e estudantes universitários. Sem ter nenhum registro, a canção e a letra de “Movimento” viajaram por minha mente, como se tivesse sido composta ontem. O inconsciente musical é atemporal! As outras canções foram compostas nos últimos dez anos e algumas delas estavam adormecidas, esperando esta oportunidade para ganharem vida.

Há, também, parcerias com o saudoso pianista Moacyr Zwarg, com o poeta Ivan Miziara, com os pianistas Plínio Cutait e Michel Freidenson, com o cantor Maurício Detoni e uma canção que é apenas minha. Convidei, mais uma vez, Michel para coproduzir o projeto, criar os arranjos, realizar a direção musical e a mixagem. Contamos com músicos geniais, do primeiro time da música brasileira e internacional: Michel, piano; Sylvinho Mazzucca, baixo; Léa Freire, flauta; Edu Ribeiro, bateria; Camilo Carrara, violão; Adriana Holtz, celo; Bruno Soares, fluguelhorn e Tato Cunha, sax. Giana Viscardi dividiu os vocais comigo e Maurício Detoni interpretou, com Giana, a nossa parceria.

Os quatro períodos de gravações, distribuídos em dois fins de semana, transcorreram num clima de alegria e cumplicidade, com uma fluidez pouco vista. Ver as músicas nascendo, os arranjos ganhando vida e esses músicos talentosos tocando magistralmente me conduziram a lugares, em minhas emoções, jamais visitados! A voz de Giana afinadíssima e com um incrível swing completou aquele time maravilhoso. Adonias Júnior, engenheiro de som, realizou as gravações com técnica ímpar e Michel conduziu a direção musical com sensibilidade refinada e sabedoria. O resultado, a meu ver, surpreendente, transmite com fidelidade o que se passou naqueles dias.

Além de todos já citados, agradeço à Lulude Balieiro pelo belo design gráfico, à Rita Cabral pela produção executiva, sempre caprichada, e ao Ignácio Sodré pela masterização impecável. Finalmente, um agradecimento especial para o Michel. Transcreverei nosso diálogo, por mensagem, ao final das gravações, assim que deixamos o estúdio:

Michel em áudio: “Grande Millan! Engraçado, agora vem na minha cabeça um detalhe depois do outro de cada música! (risos)… O que foi feito foi espetacular! Todo mundo emocionado, feliz, contente, é muito raro tudo isso acontecer, graças a você…”

Respondi a ele em texto: “Craque! Eu é que não tenho palavras para te agradecer. Que pessoa você é! Que pianista! Que arranjador! E que amigo! Se eu não te conhece diria a todos que uma pessoa como você não existe!’”

Luiz Millan, janeiro de 2020 

Terra de craques

O disco de Milan contém entre as 14 faixas quatro instrumentais, Madrugada (#2); Achados &Perdidos (#5) e Dissonante (#9) e Luzes da Cidade (#14), que ele dedicou à memória de Zwarg. Já a de abertura, Morungaba, embora não tenha viola e sanfona no arranjo de Freidenson para o poema de Milan e de Zwarg, pode ser considerada uma canção caipira. A letra fala sobre atrações que podem  ser encontradas em Morungaba, um dos 12 municípios paulistas considerados estâncias climáticas pelo Estado de São Paulo, por cumprirem determinados pré-requisitos definidos por Lei Estadual. Tal status garante a esses municípios uma verba maior por parte do Estado para a promoção do turismo regional. Também o município adquire o direito de agregar junto a seu nome o título de Estância Climática, termo pelo qual passa a ser designado tanto pelo expediente municipal oficial quanto pelas referências estaduais.

Assentada nas colinas suaves de um vale ao pé da Serra de Cabras, o município é um convite à tranquilidade na região de Campinas, a cerca de 110 quilômetros da Capital. Fundada em meados do século XIX com o nome de Conceição de Barra Mansa, mudado em 1919 para a denominação atual. Morungaba emancipou-se politicamente em 28 de fevereiro de 1964 e administrativamente em 1965, sendo elevada à condição de Estância Climática em 25 de julho de 1994.

Renato “Pé Murcho” fez parte da célebre seleção brasileira de 1982 e vestiu 25 vezes a camiseta canarinho

A cidade de Morungaba é terra natal de um dos mais geniais meias do nosso futebol de todos os tempos, Renato (Carlos Renato Frederico), que o torcedor carinhosamente tratava por “Pé Murcho”. A seleção brasileira de futebol de 1982 costuma ser celebrada como uma das melhores da história e reunia no elenco convocado por Telê Santana, e não apenas entre os titulares, mas também no banco de reservas, verdadeiros craques em todas as posições. O camisa 19 daquele grupo era Renato, revelado pelo Guarani de Campinas (SP), com o qual fora campeão brasileiro em 1978 ganhando a final contra o Palmeiras, mais tarde ídolo do São Paulo, do Atlético Mineiro e do Botafogo (RJ).

Renato “Pé Murcho” seria substituto de Zico, nosso camisa 10, mas acabou não entrando em campo naquela Copa do Mundo, promovido na Espanha e que deixou um travo amargo na memória nacional devido à eliminação diante da Itália após a memorável partida que ficou conhecida como a Tragédia do Sarriá, vencida pela Squadra Azzura por 3×2, em 5 de julho; a seleção europeia acabou levantando o caneco em final diante da Alemanha. Mas a mera presença do morungabense no grupo, companheiro de quarto de Sócrates, indica a qualidade do meia-atacante. Ao longo de uma década, “Pé Murcho” foi considerado um dos jogadores mais técnicos do futebol brasileiro e vestiu o manto canarinho 25 vezes.

Leia também no Barulho d’água Música:

1142 – “Dois por Dois Ao Vivo” apresenta composições de Luiz Millan e Moacyr Zwarg

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