1334- Vanderlei Pereira, radicado em Nova York, lança Vision for Rhythm, com a banda Blindfold Test*

Cego desde 1986, quando atuava na cena musical carioca, o músico explica que os nomes do  álbum e da banda têm a ver com sua condição. Por isso, o grupo “guarda” a música na memória e toca com vendas nos olhos em Visão para Ritmo

Vanderlei arrisca. Hoje ele é, talvez, o mais ‘brasileiro’ baterista da cena nova-iorquina. Chegou lá no peito e na raça. Conquistou e venceu. Salve!” Antonio Adolfo

“A música de Vanderlei tem influenciado músicos do mundo inteiro que vão para Nova York em busca daquele suporte que raramente se consegue no Brasil. O seu primeiro CD solo é uma prova de ritmo, musicalidade e bom gosto.” Flora Purim

“Vanderlei é um músico excepcional com uma ‘antena & sensibilidade’ fora do comum!” – Dom Salvador

*Com Tambores Comunicação

O baterista Vanderlei Pereira vive em Nova York há 30 anos e é um dos mais atuantes do ‘jazz brasileiro’ naquela metrópole. Em quase todos os ensaios de sua banda, Vanderlei chegava com mudanças de arranjos até que um dia os músicos reclamaram que as partituras estavam ficando impossíveis de serem lidas com os rabiscos. Vanderlei sugeriu, então, que decorassem as músicas, como ele mesmo, cego, sempre fizera, e talvez, devessem vendar os olhos ao tocarem as músicas mais difíceis. Deu certo, a banda toda topou! E assim nasceu a Blindfold Test, em português a Banda Teste de Olhos Vendados, que lança, agora, para o mundo, o primeiro álbum, Vision for Rhythm (www.jazzheads.com).  

Um exemplar do disco de Vanderlei Pereira foi gentilmente enviado à redação pelos jornalistas Beto Previero e Moisés Santana, da Tambores Comunicações Assessoria de Comunicação estabelecida na Capital de São Paulo, aos quais agradecemos! 

Vanderlei Pereira lidera a banda com sua bateria, é autor de algumas músicas e faz os arranjos. A formação da Blindfold Test é variada e agrega desde brasileiros residentes em ou de passagem por Nova York, como Jorge Continentino e Rodrigo Ursaia (sopros); Gustavo Amarante e Itaiguara Brandão (baixos); e os norte-americanos Susan Pereira, esposa de Vanderlei (voz e percussão), Deanna Witkowski (piano) e Paul Meyers (violão).

Sobre os desafios com sua deficiência, Vanderlei Pereira tenta manter unta atitude positiva. “Tive que lidar com a perda quando já trabalhava como músico”, observou. “Levou mais de 20 anos para aceitar a cegueira completamente e para desenvolver a capacidade de ver as coisas com positividade”,  emendou. “Tento compartilhar um pouco desse otimismo, odiaria pensar que sentem pena de mim: sou cego, mas tenho minha própria maneira de ver as coisas.”

Natural de Macaé (Rio de Janeiro), Vanderlei Pereira é de uma ‘família musical’. Seu pai, Licínio, tocava violão e seus irmãos Dirceu, baixo, e Dulcilando, sax. Este último, conhecido como ‘Maestro Macaé’, tocou em discos e apresentações de Chico Buarque, Simone, Adriana Calcanhoto e Djavan. Eram os anos 1970 e Vanderlei quis seguir o mesmo caminho do irmão na capital do Rio de Janeiro. Como tinha estudos em música clássica, além de tocar bateria em bandas de jazz, MPB e pop, conseguiu estágio na Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), participando de concertos com regência de Isaac Karabtchevsky, por exemplo. 

Uma das formações da Blindfold Test

Uma das formações da Blindfold Test: em pé, da esq. para a dir.,  Jorge Continentino, Susan Pereira, Paul Meyers, Gustavo Amarante, Deanna Witkowski e, sentado, Vanderlei Pereira (foto: Janis Wilkins)

À medida que a retinite pigmentosa que o cegou progredia e ele sentia que a visão se deteriorava, percebeu: não poderia continuar atuando no campo clássico por não conseguir ler partituras. Passou a atuar mais com música popular, trabalhando com Leila Pinheiro, Sivuca, Rildo Hora e Johnny Alf, entre vários outros.

Em 1988, desembarcou em Nova York, onde, além de estudar, tem atuado com artistas brasileiros que vivem naquele país tais quais Dom Salvador, Bebel Gilberto, Airto Moreira & Flora Purim e Antonio Adolfo, dentre outros. Em seu currículo se destacam, ainda, aulas de ritmos afro-cubanos com Bobby Sanabria — que escreveu o texto do encarte do cedê — e jazz, com John Riley e Vernel Fournier, todos norte-americanos.

As músicas de Vanderlei Pereira trazem influencias diversas. Ponto de Partida mixa partido-alto com jazz, enquanto O que Ficou é, segundo Vanderlei, “um samba lento com toque saudoso de bossa nova”. De Volta à Festa toma como inspiração um amigo nova-iorquino que passou um carnaval em Recife (PE), adorou o frevo e quis dançar na rua. “Ele gostou de tudo, mas dançava muito desajeitado. Isso me estimulou. Intencionalmente quebro regras do frevo, tendo como influencia bateristas de jazz, alterando o fraseado comum do Brasil para o daqui.”

Já em Vision for Rhythm quis um solo. A bateria nasceu no jazz e tem possibilidades além do ritmo. Aqui se ouve um diálogo melódico entre tambores e caixa. Há também no álbum obras de Airto Moreira (Misturada/Mixing), Antonio Adolfo (Partido Leve) e Edu Lobo (Corrupião/Orioleg) e outros. Vanderlei afirmou diante do resultado que um velho sonho se tornou realidade. “Fiquei fascinado quando ouvi Mistura na adolescência, um samba em 7/8 em vez de 2/4; em Partido Leve optei por um andamento mais lento que o original, e dei um quê de John Coltrane na faixa inteira, e Corrupião é a fusão do baião, coco e forró, com o ‘approach’ do jazz”.

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